Prólogo

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É engraçado como a aula de literatura, que era a minha favorita, começou a virar um tédio. Ábila, a antiga professora, foi afastada da escola por causa de uns problemas de saúde que a coordenação da escola não entrou em detalhes. Sinto por ela, em toda aula ela tirava dez minutos para falar como amava ser professora de literatura e como a literatura era "metade do seu pequeno e imenso coração", palavras dela. Claro que a maioria dos alunos riam dela, zoavam ou davam de ombros, mas eu achava incrivelmente encantador.

A professora substituta aparentava ser nova, não chegava aos seus 30 anos e claro, como todo professor substituto, ninguém a respeitou no seu primeiro dia de aula, e pior, como era uma mulher, recebeu todo tipo de cantanda. Percebi todas as expressões dela de incomodo e como estava se sentindo desconfortável. Eu também. Me causava um incômodo toda aquela estupidez dos meus colegas, afinal eu queria conhece-la.

Ela se apresentou, se chamava Georgina e como eu disse, tinha 27 anos. Não conseguindo manter o controle da turma, finalizou a aula mais cedo e sentou-se na cadeira como se estivesse cansada, suspirando. Gostaria de me apresentar, mas minha timidez me fez ficar três minutos a mais na sala perguntando-me se deveria ir falar com ela ou não. No fim, não fui. Apenas passei direto na frente da sua mesa e fui em direção a porta.

O corredor estava quieto já que era dez minutos mais cedo que o intervalo. Dei um suspiro de alívio. Abri o meu armário e dei de cara com um espelho que coloquei na porta. Sempre me esqueço que o pus ali.

Me chamo Ariel. Ariel, a Pequena Sereia. Mentira. Eu odeio conto de fadas, não acredito em sereais e meu cabelo não é vermelho. Ao contrário, eles eram cor castanho claro, liso encaracolado. Encarei-me no espelho e os meus cabelos estavam num coqui totalmente bagunçado. Me perguntei se passei as primeiras horas do dia assim. Soltei-o e tentei ajeita-lo, piorou. Dei de ombros. Meus olhos estavam irritados, talvez o meu grau tenha aumentado. Meu médico sempre me disse que pelo fato dos meus olhos serem claros, num tom de mel, eram mais sensíveis.

Arrumei as coisas no armário e senti minha visão ficar escura. Toquei nos meus olhos e senti mãos. Logo sorri.

- Para, amor – eu disse rindo.

- Você sempre adivinha que sou eu – disse Sean enquanto me tirava as mãos. Me virei e o dei um selinho demorado.

Sean é o meu namorado a dois longos anos. Ele é mais alto que eu e eu sou tipo alta para caralho (mais precisamente, 1.76). Ele é moreno, cabelo preto na altura dos ombros sem corte, o que o deixava lindo quando fazia um coqui atrás. Barba grande que eu o fiz prometer nunca tirar, pois amo barbas.

Falando mais do Sean, ele era completamente o oposto de mim. Eu gosto de preto, ele de branco. Eu gosto de terror, ele tem medo (sim, acredite). Eu odeio esportes e ele é viciado em futebol, inclusive é capitão do time de futebol da escola. Aprendi a gostar um pouquinho de futebol por conta dele. Eu amo ficar em casa lendo ou assistindo um filme, ele prefere festas. Eu amo rock, ele pop. Sim, não combinamos em nada, nada mesmo, mas é a prova que os opostos se atraem. O amo tanto que essas coisas passam despercebidas, e ele o mesmo.

Sorri ao pensar nessas coisas e logo parei de pensar quando ele interrompeu meus pensamentos.

- O que foi, meu amor? – ele disse sorrindo.

- Nada, to pensando no quanto amo você – eu respondi o beijando e sentindo o seu coração acelerar, mesmo namorando à 2 anos. Isso que me mata.

Ok, chega de melação até por que tocou o sinal e em um piscar de olhos o corredor encheu-se. O silêncio que eu tanto almejava já era.

- MEEEEU AAAAMOOOOOR – ouvi uma voz e imaginei que era para mim, até por que não demorei um segundo para reconhece-la. Era a minha melhor amiga, Alex.

Meu eu em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora