Toda a minha vida foi baseada em sacrifícios. Meu pai, Henry sempre me cobrou ser a filha perfeita, exemplo de moral e bons costumes para aqueles que nos cercavam, e principalmente, para seus amigos. Perdi minha mãe no parto, e meu pai indiretamente culpava-me por ter perdido o amor da vida dele. De certa forma, ele esperava que eu pudesse preencher, ao menos em parte, o vazio deixado pela ausência dela, algo que jamais poderia fazer.
Cresci praticamente isolada do mundo, em meio a livros e partituras, ate que, em meu primeiro dia da faculdade, conheci o amor de minha vida; Aeron Eyolf. Ele apareceu no campus acompanhando uma garota de cabelos castanhos levemente cacheados, que inicialmente julguei ser a sortuda namorada daquele jovem até então desconhecido, e logo descobri que a garota em questão chamava-se Anne Morgan, e que estudaríamos na mesma classe.
Assim que ela entrou na sala, com seus trajes perfeitamente combinados por algum consultor, que incluíam marcas famosas e caríssimas, senti-me desconfortável. Normalmente aquele tipo de ostentação não me incomodava; era feliz com as coisas que tinha, e não ambicionava nada daquilo, mas me senti uma completa esquisita na frente dela. Surpreendentemente, ela sorriu de forma tão sincera para mim, que qualquer defesa que pudesse haver foi derrubada por tamanha simpatia, e começamos a conversar sobre temas aleatórios; até que descobri que Anne e Aeron eram apenas amigos, e que ela namorava um dos irmãos dele; Ian. Ela me apresentou a Aeron no final do dia quando ele voltou para pegá-la no campus, e foi neste momento que minha vida começou a ganhar sentido.
Aeron e eu construímos uma amizade muito forte, solidificada ainda mais pela recente amizade entre Henry e Julius, pai de Aeron. Julius é um advogado muito conhecido e meu pai, como sempre interessado em "fazer amigos com bagagem" começou a se aproximar dele após um escândalo envolvendo alguns policiais corruptos.
A família Eyolf tinha, definitivamente, uma condição financeira incrivelmente superior as de minha família, eram donos de uma conceituada joalheria a gerações, além de algumas minas de diamante. As peças, de design exclusivo, eram usados como acessórios por mulheres ricas ou presentes em ocasiões especiais, e atualmente aquele império era administrado por Aeron, já que o pai dedicava-se integralmente à área jurídica. Eles formavam o tipo de família que jamais pensei que encontraria: completamente feliz.
Pouco tempo depois que conheci Aeron e sua família, começamos a namorar. Sempre me perguntei o que alguém que poderia ter a mulher que quisesse, não apenas pelo dinheiro, mas pela incrível beleza e sensualidade, poderia querer com uma pessoa sem graça como eu, mas como um milagre do destino, ele retribuía os sentimentos que eu sentia. Henry não conseguia se aguentar de felicidade, já que para ele, era como se todo o investimento feito em mim fosse ter algum retorno. Para ele, finalmente todo o investimento teria retorno, e que também geraria uma verdadeira reviravolta em minha vida.
Até aquele momento haviam poucas certezas em minha vida... faria faculdade de Direito, provavelmente algum tipo de trabalho assistencialista e me casaria com Francis Thompson, mesmo que nunca tivesse gostado dele. Para meu pai isso pouco importava; apenas o dinheiro que eu sabia que financiava meus estudos, e alguns dos luxos que meu pai gostava de manter, mas diante da perspectiva de unir-me com Aeron, todo o construído e acordado com Francis foi desfeito, mesmo ele sendo o mais novo de uma família de advogados conceituados.
De alguma forma, sentia por Francis algo como remorso... ele não tinha culpa por meu desinteresse, apesar de sempre ter agido como um perfeito cavalheiro desde que nos conhecemos, ainda na infância. Era uma questão mais simples... para mim, ele sempre seria um amigo querido, e nada mais que isso, e saber que Henry descaradamente usufruía e explorava sua boa intenção me enojava um tanto.
Aos poucos, minha relação com Aeron foi avançando até que nos tornamos noivos. O casamento, e a mudança para o mundo dos Eyolf aconteceu mais rápido do que pudesse processar. De alguma forma, o casamento significou para mim muito mais que minha união com o homem que amava, mas minha libertação de um futuro que certamente, não seria feliz... provavelmente estável e seguro, mas que não me renderia o que esperava.
O casamento com Aeron aconteceu como num sonho, em um belíssimo salão ricamente decorado, com todos os detalhes que pude sonhar para aquele dia. Além da festa, aquilo fora a realização de um sonho, e orgulhava-me imensamente dizer que ele era meu marido. Mais que um dia, desfrutei de meses de puro sonho, onde não conseguia me caber de felicidade... mas como nos contos de fadas, o "felizes para sempre" é apenas o início de uma história; neste caso, da minha.
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Além dos Sonhos
RomansaO que fazer quando todos os seus sonhos são destruídos por uma mentira? Elanor Bouvier teve sua vida completamente destruída pelo ciúme e mentiras, e agora precisaria trilhar seus caminhos sozinha. Aeron Eyolf num rompante destruiu tudo o que lhe er...