Durante tanto tempo sendo rejeitada pelos inúmeros casais que passavam por mim como se eu não existisse, eu finalmente fui adotada. Eu sempre sonhei com uma família em ter uma família, eu perdi a conta de quantas vezes pisaram no meu sonho, dizendo que eu fui abandonada, que minha mãe não me quis e que eu não era nada além de uma noite que rendeu além da conta. Eu sabia que chorar não adiantaria nada porque lá no fundo eles tinham razão, pouca. Mas tinham.
Eu passava horas e horas grudada no portão do orfanato, vendo as crianças da minha idade passear com seus pais...sempre sorrindo. E quando eu estava prestes a desabar sempre tinha alguém do meu lado para me apoiar no que eu precisasse.
Eu me considero forte por sempre estar de pé e determinada a nunca fraquejar. Quantas vezes eu já não havia visto pessoas que tinham de tudo reclamando da vida, o que não fazia sentido! Eu sempre estava querendo aprender coisas novas e me preparando para o futuro, sempre querendo avançar mais e mais. Meu sonho era terminar a faculdade para me tornar alguém, assim ninguém nunca mais iria zombar de mim, como se eu fosse algo descartável. Eu queria ser bem sucedida e respeitada por minha sabedoria.
E estava no caminho certo, com certeza eu logo alcançaria meus objetivos. Todos eles. Ninguém iria me impedir de alcançar meu objetivos, ninguém! Se for preciso eu aniquilo quem quiser me pisar, seja lá quem for, eu não deixaria nada e nem ninguém atrapalhar meu caminho.
— Dulce ? Querida, está na hora do café. Não se atrase. Eu quero dar uma passadinha no shopping antes do Christopher chegar de viagem.
— Claro senhora Uckermann, só vou me vestir e já lhe encontro. — gritei para que ela me ouvisse do outro lado da porta.
— Não me chama de senhora... não estou tão acabada assim, além do mais eu poderia ser sua irmã! — falou ela brincalhona e logo em seguida saiu.
Eu já estava em sua casa há duas semanas e tanto ela como seu marido me tratavam como se eu realmente fosse sua filha. Eu nunca pensei que esperar tanto tempo valeria a pena. Quando desci o senhor Uckermann já havia ido trabalhar, só deu tempo de engolir alguma coisa pra não ficar de estômago vazio.
***
— Alexandra, como seu filho é? — perguntei. Estávamos a caminho do aeroporto.
— Ele tem uma personalidade irritante que vai só piorando ao longo dos anos. É um moleque devasso que faz de tudo pra tirar seu pai do sério. Não nos obedece e seus amigos não ajudam, há alguns meses ele começou a se embebedar, foi por essa razão que nós o deixamos viajar, pra ver se ele esfria a cabeça um pouco, sabe ? — suspirou triste.
Como uma pessoa tão boa como ela tinha um filho como aquele ? Ela é tão gentil e simpática...simplesmente não dá pra acreditar.
— Está me dizendo que ele é um rebelde ? — perguntei.
Ela até ia responder, mas no momento em que abriu a boca o seu celular tocou. Ela olhou para a tela e suspirou novamente.
— Aconteceu alguma coisa senhora ? — ela deu uma risadinha e pediu para o motorista voltar para casa.
— Está tudo ótimo querida. Não se preocupe — segurou minha mão.
Ela ficou pensativa por um instante, sorriu e balançou a cabeca. Ela estava lembrando de algo, toda vez que ela me olhava fazia isso. Alguns segundos depois ela me olhou novamente nos olhos.
— Tenho um presente para te dar Dulce... — eu ia começar a rejeitar o presente quando ela me interrompeu — e não aceito não como resposta. Se você não aceitar eu ficarei muito ofendida.
— Mas senhora, não precisa me dar nada. Eu já sou muito grata por tudo que você fez por mim e realmente não preciso de mais nada. Sério. --- respondi sincera.
— Eu ficarei imensamente grata se você aceitar, além do mais já impus minha condição.
Ela era mesmo uma pessoa persistente, nunca conheci alguém tão legal como ela, onde eu vivia só tinha mulheres chatas e sempre de mal humor. Sempre diziam que odiavam crianças e que o salário não era digno daquele esforço, com exceção de algumas, todas elas eram razinzas e de mal com a vida.
Talvez fosse a falta de sexo....
Sorri. Eu e minha consciência.
Quando chegamos em casa, a dona Alexandra me pediu para subir para o meu quarto, e que ela logo buscaria meu presente. Depois de um tempo ela chegou com uma bandeja de lanche e me entregou, eu estava mesmo com fome e não seria capaz de ir comer algo na cozinha por vergonha. Após terminar o lanche, ela pegou a banjeja e a colocou em cima de uma mesinha.
— Não precisa ter vergonha de mim querida. Eu estou aqui para o que precisar. Não tenha vergonha de me pedir nada, eu lhe darei o desejado sem exitar. Também não tenha vergonha dos empregados ou do meu marido, eles não vou te fazer nada. Quando quiser comer algo, vá a cozinha ou peça para uma das empregadas pra lhe servir, afinal, elas são pagas para servir os donos da casa, e como você agora é minha filha, você também é dona daqui.
— Senhora...
— Não me chame assim querida, eu sou nova demais para isso! — sorriu.
— Obrigado. — sorri também.
— Eu quase ia me esquecendo! — se levantou e pegou algo fora do quarto. — aqui está seu presente.
— Um violão?
Meus olhos brilhavam, meu sonho sempre foi ter um violão, porém, no orfanato não podia ter essas coisas. Era tudo muito rígido por lá.
— Sim, não é magnifico?! Uma das senhoritas do orfanato me disse que música era um dos seus hobbys favoritos...Espero que tenha gostado! — disse ela dando palminhas.
— Eu amei! Obrigado senhor...er Alexandra. Eu gostei muito, de verdade! Mas...
— Mas...?
— Mas eu não posso aceitar. É lindo! Mas deve ter custado muito.
— Aproveite o seu presente querida. E durma logo, amanhã suas aulas começam. Esteja pronta as sete, quero tomar café da manhã com você. — dito isso ela saiu.
Eu mal podia acreditar que amanhã eu estaria numa escola, uma escola de verdade! Esperei tanto por esse momento, que mal conseguiria durmir de tanta ansiedade. Olhei para o meu violão. Ele era lindo! Era todo branco com detalhes em dourado, tinha flores e ramos seguindo elas na lateral das cordas. Meu nome estava gravado perto delas.
Eu rapidamente peguei minha caixinha de música e peguei meu colar que continha uma paleta na cor preta e comecei a tocar os primeiros acordes pra afinar o violão.
Eu fiquei tão impolgada que comecei a tocar 'Sweet child O'mine' à capela. Eu não fazia ideia do que me aguardava, mas agarraria toda e qualquer oportunidade de ser feliz. Principalmente se fosse ao lado dessas pessoas maravilhosas.
Depois de um tempo cantando guardei meu violão ao lado da cama e fui tomar um banho para dormir. Amanhã eu iria pela primeira vez a uma escola de verdade e estava muito ansiosa.
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Meu Meio - Irmão
Acak"Quando um amigo está disposto a fazer qualquer coisa por você é porque ele te ama de verdade, e quando você tem poucos segundos de vida e aquele amigo está por perto e não há nada que ele possa fazer para que você sobreviva a única coisa que você p...