CAPITULO 17

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Abriram os olhos simultaneamente. Raul fechou a Cartilha da Escuridão, estivera lendo o compêndio vampírico antes de cair em transe ao raiar do sol.

Alexandre levantou-se da cama, passando por Raul, que se acomodara em um sofá. As grossas cortinas nas janelas não deixavam ver o tempo lá fora. Parecia mais frio que na noite anterior. O garoto de cabelos arrepiados estava ansioso. Teriam Bruno e Patrícia se livrado da enrascada? Teriam chegado em segurança até um abrigo? A ansiedade só aumentava, principalmente pelo fato de essa nova noite ter algo reservado para ele próprio e Raul. Seriam submetidos ao teste do vampiro Ignácio. Poderiam desistir da associação com o vampiro antigo? Poderiam desviar e seguir livres seus caminhos? Algo dizia a Alexandre que era tarde demais. Ignácio frisara naquele primeiro encontro no parque que os vampiros mais velhos detestavam os novatos... seriam alvos dessas criaturas e, começando a conhecer um pouco mais Ignácio, Alexandre não duvidava que corriam o risco de até mesmo as garras do veterano tornarem-se algozes fatais.

Raul foi para a cozinha. Com seus um metro e noventa e dois de altura e seus oitenta e dois quilos, era o mais alto e mais magro da turma. Apesar da figura delgada, era o mais faminto naquele despertar. Seus olhos pousaram na mesa da cozinha. Nada de banquete sangüíneo essa noite. Algo estava errado, podia sentir. Quando o carro se afastara dos arredores da mansão com a chegada da polícia, tinham perdido o sinal dos óculos, não puderam ver através dos olhos dos vampiros o que se passara no interior da luxuosa casa com a entrada dos policiais. Ignácio não demonstrou emoção alguma, afastou-se como se não conhecesse os abandonados e nada tivesse a ver com aquele bulício... como se não fosse o pai adotivo daquela dupla de vampiros perdidos.

Alexandre juntou-se ao amigo na cozinha.

— Não gosto da sua casa, Alexandre. Acho mais legal o apartamento da Patrícia.

— Por quê? — perguntou o vampiro, realmente curioso, uma vez que era o único a possuir uma casa térrea, ao menos duas vezes maior que o apartamento da vampira.

— Porque quando a gente acorda, no apartamento da Patrícia tem sangue posto à mesa... aqui não

tem.

Alexandre sorriu.

— Estranho... — balbuciou.

— O quê?

— Estou com vontade de fumar. — disse o jovem vampiro loiro.

Raul ergueu os ombros, não tinha entendido a estranheza.

— Desde que me tornei... você sabe...

— Vampiro?

— É. Vampiro.

— O que tem?

— Eu nunca tinha tido vontade de fumar de novo... agora estou morrendo de vontade de botar um tubo de nicotina na boca.

Os Filhos De Sétimo (saga O Turno Da Noite Vol.1) André ViancoOnde histórias criam vida. Descubra agora