4. A verdade.

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VERDADE

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
- Carlos Drummond de Andrade

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Minha mãe ainda não chegou, provavelmente ela está na casa do namorado.
Pouco me importa o que ela está fazendo agora, assim como ela não se importa em saber o que eu estou fazendo.
Vou me arrumar pra ir na casa de Maria. Parece ser uma boa ideia ir pra lá.
Coloco uma calça jeans preta, uma camiseta cinza e uma bota preta que vai até a metade da batata da perna.
Solto meu cabelo, que é um pouco mais pra baixo do ombro e saio.
Pego um ônibus até a casa de Maria.
Chego no tal endereço e toco a campainha.
Uma mulher alta de cabelos longos escuros, atende.
"Você é a Camila? Maria me falou muito de você, entre querida." Ela deixou um espaço para entrar.
"Licença, sim, sou Camila." Sorri e entrei na casa. Não que aquele sorriso fosse falso, mas também não era um dos mais verdadeiros. Também, qual seria meu motivo pra sorrir?
"Irei chamar Maria, fique a vontade." Ela disse me tirando dos meus pensamentos. "Ah, me chamo Catarina." Balancei a cabeça concordando. E ela sobe as escadas.
A casa de Maria é realmente muito linda. É grande e a decoração parece cara.
Algum tempo depois Maria desce junto com sua mãe.
"Oii Cams, que bom que você veio. Vamos para o meu quarto." Ela me pega pela mão e me puxa para as escadas sem ao menos deixar eu responder.
Seu quarto era lindo. Tinha uma cama de casal bem no meio do quarto, ao lado da cama havia um criado mudo branco. Seu quarto é totalmente roxo.
"Maria, seu quarto é lindo!" Digo admirada com tudo aquilo.
"Ah, valeu, senta aí." Ela disse se sentando na cama. Sentei ao seu lado. "Então Cams, me conte mais de você, sobre você, suas músicas preferidas, suas bandas preferidas e essas coisas." Ela disse e ri fraco, eu a acompanho.
"Bom, eu tenho 12 anos, meus pais são divorciados, minha mãe está sempre ocupada então passo muito tempo sozinha já que não tenho amigos, minha banda preferida é One Direction, minha música preferida atualmente é Dollhouse, e... ahn, acho que é só." Sorri sem mostrar os dentes pra ela e logo em seguida olhei pra baixo. Ela ficou calada, parecia absorver alguma coisas que eu disse.
"Uau, pra mim você era aquelas meninas frescas ou algo do tipo." Ela faz uma pausa e levanta minha cabeça com as duas mãos, ela coloca suas mãos em meus ombros e começa a falar novamente mas dessa vez olhando no fundo dos meus olhos. "Provavelmente você guarda muita coisa aqui." Ela coloca a mão no meu peito do lado do coração. "Então se quiser botar tudo para fora, estou aqui. Consigo ver em seus olhos que você não está bem." Uma lágrima solitária cai de meu olho esquerdo, olho para baixo e ela leva a mão em meu rosto enxugando a lágrima.
Não vou contar toda a verdade, porquê se contar ela vai querer me ajudar e eu não quero ajuda, não mesmo.
"Prometa que não irá contar para ninguém." Ela faz que sim com a cabeça e eu continuo. "Bom, aos seis anos meus pais se divorciaram, e foi aí que tudo começou..."
Contei para ela quase tudo que eu tinha sofrido e ainda sofro, deixei de lado coisas que eu acredito que se contasse ela iria querer me ajudar. Ou seja, lhe contei apenas meia verdade.

Depois de uma tarde de confissões, descobri que Maria é confiável. Não sei se é totalmente mas aparentemente, sim.
Ela me contou vários segredos, entre eles que ela é bissexual, ela disse que sou a primeira pessoa a saber, sinto que ela também só contou meia verdade sobre ela.
Chego em casa, tomo banho e vou para o meu quarto.
Minha mãe não havia chegando ainda, pouco me importa ela agora, sei que não está pensando em mim.

Assisto um pouco de TV e decido descansar, então desligo a TV e me ajeito na cama.

Maria é uma ótima amiga.
Me sinto mal por não contar toda verdade à Maria.
Mas ainda não é a hora de abrir totalmente a porta da verdade. Quando eu achar que ela é totalmente confiável eu lhe abro a porta da verdade, assim ela poderá ver a luz e a escuridão que há atras dessa porta, lá há fogos, há fogo, há pesadelos e sonhos impossíveis.
Conheço ela faz uma semana. É pouco tempo mas já está parecendo uma eternidade.
Tudo parece que está indo lento, quase parado.
Com esses pensamentos adormeço.

Bom gente, nesse capítulo eu me inspirei no poema de Carlos Drummond. Que é um dos meus favoritos. Mas enfim, eu queria agradecer as pessoas que estão lendo. Isso é muito gratificante para mim.
Estar escrevendo A Pequena Suicida é totalmente inovador para mim, até porquê não é muito um gênero que me chama atenção.
Bom é só isso mesmo.
Se gostarem deixe seu voto por favor que ajuda muito. ❤️

Queria indicar a história da AnnieParis9  que é a Amor Platônico.
É totalmente incrível.

Então é só isso, obrigada por ler e beijinhos ❤️ 

A pequena suicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora