CAPITULO 15

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Chegaram ao bar sem chamar a atenção. A periferia da cidade estava bastante agitada, com um vaivém animado de gente pelas ruas. Do outro lado da avenida Ipanema passava um longo grupo em procissão, rumando para a igreja. Dois homens carregavam um altar que trazia a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Crianças corriam junto com a procissão, dando mais atenção às brincadeiras de pega-pega do que aos cânticos para a santa. Leonardo, com pequenas e imperceptíveis gotas de suor brotando na testa, perguntou para Ginho quanto dinheiro tinha na carteira. O rapaz contou as notas. Não era muita coisa. Leonardo olhou para o céu. Recriminava-se toda vez que olhava a Lua imensa subindo do horizonte e tomando seu lugar no firmamento. O estômago contraía e ele sabia exatamente o que aquilo queria dizer. A mutação viria cedo ou tarde. Não tinha como evitar a transformação do corpo naquela noite. A primeira noite de lua cheia do mês era o dia em que o satélite natural do planeta refletia mais luz do sol para a Terra, reduzindo imensamente os poderes dos vampiros lupinos, impedindo que o corpo refreasse a fera insana que habitava suas entranhas. Essa fera pouco se importava com lugar e oportunidade. Ela queria sair para saciar a fome. O desejo de morte.

Queria estraçalhar ossos entre os dentes. Não estava nem aí para o sangue que o vampiro clamava, queria era arrancar nacos enormes de couro e carne e engolir todo ser humano que aparecesse em sua frente. Mas tinha dado ouvidos para Anelise e Mari que estavam doidas para ir até a cidade. Leonardo, apesar de líder da matilha era um garoto também. Acabou cedendo e agora se via arrependido, sabendo que a alegria e descontração do passeio acabaria em questão de poucas horas.

— Vamos entrar e sentar um pouco. — pediu Mari, puxando Leonardo pela mão. — Eu gosto tanto dessa música.

Leonardo não acompanha a menina. Olha para o chão, vendo sua sombra projetada na calçada. Mari insiste e puxa Leonardo novamente.

— Vamos, Leozinho. O que está acontecendo com você? Não está se sentindo bem?

— Não é nada. É só um mal-estar.

— Vamos ouvir a minha música. Você está muito pálido, viu? — brincou Mari, colocando o dedo no nariz de Leonardo.

Todos riram.

Leonardo, para surpresa de todos, apanhou a mão de Mari ainda no ar, e puxou-a para junto de seu corpo emitindo um rosnado ferino.

— Vamos ouvir sua música, garota. Mas não vamos demorar. Não podemos demorar. Entenderam? — repetiu Leonardo, olhando cada um dos três nos olhos.

Ginho e a namorada Anelise trocaram um olhar sério, enquanto Leonardo soltava Mari de seu súbito agarrão.

Mari balançou a mão no ar, visivelmente assustada e mostrando que tinha sido machucada pelo garoto.

— Desculpe, Mari. A luz da lua tá me dando um mau humor danado.

Os Filhos De Sétimo (saga O Turno Da Noite Vol.1) André ViancoOnde histórias criam vida. Descubra agora