Era dezembro, a vida começava a se encaixar.
Eu acordei durante a madrugada, e percebi que o que havia me acordado foi o barulho da chuva, e mesmo bastante cansada depois do meu último dia de aula e meu último dia de trabalho, eu me sentia agradecida a Deus. Olhei pra cima e percebeu que tinha um buraquinho no telhado, e que respingava um pouco de água no meu rosto, isso fez com que eu acordasse um pouco mais, o contato da temperatura de meu corpo aquecido, com a temperatura dos respingos me causava uma sensação de estar viva. E tudo o que eu conseguia sentir depois de todo o ano mais conturbado da minha vida, era que finalmente eu estava vivendo, e me sentir viva era a sensação mais preciosa.
Senti uma sede absurda; o frio estava imenso, Não que eu Não gostei, mas veio uma preguiça de sair daquele conforto que minha cama me proporcionava, quando olhei em volta, não tinha ninguém em casa e isso me fez sentir melhor ainda, se eu não estivesse tão absurdamente cansada eu teria me levantado e curtido minha casa,minha solidão, meu mundo, eu mesma, amando minha companhia. Levantei e olhei o relógio eram quatro da manhã e eu estava com bastante sono,abri a geladeira e virei a garrafa d'água, não tinha sabor, mas me deixou satisfeita,
igual minha vida sem sabor,porém estava satisfeita.
Peguei meu edredom e me embrulhei novamente e o calor da minha coberta acariciava minha pele e isso me trazia uma sensação confortante.
Fechei os olhos e pensei que talvez nesse dia eu poderia ter uma noite em paz, diferente de todas minhas outras noites com pesadelos, medos,gritos e até surtos terríveis, talvez finalmente a vida estava me dando uma oportunidade.
Adormeci com o som da chuva, e eu me sentia absolutamente viva. Ninguém nunca entendeu ao certo a importância que eu dava a uma noite de sono em paz, quanta ironia era a única coisa que de fato eu esperava da vida.
Sonhei novamente, dessa vez não foi um pesadelo. Que absurdo, a vida sempre nos surpreende de uma forma totalmente inesperada. O inesperado me encanta.
