O Banco

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"Perder um ente querido para a morte, sofrer um acidente de transito, pisar num chiclete mascado na rua, menstruar usando uma calça branca, é triste. Porém, mais triste ainda é o dia de ir ao banco".

Aquele parecia apenas mais um dia como outro qualquer. Acordei, levantei, escovei meus dentes amarelados pela cafeína, fiz minhas necessidades fisiológicas e tomei um banho rápido, pois sempre acordo atrasada de propósito para dar mais adrenalina. Vesti meu uniforme sem graça que era um camisete branco com a logo da empresa bordado no bolso do lado esquerdo e uma calça preta bem justa para que minha bunda ficasse em evidência atraindo mais clientes. Calcei uma sapatilha preta e deixei os cabelos soltos levemente ondulados. Taquei uma maquiagem simples na cara só para tapar as olheiras e amenisar minha cara de morta e depois me dirigi a minha sensala onde Nho-patrão me aguardava para administrar as chibatadas diárias.
Meu setor era produção/corte em uma gráfica, mas para economizar funcionários, 2x por semana eu era explorada como office girl.
Naquele dia, assim que adentrei o estabelecimento de onde eu tirava auxílio monetário para pagar minhas dívidas em compra de sapatos, meu agraciado patrão Carlos Daniel me informou:
_ Hoje você vai fazer banco.
Respondi:
_ Bom dia para você também desgraçado sanguessuga! (Mentalmente)
Na real, eu apenas sorri. Um sorriso largo, convincente e satisfatório.
Às 10h. eu ja estava ali, naquele banco. Dei uma rápida averiguada no local e constatei que não estava lotado. Haviam apenas 3 ou 4 vacas magras à frente da senha que adquiri.
Procurei por um acento próximo aos caixas, bem na frente e acomodei minhas nádegas de maneira suave procurando um meio confortável de me encostar. Saquei meu celular para repelir qualquer forma de puxação de assunto de pessoas estranhas sobre o calor, a chuva ou a Dilma. Me acomodei ali e aguardei, aguardei.... aguardei.
E então percebendo que seria a próxima, me preparei para levantar e desfilar suavemente de maneira sedutora até o caixa, ajeitando minha calça apertada para evitar mostrar meu cofrinho para desconhecidos.
Foi então que um sinal suave tocou e a moça do caixa anunciou:
_ Pumblum!... _P023!
Mas minha senha dizia C246, uma coisa não tinha nada a ver com a outra! Deve haver algum engano! Mas, não. Logo percebi que era uma senha preferencial. Avistei ao longe, se arrastando, corcunda, apoiando-se em uma bengala velha comida pelas traças, uma senhora de aproximadamente 104 anos-luz, com andar desengonçado e sofrido, provavelmente provocado pela ação de hemorróidas irritadiças. Ela se aproximou e dominou aquele lugar que era meu. Pensei:
_ Tudo bem, coitada. Ela tem mais pressa, pois não tem mais muito tempo para curtir o mundo dos vivos.
Voltei a sentar e esperar. Na próxima chamada, novamente fui levantando e...

Continua...

Contos de uma mente insanaOnde histórias criam vida. Descubra agora