O homem de cabelos ruivos observava, no meio daquela cidade sem vida, os prédios cobertos por trepadeiras. Bom... Talvez fosse errado dizer que era uma cidade sem vida já que era observado por todas aquelas pessoas furiosas que o rodeavam. Havia também as plantas e os animais que agora faziam dos prédios seus novos abrigos. Na verdade, o certo era dizer que naquela cidade não havia nenhuma vida humana.
"Observem! Esse é o traidor de sua espécie!"
Séculos atrás, quando os humanos lhe destruíram tudo que lhe era querido, ele nunca teria imaginado que se afeiçoaria a eles. Que aprenderia com eles. Mas, excluído por outros clãs de elfos e se vendo obrigado a viver entre eles... Bom, ele meio que não teve escolha. Não tinha sido uma experiência ruim, no entanto. Descobrira que vários de seus conceitos sobre aquela espécie estava errada e vários também se mostraram certos.
Acostumado então à convivência com os humanos... Ele não chegou a pensar que eles desapareceriam. Oh, é claro. Eles não simplesmente sumiram do nada. Na verdade, de certa forma eles ainda deveriam estar ali depois de todo aquele tempo, alimentando as plantas com os nutrientes que restaram de seus corpos mortos. Imaginou se iria se juntar a eles e se o elfo que lhe exibia como caça lhe faria o favor de terminar isso rápido.
"E pensar que o mais velho entre nós seria o primeiro a fazê-lo!"
A bem da verdade era que ninguém tinha ideia do que realmente acontecera com os humanos. Arthroerl estava lá e o máximo que ele podia dizer era que tinha sido algum tipo de doença. Ele não sabia como ela se espalhava e os humanos também não tiveram tempo de descobrir, tudo acontecera muito rápido. Ele se lembrava de presenciar algumas mortes. Pessoas que simplesmente caiam no meio da rua com os ossos destroçados, outras cujos órgãos paravam de funcionar aparentemente sem força. Ouvira uma vez o caso de uma mulher que simplesmente amanheceu morta, com a pele colada aos ossos com tal força que quase não dava para distingui-la de um esqueleto. Ouvira um médico humano certa vez dizer na televisão que tinha haver com nutrientes. Uma doença que fazia o corpo necessitar de uma quantidade tão absurda de nutrientes que ele chegava a se auto-consumir quando já não era mais possível abastece-lo. Ninguém sabia como isso tinha começado, algumas pessoas achavam que era algo criado em laboratório pelo próprio governo. Arthroerl não duvidaria.
O elfo suspirou de forma inaudível ao perceber que seu executor ainda estava falando. Bom, se era tempo para pensar nos seus atos que ele estava lhe dando, então estava funcionando, porque agora toda a sequência de ações que levaram àquele acontecimento passava pela cabeça do elfo.
Começava com sua fuga do mundo humano através da barreira entre planos para o mundo élfico, quando achou que seria perigoso permanecer ali. Fora um ato de desespero, admitia. Não sabia se a doença poderia atingi-lo. Ele não sabia quanto tempo se passara até ouvir um rumor nas vilas élficas ao redor de seu acampamento de que já não haviam humanos no plano terrestre.
Quando saiu para conferir, percebeu que era tudo verdade. Não acreditou de início e precisou percorrer diversas cidades para se convencer, mas era real. Não havia um único humano vivo na terra. E não eram apenas eles que haviam sumido, os lobisomens também haviam sido afetados a julgar por um cadáver que achara no meio da mata. Com o sumiço dos humanos, os vampiros também desapareceram. E agora que pensava... Nunca mais encontrara nenhum hibrido humano andando por aí.
Para os elfos aquela era uma ótima notícia. Mesmo com suas vilas montadas no outro plano, eles decidiram reocupar aquele mundo. Ajudaram as plantas a tomar as ruas de pedra e os animais a se reestabelecer. Aos poucos aquele voltava a ser o mundo deles. O mundo em que haviam nascido e que finalmente era devolvido aos próprios donos... Ao menos segundo os novos líderes élficos.
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Traidor da Espécie
Short StoryA raça humana desaparecera e levara consigo todos os seus descendentes. A única pessoa que restara daquele mundo era ele, que se escondera da tragédia. Junto a seu povo, ele voltou ao mundo humano agora desabitado e assistiu enquanto seu povo decidi...