Capítulo I

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Cansada da discussão de seu atual tutor com o contador de seu pai, Evelyn não aguentava mais ouvir a voz de seu detestado tio Edmundo que não esperou se quer sair do velório do tão querido pai de Evelyn, já tinha planos para a herança da sobrinha.

Conseguir a guarda de Evelyn foi muito fácil para Edmundo já que ele era o único parente vivo por parte do pai de Evelyn e por parte da mãe da sobrinha não soubera de nenhum, apenas que era francesa, já havia perdido os pais quando criança e não possuía irmãos, tudo ocorreu conforme Edmundo havia planejado.

Evelyn sabia muito bem dos constantes atritos entre o tio Edmundo e seu pai Edgar, desde a infância seu tio criava problemas com o irmão que era sete anos mais novo, por mais que Edgar tentasse se aproximar de Edmundo, ele o rejeitava e ainda humilhava seu único irmão.

Por várias vezes Edgar se perguntou por quê Edmundo agia dessa forma com ele e a única resposta que  encontrava era o seu amor e interesse pela arte e pintura, seu irmão se irritava sempre que ele ficava distraído admirando a paisagem e ficava furioso quando Edgar dizia que um dia iria retratar tanta beleza em uma tela.

Os dois irmãos sempre moraram num pequeno sítio no município de Palmares na região da mata sul do estado de Pernambuco, seus pais eram agricultores e toda a renda da família se dava através do cultivo de frutas, verduras e animais que com muito sacrifício o senhor José e dona Inês recebiam pela venda dos produtos.

O pequeno sítio chamado de Aliança, era um lugar perfeito para Edgar, gostava muito quando dona Inês fazia esteiras para vender na feira que acontecia todas as Sextas-feiras, também gostava de acompanhar seus pais e ajudar a vender os produtos, ficava muito feliz quando vendiam tudo.

Edmundo se recusava a vender, tinha vergonha do tipo de vida que levavam, nunca ajudava a fazer as compras ao final da feira, restando assim a ajuda do pequeno Edgar.

Muitas pessoas se admiravam de Edgar ser tão prestativo sendo tão pequeno, sete anos de idade e já realizava tarefas de gente grande, para a professora Suely era lindo ver como o menino se preocupava em ajudar os pais, em determinado dia, viu Edgar fazendo desenhos no asfalto enquanto vendia na feira, ele desenhava com um pequeno pedaço de giz.

Suely começou a incentivar Edgar, lhe presenteando com pincéis e pequenas telas, um dia, quando a professora Suely foi comprar algumas graviolas e goiabas a dona Inês, Edgar a surpreendeu com uma bela paisagem de presente.

Era perceptível o talento do pequeno Edgar e seria muito triste um talento tão precoce se perder, por isso a professora Suely havia sugerido que o menino entrasse numa escola de artes para aprimorar o talento do garoto ainda mais.

Dona Inês gostou da ideia mas desistiu quando soube que seria na cidade do Recife na casa da cultura, por mais que ele fosse ganhar uma bolsa de estudo e ter onde ficar, ainda assim dona Inês não teria coragem de deixar o seu pequeno sobre a responsabilidade de estranhos em uma cidade grande.

Edgar havia ficado triste mas também não conseguiria deixar nas mãos de Edmundo os seus "veinhos", era assim que ele chamava com carinho, sabia que o irmão não ajudava em nada... Um dia quem sabe, ainda realizaria seu sonho.

O momento mais difícil para Edgar foi com treze anos de idade, receber a notícia que seus pais haviam morrido em um acidente com um caminhão que carregava cana para moer na usina, eles retornavam da feira quando o senhor José desviou de algumas touceiras de cana que caíram do caminhão quando ele tentou ultrapassar e para se livrar, o senhor José acabou perdendo o controle da parati e caiu na ribanceira .

Várias pessoas se disponibilizaram em ajudar Edgar, principalmente a professora Suely, ela não tinha filhos e nutria um carinho grande pelo menino, Edmundo já estava com vinte anos e ajudava numa pequena empresa de cobrança na cidade, para as pessoas a frieza que ele havia recebido a notícia era espantosa.

Após um mês da perda dos pais, Edgar não conseguia acreditar no que seu irmão estava informando... Como? Edmundo havia vendido sem que ele soubesse, o único bem que seus pais com tanto sacrifício havia deixado aos dois irmãos.

Todos sabiam que Edmundo era total e completamente diferente de Edgar, mas tramar a venda do sítio de maneira tão baixa, aí era de mais.

Edmundo andava com pessoas de personalidade duvidosa, quando o aceitaram com dezoito anos nessa empresa de cobrança, muitas pessoas sabiam que essa seria a "escola" que ele jamais deveria entrar.

Eram pessoas erradas que trabalhavam nessa empresa e no decorrer dos dois anos em que Edmundo permaneceu, ele havia mudado sim, tornou-se pior.

A atitude de vender o sítio Aliança gerou muita revolta nas pessoas que conheceram o senhor José e dona Inês, principalmente quando descobriram que Edmundo vendeu escondido de Edgar.

Ao perceber a frieza de Edmundo e descobrir que com o lucro da venda ele assumiria uma parte importante da empresa e se tornaria sócio, para Edgar foi uma decepção tão grande que ele saiu de casa sem saber para onde iria, só tinha uma certeza, a de não querer voltar nunca mais... Quanto tempo andou? Ele não saberia dizer.

Suely que estava na rodoviária prestes a ir embora, reconheceu o garoto na praça chorando, estava com barro nos pés, o que significava que ele veio a pé, mas de onde ele morava para o lugar em que estava era bem distante.

Ao perceber quem se aproximava, Edgar abraçou a professora Suely e entre todo aquele choro, contou tudo que havia descoberto, chocada com a baixeza que Edmundo se comportou e vendo tanto sofrimento em Edgar, a professora Suely o convidou para ir com ela para Recife onde ela iria ser coordenadora e poderia ajudar Edgar a realizar o sonho que ele tanto desejava, ele aceitou agradecido e foi embora com Suely em busca de sua felicidade.

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