Aceita tomar um café?

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Lembro-me muito bem da primeira vez que a vi. Não sei ao certo o porquê, mas ela chamou minha atenção assim que entrou na floricultura. Era um dia quente, ela usava um macaquinho cor-de-rosa com uma blusa colorida e seus cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo. Ela observou algumas flores antes de vir até o balcão, onde eu tentava ensinar uma nova contratada a fazer um laço para um buquê. Parou em frente ao balcão e pedi para a garota nova continuar a fazer o laço.

- No que posso lhe ajudar? - Ela sorriu. Olhou em direção das tulipas e apontou-as para mim.

- Quero um buquê daquelas. - Voltou a me fitar. - Vermelhas.

E depois daquele dia, voltou todas as outras segundas. Sempre pedia tulipas vermelhas. Percebi que, talvez, ela fosse alérgica a elas, já que toda vez que pegava o buquê nos braços, ela espirrava.

Demorei quase dois meses para descobrir o nome dela. Por que eu sempre fui tímido, mas com ela por perto eu sentia-me mais que o normal. Ela havia derrubado algumas moedas no chão e não me detive em recolhê-las para ela.

- Aqui está, senhorita... - Sorriu e pegou as moedas que eu lhe alcançava.

- Margo, apenas Margo. - Mordeu o lábio inferior. - E você?

- Levine... ahn, Charlie. Esquece o Levine, não é importante e...Charlie. - Terminei de falar estendendo minha mão. Senti meu rosto quente. Ela riu abafado e pegou minha mão. Nunca soube dizer se ela riu de mim ou para mim, mas, de qualquer forma, ela parece ser boa demais para rir de alguém.

Então, a partir daquele dia, eu sempre adiei o momento de convidá-la para tomar um café. Era uma pergunta simples e ela não tinha como interpretar errado. Seria apenas um café. Como amigos, talvez... E, além disso, todo mundo gosta de café.

Mas quando eu finalmente convidaria ela para um café. Ela não apareceu o dia inteiro. Já estava fechando a floricultura, tinha apenas que fechar o valor do caixa e pronto, quando a porta foi aberta. Havia esquecido de fechá-la. Ergui o olhar e percebi que era Margo. Ela estava praticamente encharcada por causa da chuva. O outono sempre era bem chuvoso em Amsterdã.

- Já fechamos... - Foi a única coisa que consegui dizer. Idiota, idiota, idiota...

- A porta está aberta. - Tentou se justificar. Não havia se aproximado para não molhar o restante da floricultura.

E eu apenas concordei com sua afirmação, vendendo a ela as tulipas. Achei que não teria coragem o suficiente, mas consegui perguntar.

- Você se importa em esperar um pouco? - Ela negou com a cabeça. Abraçava seu próprio corpo, sua boca tremia e seu nariz estava vermelho. Ela fungava e coçava o nariz, deveria ficar gripada logo, mas eu apenas conseguia achá-la linda desse jeito.

Fui até os fundos da floricultura e subi as escadas que davam para minha casa. Peguei uma toalha e voltei o mais rápido que consegui até ela. Aproximei-me dela que me encarava confusa e lhe estendi a toalha. Queria ter tido coragem o suficiente para envolvê-la com a toalha, ou secá-la, ou oferecer algumas roupas para ela trocar. Mas eu não fiz isso. Ao menos...

- Você quer sair assim lá pra fora? A chuva só aumentou e... -Negou com a cabeça enquanto secava os cabelos.

- Eu tenho que ir - sussurrou. E ela foi.

Na próxima semana, eu mal havia aberto a floricultura e ela já estava ali dentro. Comia um donut coberto de chocolate, com a outra mão, segurava um copo com o desenho de uma Starbucks. Talvez fosse café. Ou talvez ela fosse uma das pessoas que não gosta de café. Ficou um tempo observando as tulipas, enquanto eu não conseguia parar de observá-la, e quando espirrou, fazendo uma careta fofa, afastou-se delas.

Aceita tomar um café?Onde histórias criam vida. Descubra agora