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Somente agora fui me deparar com o fato de que eu não sabia para onde Matthew tinha ido, o que era bem estanho por alguns motivos. A) estranho por ele não ter me contado e B) por eu não ter perguntado o que me leva a C) como eu poderia ter esquecido de uma coisa dessas?

O que será que Matthew tinha de tão importante para fazer no lugar pra onde ele foi sendo que acabou de se mudar? Ele não poderia ter enviado logo o nome do lugar ao invés das outras três mensagens?

Mas não é nada demais, resolvo esquecer isso. Seja lá o que ele fora fazer, é importante somente pelo fato de parar de falar comigo.

Agora já estava em casa. Acho que por ser um lugar mais rural, o ônibus era bem barato e consegui pagar sem problemas. A hora que cheguei já era próxima da que minha avó chegava também, então resolvi ficar acordada até a velhinha aparecer

Deitei no colchão do canto silenciosamente, pois minha mãe e Theo já dormiam. Passaram-se uma hora e meia e nem sinal da mulher. Estava ficando tediosa de tanto bloquear e desbloquear a tela do celular, vendo a hora um milhão de vezes sem ter nada para fazer, e esse tédio pesou em minhas pálpebras fazendo-as se fecharem e sonharem.

Ao redor, só havia chamas. Chamas em todo o lugar, aumentando o calor e a poluição que já haviam chegado bem antes. A Alexia do sonho olhava em volta, girando sem parar, procurando por algo ou alguém. No meio do fogo, apareceu Matthew, que sorria, mas não era de felicidade; pude sentir que não era nada bom.
A Alexia do sonho virou-se novamente, e jogado ao longe, uma flor nas mãos, estava Theo. Sujo, ensanguentado, extremamente magro, o cabelo queimando.

A visão ficou embaçada, o que me levou a perceber que a garota que observava chorava. ela desviou o olhar, não conseguindo manter os olhos naquela triste cena. Assim que mudou de lugar, apareceu uma cama no meio do cenário. Haviam pessoas correndo, gritando, chorando, algumas até rindo. Haviam homens da guarda com escudos por toda a parte. Eles lutavam contra as pessoas.

Fogo. Por toda a parte.

A cama se destacava por ser algo que aparentemente não estaria ali. Os lençóis estavam sujos e molhados em alguns pontos. O travesseiro era fino, e estava sob um rosto que logo reconheci. Os olhos de minha mãe estavam abertos, porém sem vida. Olhava para cima; uma mão no pescoço, a outra tombando para fora da cama; uma baba grossa e rosada já seca caía no canto de sua boca.

Então, de repente, os gritos pararam. A Alexia do sonho girou, olhou para todos os lados, mas estavam todos caídos, mortos. O sinal de um trovão numa bandeira ao lado da jovem balançava por conta do vento.

Apareceram guardas que me cercaram. O som dos gritos foram substituídos por explosões ao longe, que iam aumentando de volume, chegando mais perto.

Bum...

Bum..

Bum.

Encolhi-me, segurando com punhos cerrados a bandeira brasileira que estava em minhas costas, como uma capa.

A visão do cenário muda. O rosto da Alexia do sonho atinge o chão, sentindo as pequenas pedras e a terra nas bochechas.

Bum...

Bum..

Bum.

Sinto cheiro de fumaça, terra queimada e perfume de margarida. Olho para minhão, que segurava a mesma flor que estava com Theo.

O som de explosão aumenta cada vez mais. Minha respiração fica cada vez mais ofegante.

Silêncio.

Olho para o céu, e vejo uma bomba, prestes a explodir, prestes a me atingir.

A Alexia do sonho fecha os olhos com força. Mas eu abro meus olhos com todas as minhas forças.

Sento-me no colchão. A respiração pelo nariz não bastava, o ar entrava em grandes porções pela minha boca. Minha pele estava extremamente molhada de suor, e meu coração disparado.

Olho em volta, reconhecendo o ambiente e sentindo um alívio grande em reconhecer que foi apenas um sonho. Parcialmente.

No lado de fora, podia ouvir o som de explosões ao longe. Era isso que havia me acordado. Já estava começando a achar isso normal.

Deitei novamente, e deixei que meus olhos se fechassem com calma, tranquilos, seguros, e errei ao não perceber que a cama de minha avó ainda estava vazia.













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