(2001) Alex: Previsões para 2002

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Minha avó me mandou ver sua amiga Reese, que faz remédios, poções e é super entendida de química e tem um laboratório de metanfetamina no quintal de casa. É tão entendida, diga-se, que a minha avó fala que não entende como ela nunca ganhou um prêmio Nobel. Mas eu não fui lá porque precisava de remédio, poção nem aula de química. Eu fui pra ela jogar tarô. É que a minha avó viu nas folhas do chá do café da manhã que 2002 vai ser um ano muito crucial na minha vida, então eu respondi que, se ela podia ver isso, também podia ver por que o ano que vem vai ser tão crucial assim, e minha avó respondeu que seu conhecimento de folhas de chá é genérico e o conhecimento da Reese de tarô é específico.

Bom, eu vim.

-As engrenagens da sua vida já estão em andamento – Ela disse, aérea.

-Tipo vou fazer um curso de mecânica? Assim, não me importo, gosto de aprender e tal, sei de cada coisa que até Deus duvida, a maioria bem inútil, mas sei, mas se for fazer um curso de mecânica a Malu vai ter de me dar um adicional, certo, embora eu não consiga imaginar por que usaria mecânica pra trabalhar pra ela, e tudo bem que eu não faço porra nenhuma lá, a não ser que ela queira que eu aprenda a consertar o videogame do Victor.

-Não é esse tipo de engrenagem.

-Então vou virar um ciborgue?

-Não, quis dizer que as mudanças na sua vida já começaram a acontecer.

-Ah, tá.

-Vejo um homem.

-Oba! É lindo?

-Não dá pra dizer.

-Mas tipo, é um homem que eu vou conhecer ou o novo amigo que eu fiz?

-Não dá pra dizer.

-Mas o que dá pra dizer? Porque assim, pra um homem novo eu posso dar, o amigo novo eu não posso, e sou muito sensual e sexual...

-Certo.

-Avassaladoramente.

-Ok.

-E preciso saber se vou fazer sexo em 2002.

-Alex, você é uma menina bonita de vinte e três anos. Por que você não faria sexo em 2002?

-Verdade. Mas se o que você disse é tão óbvio assim, quero um abatimento na consulta.

-Não precisa ficar mendigando trocado, ele é um homem de posses.

-Sério? Ele possui o quê?

-Hum... Posses. Bens materiais.

-Preciso de detalhes. Porque ele pode possuir um clipe de papel ou um jatinho, e tudo bem que clipe de papel pode ser muito útil pra prender papel, mas isso eu tenho, quero dizer, não tenho, mas posso pegar da Malu. Ela é pão dura, mas certeza que não me negaria um clipe de papel.

-Ele é rico, caralho!

-Ah, legal. Rico-rico ou rico se for comparar comigo? Todo mundo é rico em comparação comigo, sabe?

-Você vai ter filhos.

-Com o homem rico? Porque se for filhos de um pobretão não tem como espremer mais nem um colchão no meu quarto, quanto mais um berço. Eles vão nascer ainda esse ano? Filhos levam um tempo pra ser gestados e tal, e no plural vai ser meio corrido, a não ser que eu tenha filhos prematuros de seis meses, ai dá pra espremer dois em um ano. Ai, meu Deus, eu tô grávida?

-Não sei, mas vejo um lugar paradisíaco e nada vai acontecer antes de alguma coisa relacionada a água.

-Como água da bolsa do líquido amniótico?

-Parece mais um naufrágio.

-Eu vou morrer?!

-Não, mas uma pessoa que você confia vai tentar te matar.

-AI MEU DEUS VOU SER ASSASSINADA PELA MINHA AVÓ EM UM PARAÍSO!

-Pode ser que sim, pode ser que não, então é melhor você pagar logo a consulta.

Nota da autora: Se a Alex fosse menos avoada e se lembrasse de qualquer coisa dessa consulta, ao fim de 2002 ela veria que todas as previsões se tornaram realidade. Reese só não previu que seus conhecimentos de química não lhe renderiam um prêmio Nobel, e sim uma prisão.

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Este é o último POV da Semana da Alex. A partir de segunda feira, 9/11, começa uma nova semana de outro personagem. O nome e os títulos dos POVs serão divulgados domingo, 10/11, no grupo Realidades Paralelas da Mari


O Lado Escuro da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora