Barbolandia, país perfeito. Ou país dos sonhos, como queira chamar. Pessoas no mundo inteiro desejam um Convite-Cor-do-Dia para poderem morar nesse país – ah, se você não sabe o que é um Convite-Cor-do-Dia, em qual buraco você esteve todo esse tempo? Nos últimos três anos não se tem falado de outra coisa nas revistas, nos jornais, no google. E, caso você saiba do que eu esteja falando, mas não dá a mínima, você tem todo direito – o direito de ficar calado!
As caixas de correio têm sido remexidas mais do que o normal ultimamente. Os carteiros nunca foram tão bem tratados. As agências de correio são um templo desde que Barbolandia foi criada. Semana passada o correio daqui de perto de casa deu pistas de que entraria de greve, devido más condições salariais, todavia, aumentaram o salário desses nobres profissionais ao triplo! – e concordei sem pestanejar, já que a intenção era que as cartas continuassem chegando.
Sinta-se a vontade e faça uma boa pesquisa. Está em todos os lugares, internet, televisão, revistinhas em quadrinhos. Não se esqueça de dar uma boa olhada nas revistas itinerárias de férias, lá você encontrará muito sobre as praias de Savana. Um mergulho nas águas do Oceano Atlântico, era tudo o que eu queria agora... e também tirar aquela fotografia típica debaixo d’água, com os peixes multicoloridos do Mar do Caribe. Você sabia que alguns desses peixes são venenos e pode causar até alucinação? Para programas mais frios, quem sabe esquiar nas montanhas de Salpicos não seria uma boa? Sim, naquela maldita ilha, como se não precisasse ser mais linda, tem neve! E quanto à Capital? Mansões, shoppings, restaurantes, parques de diversões e o BarboCombo!
Se vocês pensam que nunca fui à Barbolandia, estão enganados. Eis que transcrevo aqui, em primeira mão, minha aventura transcendental. Aconteceu enquanto eu analisava minha caixa de correios e comia um promocional da BarboCombo de peixes do Mar do Caribe - R$19,90 na promoção, com uma Coca-Cola light.
Em uma alucinante vertigem em minha mente, de repente me senti navegando em um cruzeiro transatlântico na direção da ilha. E o navio não está no mar, mas sim no céu, voando! E as nuvens são de cores amarelas e alaranjadas! Do meu lado direito existe uma chuva de peixes multicoloridos em queda livre, sucumbindo sem poder respirar; do outro lado está ele: o Capitão William Barba Sete Mares (quem encontrou a ilha) a bordo de seu velho navio, com seus dois marinheiros – um chinês e um mão-de-gancho – tentando bombardear com um canhão o transatlântico. Logo me vejo despencando de uma altura descomunal, minha barriga querendo vomitar todos os barbocombos que eu já comi! Estou na montanha-russa da Barboville, o parque de diversões. Para me socorrer daquela loucura, vem flutuando no ar um mordomo usando monóculos e smoking, pilotando um carrinho de bandejas com suculentos doces feitos de neve da montanha de Salpicos. O mordomo acha graça como um fantasma demoníaco, sua voz ecoa em minha mente em lapsos de cores e formas redondas. Sou transportado para uma sala grande, escura e fria, e me vejo sentado numa poltrona de couro. Do outro lado do salão existe uma figura masculina encolhida, vestido todo de preto, um ser miúdo e resignado, que dava dó só de olhar. Essa pessoa eu jamais consegui identificar quem era, que raiva. Mas tenho minhas desconfianças de que era alguém que eu conheço. Antes que eu pudesse descobrir, sou arremessado de volta ao alto, onde posso ver a ilha numa panorâmica incrível! A ilha tem o formato de um cérebro de um ser humano requintado, mas bem safadinho. Quando atingi o máximo de altura, me preparei para o mergulho inevitável e, ao fechar e abrir os olhos, me pego de assalto novamente ao meu lar, defronte à caixa de correios, onde tudo começou.
Meus caros, Barbolandia tem muito mais coisa para se ver, ouvir e lembrar. Minha viagem etérea a este país só me deixou mais curioso; tudo que vi e ouvi guardei para mim, como uma recompensa que jamais compartilhei com ninguém... até hoje. Todo mundo que deseja ir à ilha, certamente algum dia já teve um sonho bem inusitado com ela. Nunca esquecerei a visão do capitão flutuando em suas aventuras; do mordomo vindo para me salvar; e daquele rapaz encolhido no canto do Salão Escuro. Algo me diz que devo ajudá-lo. Quando eu for à Barbolandia, de fato, vou procurá-lo. Mas, antes disso, quem sabe, comerei mais alguns BarboCombos até vomitar.
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Fragilidades Barbolônicas no que concerne do tocante ao tocante
FantasyFragilidades Barbolônicas são crônicas sobre o mundo da Ilha de Barbolandia, sob diversas visões.