Essa pode parecer só mais uma daquelas histórias clichês, onde a mocinha aparece pela primeira vez na cozinha, conversando com sua mãe e comendo maçã. Mas cada história segue um rumo e a minha, que seguia em linha reta, passou a fazer curvas bem malucas.
Meu nome é Helena Drummond, uma garota qualquer "vivendo" os seus 17 anos. E lá estava eu, naquela manhã de domingo, sentada no balcão da cozinha e pensando em como minha vida era insignificante.
Até aquele momento eu não era o tipo de pessoa com muitas histórias para contar. Isso acontecia principalmente pelo fato de eu estar morando numa cidade do Paraná, tão pequena e sem atrativos, que chegava à conclusão de que a melhor saída seria eu passar o dia todo em casa, assistindo à todas as séries que existem no mundo. Não que eu reclamasse da minha vida "super excitante", mas no fundo eu só aguardava uma oportunidade de viver algo louco.
Dezembro foi o mês do meu adeus à escola. E depois disso, o que fazer? Eu pretendia entrar numa faculdade, mas não sabia qual. Precisava me descobrir e tinha até o fim das férias para isso. Esse foi o tempo determinado pela minha mãe para eu decidir o meu futuro. Caso eu não escolhesse logo, teria que cursar Administração, que era a sua vontade. Que saco!
- Lena? - minha mãe chamou, tirando-me do transe.
- Er... Oi, mãe - consegui falar, acordando.
- Você ouviu o que eu falei?
- Não. O quê? Desculpa - pulei do balcão e sentei à mesa, onde ela já estava sentada.
A mamãe era uma mulher alta, com 37 anos e muito bonita. Estava em plena forma já que praticava corrida todos os dias e com prazer. Diferente de mim que só fazia esporte na escola porque era obrigada. Seus cabelos eram negros como os meus, só que curtos.
- O Marcos ligou ontem à noite.
- Eu achava que ele não fazia essas coisas, dona Juliana - eu disse, pegando uma maçã e mordendo-a em seguida.
Quem come maçã de manhã? Pensei, largando a fruta lá e em seguida passando a Nutella no pão.
Ah, Marcos é o cara que colocou um espermatozóide dentro da minha mãe e depois foi embora. Daí eu nasci. Segundo ele, não havia condições de o mesmo sustentar uma família, então o infeliz simplesmente sumiu do mapa, deixando a mamãe sozinha e bem grávida.
Nesse tempo ela morava com seus pais. E foi uma barra. No começo da gravidez eles estavam em estado de negação, sem acreditar que sua única filha estava grávida tão jovem e ainda por cima seria mãe solteira. Mas depois passaram simplesmente a apoiar. O mal já estava feito.
Após meu nascimento minha mãe teve que começar a trabalhar e eu ficava com vovó o dia todo. Isso durou quase quatro anos e eu estava entrando na escola. Foi quando Marcos entrou em contato, dizendo que iria ajudar na minha educação, já que estava melhor de vida.
Mamãe conta que "ajudar na minha educação" para ele significava mandar dinheiro e ela não pôde recusar. Mas nunca passou disso. Até aquela manhã.
- Também estranhei. Mas o fato é que nós passamos um tempo conversando - a mamãe disse, olhando fixamente a torrada na mesa.
- O que ele queria? - perguntei, fingindo não dar muita bola para aquela conversa.
- Você sabe que ele mora agora no Nordeste. Ele está estabilizado e lá é bem tranquilo - ela fez uma pausa.
- Mãe...?
- Talvez você não ache uma boa ideia. An... Mas pode ser interessante você passar suas férias com ele.
- Não - afirmei, sem pestanejar, como se não houvesse outra resposta.
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O Verão de HELENA
Teen Fiction"Essa pode parecer só mais uma daquelas histórias clichês, onde a mocinha aparece pela primeira vez na cozinha, conversando com sua mãe e comendo uma maçã. Mas cada história segue um rumo e a minha, que seguia em linha reta, passou a fazer curvas be...