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  Você nunca tinha visto um desse tamanho.

  Sente medo.

  Escuta o coração bater no fundo dos ouvidos e o sente preso na garganta.

  Remanescentes.

  Eles vagam por todo lugar a procurar de qualquer coisa que tenha sobrado para comer.

  Inclusive pessoas.

  Os pelos do corpo são tão grossos que mais parecem penas. Tão brancos que nem parecem reais.

  São assim para refletir o calor da Luz Soberana.

  O corpo enorme e gorduroso protege do frio para que eles também possam vagar pela parte do mundo engolida pela sombra.

  Escuridão. É para lá que você segue.

  A adaptação para existir.

  Mutação.

  As asas gigantes e cinzas parecendo metal servem para ajudar na locomoção pela busca de qualquer alimento.

  Qualquer coisa que se mexa. Qualquer resto de tanto faz.

  Os galhos rasteiros ao redor do bicho se quebram quando o rabo grosso e pelado balança.

  A respiração nojenta dele disfarça o barulho da sua nervosa.

  Ele revira os cacos do chão. Procurando qualquer coisa. Qualquer resto.

  Você apoia o corpo no enorme tronco que lhe esconde.

  Suas mãos estão tremendo e você deseja que ele não sinta o cheiro do seu medo.

  O bicho fuça.

  Revira.

  Busca.

  As asas dele se agitam.

  Se desdobram.

  São lindas!

  Asas.

  Quase de metal.

  Então elas batem.

  E ele sobe, pesadamente. Quase impossível.

  Os galhos são quebrados ao serem atingidos pelas asas de ferro e vão caindo no chão de cacos brilhantes.

  Você observa o Remanescente indo embora.

  Longe.

  Deslisa as costas pelo tronco da árvore.

  Senta.

  Respira.

  Sente o medo ser absorvido aos poucos pelo alívio que é a segurança depois de um risco corrido.

  Dos cacos onde o Remanescente fuçava, você vê sair uma barata que voa e também vai embora.


CONTINUA...


Azul - A Cor do Último SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora