Cidades Incertas

Capítulo 13

Tínhamos saído de casa as 15:25, já um pouco atrasados. Mas a culpa foi toda da Mia, que tinha decidido tomar banho vinte minutos antes de sair. Quando chegamos lá já estávamos mais que atrasados, mas não ao ponto de pensar que Yuri já deveria estar esperando. Yuri era do tipo que deixava os outros esperando. E foi com essa concepção que eu tirei o motivo de Mia decidir tomar banho mais tarde: ela já sabia que iria ter que esperar Yuri chegar de qualquer forma mesmo, se atrasar alguns minutos não faria diferença.

E ela estava certa.

Yuri ainda não tinha chegado.

Mas bastou completar três minutos, que ele cruzou o gramado da praça que Mirella tinha escolhido para esse momento tão especial.

Yuri estava irreconhecível, com uma camiseta Pólo azul marinho e uma calça jeans vinho. Seu cabelo estava todo penteado para trás e seus passos eram decididos e civilizados. Se eu já o não conhecesse diria que minhas palavras horas mais cedo tinham sido verdade: ele parecia de fato um bom garoto.

Uma pena que eu já possuía uma ideia do que aquele garoto era capaz.

- Boa tarde Sr. Nicolas, boa tarde Sra...? – diz Yuri um pouco receoso quando encara a mãe de Mia.

- Mirella – completa ela com uma feição suspeita tentando achar algum problema.

- Mirella! Prazer, sou Yuri – diz ele sorridente oferecendo um aperto de mão.

Mirella fita a mão de Yuri e depois encara os seus olhos novamente, por fim ela aceita o aperto de mão e abre um pequeno sorriso, que eu interpreto como nada mais que a obrigação.

Yuri então cumprimenta meu pai, que o puxa para um abraço acompanhado por tapinhas nas costas que provocam alguns risos de Yuri. E então nesse segundo eu me pego pensando que certamente o que faltava em Mirella, sobrava no caráter do meu pai. E vice versa.

Até hoje me pergunto como eles dois se encontraram.

Chega a vez de Mia, que o recebe com um abraço apertado que com certeza dizia "obrigada por estar aqui". E então ele sai do abraço e a dá um selinho demorado. Se eu não estivesse tão perto quase não notaria a surpresa na feição de Mia. Ela não esperava por isso.

Nem eu.

Tão inesperado que meu estômago afundou.

Não que eu queira ficar com ciúmes, mas tem certos momentos da minha vida que nem eu consigo controlar o que sinto.

E então depois disso chega a minha vez de dizer "Oi, quanto tempo".

- Oi sumida. – diz ele piscando para mim com um sorriso de canto.

- Oi Yuri – devolvo o sorriso.

Ele então me abraça e sinto uma nova onda de turbulência começar dentro de mim.

- Então... – continua Mirella atrapalhando aquele momento – Eu estou com fome e vocês?

- Eu também! – diz meu pai pegando a cesta de comidas e a abrindo, tirando de lá cinco sanduíches, cookies de chocolate, suco de laranja, salgadinhos entre outras delícias.

Todos sentamos na toalha de mesa amarela que Mirella tinha trazido junto e então Mia começou a servir o suco de laranja nos copos descartáveis e depois ia entregando para cada um até que a seção de perguntas começa.

- Yuri, nós conte um pouco sobre você!

- Sobre mim? – diz ele engolindo em seco.

- Sim, conte-nos sobre sua família, seus planos para faculdade... – diz Mirella não escondendo sua curiosidade.