December

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Hinata tirou de cima de mim o meu cobertor e eu levantei assustada, tremendo de frio.
- Que abuso é esse? - gritei, me encolhendo. Não estava enxergando direito, então procurei os óculos que tanto odiava. Pisquei algumas vezes e consegui finalmente entender o que estava acontecendo. Na verdade, eu fiquei sem entender mesmo. O relógio marcava oito horas da manhã. O que diabos ela estava pensando em fazer?
- Olha só isso! - apontei para o relógio, com raiva. - Eu estou de férias e você me acorda oito horas da manhã!
- Para de reclamar, Sakura! - Hinata colocou as mãos na cintura. - Está sentindo?
- Sentindo o quê? - perguntei, tentando criar coragem para me levantar. Hinata pegou um travesseiro e jogou na minha cara.
- Nostalgia! Hoje é primeiro de dezembro! - Ela disse, dando pulinhos e batendo palmas. - Lembra de quando éramos crianças? Todo dia primeiro do último mês do ano nós escolhíamos uma árvore de Natal.
- Ah, sim, lembro. - respondi, coçando minha cabeça. - Você acha que uma árvore de Natal vai caber nesse caixote?
Hinata deu uma olhada em nosso apartamento. Nós o alugamos para ficar mais perto da faculdade. Era o nosso primeiro Natal longe da família.
- É claro que vai. Deixa de ser pessimista! Arrume-se, nós vamos sair em vinte minutos.
Hinata era minha prima e fazia faculdade de medicina junto comigo. Nós ficamos afastadas por anos, uma vez que ela se mudou para uma cidadezinha pequena do Japão que eu nem me lembro o nome. Antes da mudança ocorrer, fizemos uma promessa: nós duas iríamos para a mesma faculdade. Bom, isso aconteceu. Dividimos um caixote (é dessa maneira que eu chamo o nosso apartamento que está localizado em Tokyo, menos de duas ruas da faculdade). Ela e os nossos amigos insistem em dizer que o apartamento é charmoso, mas eu não consigo me adaptar de forma alguma nele. É por este motivo que eu estava procurando desesperadamente um emprego; queria alugar um maior.
Sempre gostei de Dezembro. Normalmente, eu estaria contando os dias para o Natal, já teria todos os presentes comprados e embrulhados e toda decoração pronta. No entanto, eu me sentia cansada, esgotada e sem esperanças. O meu primeiro ano na faculdade não foi exatamente o que eu esperava. Na verdade, as minhas expectativas para esse ano foram, em geral, frustradas. É por isso que eu não esperava nada de especial de Dezembro.
Estava com preguiça de me arrumar. Peguei a primeira roupa que vi pela frente. No momento em que eu coloquei o pé na rua, me arrependi amargamente de ser preguiçosa e não ter escolhido algo mais quente. Olhei no celular a temperatura: menos dez graus. Flocos de neve cobriam a minha picape. Entrei e liguei o aquecedor. Procurei minhas luvas vermelhas por alguns minutos e finalmente as encontrei de baixo do banco. Hinata revirou os olhos e começou a falar de como eu era desastrada e colocava as minhas coisas em qualquer lugar. Ignorei e comecei a dirigir.
- Então, para onde vamos? - perguntei, colocando um falso tom de animação na minha fala que instantaneamente alegrou minha prima.
- Não ria.
- Não ria do quê?
- Do nome da loja. - Hinata tentou não rir e ficar séria. - Até porque, a loja é do garoto que trabalha comigo no The Brew.
- Sério? E se eu rir? - perguntei, provocando.
- Tenha mais respeito, Saky! A loja de pinheiros deles é uma tradição de família. - Hinata cruzou os braços, irritada.- Ele é meu gerente! Quer saber, você não precisa ver o nome da loja.
Ela rasgou o cartão na parte onde estava escrito o nome e apenas me deu o endereço.
- Meio longe, não é?
- Simplesmente dirija! - Hinata ligou o rádio, colocou em uma estação que só tinha músicas de Natal e começou a cantar. Minha cabeça parecia que iria explodir.
- Graças a Deus nós chegamos! - Saí do carro, apressada. - Não aguentava mais ouvir você cantando!
Hinata riu da minha cara e entramos na loja. Ela era a céu aberto, então eu não estava livre da neve, que me cobria e embaçava os meus óculos. Parei de andar um momento: eu estava de óculos. Na pressa, eu esqueci de colocar as lentes e a Hinata não falou absolutamente nada! Respirei fundo, tirei os óculos e continuei seguindo Hinata, com muita dificuldade. De repente, ela parou e começou a conversar com um garoto, então eu parei também e sorri, mesmo não vendo nada além de um borrão amarelo e azul quando olhava para o rosto do homem.
- Sakura, esse é Naruto, o meu gerente do The Brew. - Acenei e sorri para ele e do nada Hinata me deu um beliscão.
- Ele estendeu a mão, Sakura. - Hinata falou, envergonhada.
- Ah meu Deus, me desculpe. - senti meu rosto queimar. - É que eu estou sem óculos e não enxergo nada.
- Tudo bem! - Naruto riu e pegou na minha mão. - Você é tão bela quanto a sua prima.
- Obrigada. - agradeci, meio sem jeito.
- Já experimentou os bolos do The Brew? - Ele me perguntou.
- Ah sim, são deliciosos.
- Como estão as coisas lá no restaurante? - Naruto cruzou os braços, interessado. - Desde que eu entrei de férias, fiquei curioso... Quem me substituiu?
- É um garoto ruivo...Acho que o nome dele é Sasori. Conhece ele?
-  Ele é meio fechado e vai pegar um pouquinho no pé de vocês... Mas é uma boa pessoa.
Naruto e Hinata deixaram a conversa sobre trabalho de lado e começaram a falar sobre outras coisas. Percebi que eu estava sobrando e resolvi sair de fininho.
Enxergando apenas vultos verdes que presumi serem os pinheiros, andei pelos corredores e de vez em quando fingia avaliar alguns. De repente, me assustei com um deles, já que era o maior vulto verde que eu tinha visto até então. Olhei de um lado para o outro, tentando enxergar se havia alguma pessoa naquele corredor. Suspirei e tirei os meus óculos do bolso. Coloquei-os no rosto e inclinei o meu pescoço para trás. Aquele era o maior Pinheiro que eu tinha visto em toda a minha vida.
De repente, ouvi um barulho de sinos. Virei-me e um homem com cabelo despenteado segurando uma caixa de papelão me olhou intrigado.
- Engraçado. - ele se aproximou mais de mim. - É a primeira pessoa que não se encantou com esse Pinheiro. Seus olhos não brilharam nem um pouquinho.
- Não, eu adorei, ele é magnífico. - coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha. - É só que... Eu não estou nenhum pouco animada para este Natal.
- Nossa. Deve ter acontecido algo muito horrível... O Natal é a única época do ano que eu me sinto feliz. Na verdade, dezembro, em todos os sentidos é um mês inspirador.
- É que... Acho que mantive as minhas expectativas para esse ano muito altas e ele acabou sendo tão sem graça. - Virei-me para o grande Pinheiro. - Conclui então que não tinha motivos para ficar animada. Se nada de especial aconteceu nos outros meses, por que neste aconteceria?
- Dezembro tem sua magia. - ele disse e eu dei de ombros. - Eu sei que é difícil de acreditar; mas se eu fosse você, pararia de esperar algo especial acontecer e faria isto acontecer.
Encarei o garoto melhor. Ele tinha razão. Ele abriu um grande sorriso e deu uma olhada para o Pinheiro, e durante esses poucos segundos eu poderia jurar que vi os olhos dele brilhando. Senti meu rosto ficar vermelho. "Será que a magia do Natal deixa as pessoas mais bonitas?", pensei. "Porque este garoto parece ser o mais magnifico de todos que eu já vi em minha vida. Assim como este Pinheiro."
- Qual é o seu nome? - perguntei.
- Sasuke Uchiha. - ele estendeu a mão para mim e eu a apertei. - Prazer em conhecê-la. Seu nome é...?
- Sakura. Sakura Haruno. - respondi, sorrindo.
- Então, Sakura...- Ele colocou a caixa no chão cheio de neve. - Qual Pinheiro você pretende levar?
- Não sei... Estava pensando em deixar a tarefa de escolher o Pinheiro para a minha prima, Hinata.
- Hinata? - ele falou, tirando vários lacinhos e sinos dourados de dentro da caixa. - Caramba, acho que já ouvi esse nome em algum lugar.
- Sakura! - Virei para trás e Hinata e Naruto vinham correndo em nossa direção. - Estava procurando você! Não vamos mais precisar levar a árvore!
- Não? - perguntei, enquanto eles finalmente chegaram até nós.
- Naruto nos convidou para passar o Natal na casa do avó dele, Jiraya. Ele é o dono da loja. E advinha? - ela deu uma olhada para o "Grande Pinheiro" (eu tinha dado esse nome a ele). - Essa será a nossa árvore de Natal!
- N-Não iremos incomodar vocês?
- Nem pensar. - Naruto disse, abraçando Hinata. - Será um prazer recebê-las na casa do nosso avô, não é mesmo, Sasuke?
- É claro. - Sasuke respondeu, sorrindo.
Hinata e Naruto seguiram o caminho e dobraram no final do corredor.
- Então você é irmão do Naruto?
- Adotado. - Ele se levantou do chão. - Meus pais e meu irmão mais velho morreram em um incêndio. E a mãe do Naruto, que era muito amiga da minha mãe, resolveu me adotar.
- Eu sinto muito. - falei, sem jeito. Quis mudar de assunto. Lembrei-me do que ele havia dito sobre fazer algo e tornar dezembro especial. Ele sorrir para mim e continuou a enfeitar um Pinheiro muito pequenininho. A imagem de um Pinheiro minúsculo do lado do Grande Pinheiro me deu vontade de rir, mas me controlei. - Sabe aquilo que você me disse agora pouco?
- Sobre tornar dezembro especial?
- Sim... Eu queria te perguntar uma coisa.
- Fique a vontade. - ele colocou uma estrela dourada na árvore.
- Vocês estão precisando de uma ajudante? Eu...eu gostaria de trabalhar aqui.
- Ah, estamos sim. Temos uma vaga como atendente. Ajudar os clientes a achar um Pinheiro ideal, essas coisas. - Sasuke me encarou. - Você está disposta a fazer isso?
- Sim! - falei, animada. Talvez o dinheiro que eu ganhasse ajudaria a pagar o aluguel de um apartamento maior.
- Uau, gostei da animação! - ele tirou da caixa um boné com um Pinheiro que tinha luzes brilhantes em volta e me deu. - Você começa hoje!
- Sério? Um boné com um Pinheiro brilhante?
- Algum problema? - ele se virou, segurando o riso.
- Nenhum. - Respondi, colocando o boné na cabeça.
- Combinou com seu cabelo rosa! - ele falou, rindo. - Vou pegar o seu avental!
- Será que o avental brilha também? - falei baixo.
- Eu ouvi isso! - Sasuke gritou.
Procurei Hinata e a encontrei sentada no sofá em frente ao balcão. Ela começou a gargalhar e eu revirei os olhos.
- Sasuke me deu um emprego. - falei, olhando para Naruto. - Então, será que você poderia levar a Hinata para casa? Acho que ela não está passando muito bem.
- Oh, não, eu estou bem! - Ela se levantou e ajeitou a blusa. - É que esse boné é bizarro.
- Eu achei que ficou fofo. - Naruto sorriu. - Afinal, fui eu quem o desenhou.
- Jura? - Hinata teve uma outra crise de riso.
- Por favor, leve ela para casa. - Implorei, levantando as chaves da minha picape. - Deixe na garagem. Eu tenho dinheiro para voltar para casa de ônibus.
- Tudo bem. - Ele disse, levando a até então incontrolável Hinata para dentro do carro.
- Aqui está o seu avental. - Peguei da mão dele e o amarrei. - Infelizmente ele não brilha.
Ele me deu uma caixinha pequena com um bloquinho e duas canetas e começou a me explicar como funcionava o trabalho. Não era tão difícil. Além do mais, já eram quase dez horas e poucos clientes apareceram.
- Você conhece essa parte da cidade? - ele perguntou e eu sacudi a cabeça. Raras vezes saía; vivia em bibliotecas e o máximo de diversão era ir ao cinema, que era relativamente perto do caixote. - Bom, então as quatorze horas nós dois iremos almoçar no melhor restaurante da rua Matsu.
- Que seria...? - perguntei. A rua Matsu era a pequena rua iluminada na qual se encontrava a loja de pinheiros. Parecia aquelas ruas de filmes americanos, cheia de trailers e restaurantes temáticos.
- Granny's honey pancake.
Depois de um turno bem tranquilo de trabalho, Sasuke e eu caminhamos até a famosa loja de panquecas. Imaginei uma velhinha doce e carinhosa fazendo panquecas com todo amor do mundo, mas o que eu encontrei não foi bem isso. A construção era toda azul e branca e tinha luzes amarelas que piscavam toda hora. Na entrada, uma placa de madeira no telhado que tinha o nome do estabelecimento; e abaixo das janelas, flores vermelhas. Achei tudo muito fofinho. Tinha até um banquinho com um visco pendurado no teto. Toda essa fofura acabou quando abrimos a porta e eu dei de cara com a vovó.
Primeiro, ela não era uma vovó. Ela era incrivelmente jovem e bonita. Entretanto, estava bêbada e jogava poker com um homem de grandes cabelos brancos e com óculos escuros na cara.
- Vovó, vovô. - Sasuke os cumprimentou, e o velhinho que identifiquei como Jiraya se levantou, veio até mim e beijou a minha mão.
- Sasuke, onde você encontrou essa deusa de cabelos rosados? - Ele tirou os oculos. - Se você leu o Icha Icha Paradise, saberá aproveitar melhor o intervalo do almoço com ela.
Sasuke ficou vermelho. Eu não estava entendendo nada, mas fiquei com medo. De repente, a vovó levantou da cadeira e deu um soco na cara do Jiraya. Meu coração acelerou e me abaixei para ajudar o senhor.
- Você quase o matou! - gritei, sem pensar.
- Vaso ruim demora a quebrar, menina. - Ela sorriu para mim, como se nada tivesse acontecido. Olhei para Sasuke e ele esboçava a mesma expressão. Ele pegou no meu pulso e me tirou de perto do Jiraya. - Sasuke, eu sou apenas a namorada do seu avô, não me chame de avó. Olha essa pele sem rugas! Eu tenho cara de senhora idosa?
A mulher levantou o namorado, que ainda estava meio atordoado e o levou para os fundos do estabelecimento.
- Shizune irá atender vocês apropriadamente. - ela disse, antes de sair.
- Desculpe-me por isso. - Sasuke falou, colocando a mão no pescoço. - Tsunade ficou com ciúmes do Jiraya.
Nós nos sentamos e de repente apareceu uma menina mais ou menos da minha idade, que ficou vermelha quando viu que Sasuke estava ali. Ela colocou os cardápios em cima da mesa, falou rapidamente com Sasuke e simplesmente ignorou o meu "Oi". Fingi que estava lendo o cardápio enquanto eles conversavam. Quando ela saiu, Sasuke pigarreou.
- Você está irritada.
- Eu? - falei, tentando disfarçar.
- Sim, você estava segurando o cardápio com tanta força que eu achei que iria amassar o papel.
Revirei os olhos e comecei a mexer nos guardanapos floridos.
- Shizune e eu éramos um casal. - "Éramos?", pensei. Adorei a conjugação do verbo. - Eu terminei com ela porque percebi que ela estava ficando agressiva que nem a Tsunade.
- Deve ser a convivência. - Dei de ombros.
- E aí, já escolheram?
- Eu vou querer a Granny's special pancake, e você, Sakura?
- Hum, eu vou querer a Granny's nutella and strawberries.
Shizune sorriu para Sasuke e foi para  a cozinha. Depois de dez minutos, nossas panquecas estavam prontas. Mas havia um problema.
- Han, Sasuke, essa panqueca não é de nutella e morango.
- Não? - ele disse, abandando a boca. - Meu Deus, eu sempre esqueço de esperar um pouco. Shizune!
- Pois não? - Ela falou com uma voz melosa. Sasuke olhou para mim, me encorajando a falar.
- É que esse não é o sabor que eu pedi...
- Não? - Shizune fez uma cara de desentendida. - Jurei que ouvi você pedindo uma panqueca de berinjela. Bom, se você quiser esperar, daqui a quinze minutos a sua panqueca estará pronta.
- Eu acho que não temos tempo. - Sasuke olhou para o relógio.
- Shizune, traga mais um prato. Vou dividir a minha panqueca com a Sakura.
Ela ficou um pouco atordoada e foi pegar o prato. Acho que ela não esperava a reação de Sasuke. Em resumo, o tiro saiu pela culatra. Agora, estava sentada do lado dele, dividindo a panqueca preferida da Tsunade, a de quatro queijos.
Segundo Sasuke, ainda tínhamos dez minutos até voltar para a loja. Andamos lado a lado, de vagar, já que a camada de neve na rua estava espessa.
- Eu tenho que pedir desculpas para você. De novo. - Sasuke bateu o braço dele no meu. Eu fui levemente para o lado e ri.
- Já vi que você é bem disputado.
- Nada disso. - Ele revirou os olhos. - Pode deixar que amanhã nós vamos almoçar em um lugar muito melhor. E você vai comer exatamente o que pedir. Eu prometo.
De repente, senti uma enorme vontade de espirrar. "Que momento conveniente para um espirro.", pensei. Mas ele não veio. E isso me deu raiva.
- Quero ver, hein. - respondi e a minha voz estava ficando um pouco rouca. Tossi e logo depois espirrei. - É, acho que vou ficar resfriada.
- Também, olha só como você está vestida. - Ele deu uma olhada para mim. Senti meu rosto ficar vermelho. - Quando chegarmos na loja vou procurar o uniforme do ano passado. Era um sueter peludinho de rena.
- Ele brilha? - perguntei, rindo.
- Não, infelizmente. - Falou, em tom irônico. - Não possuíamos tecnologia avançada para isso.
Chegando na loja, tomamos um susto. Ela estava lotada. Coloquei o meu boné e o avental rapidamente, e Sasuke disse que iria procurar o sueter.
- Não precisa. - falei. No entanto, ele não me deu ouvidos e foi correndo até a parte coberta da loja. A neve caía forte, mas as pessoas continuavam a chegar e não poupavam tempo, tudo para achar a árvore perfeita. Quando passei no corredor do grande Pinheiro, ele estava com uma placa de vendido e embaixo, estava escrito o nome do Jiraya. Sorri e pensei como eles iriam enfeitar aquela árvore.
De repente, um garotinho pequeno cutucou a minha perna. Virei-me e ele levantou as mãos, pedindo colo. Eu o peguei e perguntei onde estava a família dele. Ele apontou para um homem de terno preto.
- Olá, senhor. Este é seu filho?
- Sim! Já falei para você não sumir assim, Akira! - Ele se virou para mim e agradeceu. - Muito obrigado! Meu nome é Idate.
- Prazer, Idate! Em que posso ajudá-lo?
- Primeiramente, você poderia me dar o número do seu telefone.
- O quê? - Não estava acreditando naquilo.
- Sakura! - ouvi a voz de Sasuke. Ele estava atrás de mim, segurando o sueter peludinho. Pelo menos não chamava tanta atenção. Ele olhou para a minha cara ( que não deveria estar nada boa - talvez um misto de nojo e supresa) e percebeu que havia algo errado. - Algum problema, Sakura?
- Nenhum! - Dei as costas para Idate e arregalei os olhos. Sasuke entendeu. - Pode atender esse cliente? Preciso ir ao banheiro.
- Sem problemas. - Sasuke respondeu, de cenho franzido. Dei uma rápida olhada para Idate e ele parecia um pouco nervoso, enquanto seu filho brincava com os flocos de neve que caíam.
Andei até a parte coberta da loja. Atrapalhei-me com os corredores, e quando finalmente cheguei em frente à parte coberta, vi uma mulher aflita andando de um lado para o outro.
- Idate! Idate! - ela gritou. - Cadê você?
- Senhora? Posso ajudar você? - Caminhei até ela. Tive a ligeira sensação de que Idate era mais pilantra do que eu imaginava.
- Ah, por favor! - ela segurou nos meus ombros. - Meu filho e meu marido sumiram e eu nao consigo achá-los.
Levei-a até o corredor onde Idate estava. Sasuke ainda estava o atendendo.
- Aquele ali é o seu marido? - apontei para Idate. Ele ficou sem reação. A mulher foi correndo abraçá-lo e pegar o filho no colo.
- Muito obrigada! - ela acenou.
Sasuke deu o comprovante da compra para ele e colocou a plaquinha de vendido na árvore que o homem tinha comprado. O Uchiha veio do meu lado e colocou a mão no meu ombro.
- O que aconteceu?
- Ele pediu meu telefone. E ele é um homem casado! - falei, olhando indignada para Sasuke. - Eu nunca pensei que vender pinheiros fosse tão difícil assim.
- Não é. Geralmente coisas assim não acontecem. Pelo menos não que eu saiba.
- Ei, Sasuke! - um atendente gritou. - Venha dar uma olhada nisso.
Sasuke foi até a parte coberta da loja, junto com esse atendente. Eu fui atrás porque estava curiosa. Parecia que alguma coisa ruim tinha acontecido. Na verdade, estava prestes a acontecer. O âncora do jornal anunciava que estava previsto para esta noite a maior nevasca de todos os tempos.
- Então, o que vamos fazer? - o antendente perguntou. Sasuke disse que iria ligar para Jiraya para que ele decidisse. Pediu para que as vendas continuassem normais até o dono da loja, Jiraya, se pronunciar.
- Sakura, você viu o Naruto? - O Uchiha me perguntou. - Justamente quando eu mais preciso da ajuda dele, ele some.
- Pensando bem, eu não o vi desde que ele levou Hinata para casa. - respondi. - Falou com Jiraya?
- Sim, ele disse que nós poderíamos parar as vendas as quatro horas e depois dar uma limpeza na parte coberta, que está imunda.
- Vou tentar ligar para Hinata.
Hinata atendeu e estava em um lugar barulhento, quase não conseguia escutar a sua voz. Com muita dificuldade, entendi que ela estava em um karaokê, junto com Naruto. Informei Sasuke da situação e ele ficou bem irritado.
- Eu posso ajudar você. - falei, sem pensar. - Se você me levar de volta para casa, é claro.
- Tudo bem. Pode deixar que eu levo você de volta. - Ele falou, pegando alguns itens de limpeza. - Com essa nevasca, duvido que algum ônibus passe. Além disso, gentileza gera gentileza.
Ele piscou para mim e me deu o esfregão. Sorri que nem uma idiota e nós dois começamos a limpar a parte de trás do balcão.
Depois dos últimos clientes serem atendido, Jiraya liberou os empregados e nos deixou tomando conta da loja.
- Vou me encontrar com a Tsunade. - Ele disse, ajeitando os óculos escuros. - Nós dois iremos nos encontrar com alguns amigos para jogar poker.
- Sério? - Sasuke falou. - Com esse tempo?
Jiraya ignorou o comentário de Sasuke e saiu, colocando o capuz na cabeça. Eu já tinha limpado mais da metade do chão e o Uchiha havia arrumado os assentos e iria começar a organizar o balcão.
- Ah, Sakura, você pode me dar o seu bloco de anotações? - Ele colocou a mão no meu ombro e eu me virei. - Nossa, o seu rosto está vermelho. Você deve estar com febre.
Sasuke encostou a palma da sua mão na minha testa e depois no meu pescoço. Fez uma cara assustada e disse que eu precisava ir para casa o mais rápido possível.
Ele pegou uma coberta, nós fechamos a loja e corremos até a caminhonete dele, enrolados no cobertor, tentando nos proteger da neve. Sasuke ligou o carro,estacionou em frente ao grande portão e o fechou com um cadeado. Entrou de novo e colocou um novo cobertor em cima de mim.
- Toma esse aqui. - Ele disse. - Está se sentindo mais quente?
Fiz que sim com a cabeça e falei onde eu morava para ele.
- É longe, mas com essa belezinha aqui, nós vamos chegar rapidinho.
Ri mas logo senti o meu corpo inteiro doer e me encolhi. Sasuke tirou o meu cabelo do rosto e pediu para que eu descansasse. Fechei os olhos e dei um cochilo; quando acordei, nós estávamos presos em um engarrafamento.
- Pensei que nós fôssemos chegar em um piscar de olhos. - Comentei, tentando irritá-lo. Tossi um pouco e puxei a coberta para o meu corpo.
- Eu pensei também. - Sasuke colocou o braço em volta do meu banco. - Acho que aconteceu algum acidente ali na frente.
- Ei, eu conheço essa rua. - falei, limpando o vidro. - Estamos perto do caixote.
- Caixote?
- É como eu chamo o meu apartamento.
Ele sorria e voltou os olhos para a pista. A caminhonete andou alguns centímetros e parou novamente. Estava morrendo de cansaço e meus olhos foram se fechando, até que eu cai no sono novamente.

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