Capítulo 1 - Mama

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Era uma grande casa, linda mansão com seus muitos dormitórios e cômodos. Quadros de Niccolò e Francesco Primaticcio em cada hall, juntamente com imagens de Cristo na cruz e da Virgem Maria, fixavam fortemente a presença católica.

A governanta da casa, Maria, foi para a sacada da casa, colocou a mão na testa protegendo os olhos do sol, procurou de um lado depois do outro. Em seguida soltou um murmúrio de alívio colocando as mãos na cintura, enfim encontrou Giulia, a pequena garotinha de apenas 5 anos com cachos dourados que corria de ponta à ponta da casa, com seu vestido branco e laço amarelo, sapatilhas brancas e silenciosas. Ela não dava descanso à Maria, uma criança típica, cheia de energia.

Todos os dias a governanta tinha que procurá-la em cada cômodo e em cada armário. A pequena Giulia brincava de esconde-esconde, mas Maria participava involuntariamente.

Giulia passou correndo pela sala de estar com o chão revestido de madeira, tão brilhoso e encerado que comumente a criança escorregava e caía, em seguida vinha aquele choro que parecia ecoar a quilômetros de distância, porém essas lágrimas que jorravam cessavam assim que a governanta pegava a pequena no colo, dava-lhe um beijo no machucado e dizia "pronto, sarou!".

Governanta Maria era responsável por cuidar de toda a mansão Amorin, ela contava com a ajuda de, aproximadamente, 20 funcionários, fora o jardineiro que tinha rotina de trabalho próprio e mais autonomia. Ela precisava coordenar as atividades diárias da limpeza e organização, recebimento de recados, e certificar de que tudo ocorresse bem.

Ao menos, tinha pouco trabalho com as refeições já que raramente os Amorins estavam em casa. Maria tinha como maior responsabilidade e trabalho árduo, cuidar de Giulia, mas essa função, com toda certeza, era a preferida dela.

Giulia Amorin, a pequena menina de cachos dourados e olhos redondos, teve o privilégio de nascer e ser filha única de família rica do norte da Itália. Seu pai era um homem que trabalhava com terras férteis, não cultivava alimentos ou algo assim, mas vendia e comprava essas tais terras. Fazia negócios principalmente com cultivadores de vinhos em Vêneto e norte do país.

O nome da garotinha era em homenagem a esse homem chamado Giulio Amorin, muito conhecido na Itália. Giulio raramente estava em casa, quase impossível com a agenda de negócios que tinha. Quando Giulia nasceu ele prometeu que diminuiria suas atividades para dar atenção ao filho, essa promessa durou até seu primeiro ano. Eles comemoraram o aniversário da criança e no dia seguinte o pai pegou um avião para Vêneto onde permaneceu durante seis meses. E desde então via a garota uma vez a cada 4 meses, se muito.

A mãe de Giulia, na verdade, não queria ter filho algum, mas não aguentou a pressão da família tradicionalista onde se tinha fileira de filhinhos, um atrás do outro. Gerou Giulia para agradar a família e provar ao marido que podia ter filhos. Ambos queriam menino, "será um grande homem de negócios, como o papai! ", dizia sr. Amorin antes de saber o sexo da criança.

Após um ano de idade Giulia deixou de ser novidade, a vida profissional do pai, e a superficial da mãe, ficou mais interessante. A menina foi entregue aos cuidados da governanta, não com comunicado verbal ou formal, mas de forma discreta, aos poucos.

Quando Giulia tinha por volta de um ano e meio, algumas vezes sua mãe chegava em casa embriagada de madrugada nos braços de algum rapaz. Sempre eram rapazes diferentes, porém de semelhante beleza e jovialidade. Eles a deixavam no quarto, em seguida iam embora. Era quando a mãe procurava pela governanta Maria para saber sobre a menina. Apenas questionava se estava bem e se estava sendo alimentada corretamente, ao que a governanta dizia:

— Não quer ir lá dar um beijo nela? Faço-a dormir outra vez rapidinho!

A mulher olhava quase com cara de nojo para a governanta e logo recusava a proposta com a desculpa de estar cansada e bêbada. No dia seguinte nem sinal da sra. Amorin, logo cedo não estava mais em casa.

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⏰ Última atualização: Mar 05, 2021 ⏰

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