GUARDIÕES
Antes de tudo louvamos Aluvaiá. Zambi criou um universo tão grande que se perdeu dentro dele, já não sabia se tinha criado algo com vida. Então criou Aluvaiá e lhe deu a missão de ir por todo universo procurando vida. Ele achou o planeta Terra, mas não voltou para dizer a Zambi. Ficou ali, se apresentou como sendo um deus e recebia sacrifícios de sangue humano para se manter forte, pois Zambi havia lhe dado limitações. Mas um dia ele precisou voltar até a presença de Zambi que logo percebeu tudo o que estava acontecendo. Aluvaiá então recebe um castigo: não ia morar no céu com Zambi nem na Terra com os humanos, Aluvaiá viveria em uma dimensão paralela e só poderia ir até os seres humanos quando Zambi mandasse e só poderia ir à Terra se os seres humanos lhe invocasse com sacrifícios de sangue animal. Estes sacrifícios deveri ser feitos em encruzilhadas, pois unem os dois mundos e assim Zambi e seres humanos se comunivam por meio de Aluvaiá. Aluvaiá se tornou um mensageiro oficial de deus aos homens e dos homens para alcançar a deus.
•Aluvaiá é conhecido por outros nomes: por receber as oferendas nas encruzilhadas lhe chamam de Pambunjila (o chamam assim também por ele ser um atalho entre humanos e deus); também é conhecido como Mavile por ser um sentinela e estar sempre atento a tudo; alguns o chamam Apavenã, pois para muita gente ele se apresentou como sendo o pênis que ejacula fertilidade, que traz coisas novas e boas.
•Além de Aluvaiá, toda a criação, todo o universo que chamamos de "Sanzala Kassembe dia nZambi" (Aldeia Sagrada de Deus), é guardado por outros vigias, sentinelas, guardiões. Os principais são os irmãos gêmeos Mavangu e Lembá. Mavangu se casou com a filha de Zambi e morreu sendo mais uma vítima de uma feiticeira má que se alimentava de almas e assolava a criação de Zambi. Mas Lembá a derrotou e todas as almas que ela havia matado voltaram a viver, inclusive Mavangu. Outros contam que Zambi fez o ser humano de barro vermelho (mavangu) e a alma/espírito fez de barro branco (lembá). Do barro branco calcificado, seco e enrijecido é que se faz a Pemba, usada para selar em nós as coisas boas.
PROCEDIMENTOS PADRÕES
Os guardiões são louvados primeiro para que haja segurança espiritual, para que haja garantia de que todo o mal será mantido do lado de fora e para que haja paz e muita energia boa do lado de dentro. A "kufumala" (defumação), a "fundanga" (pólvora), a "pemba" (giz branco sagrado) e as "jinsaba/tumba" (folhas) surgem logo no começo de um culto de matriz bantu. A kufumala espanta todo o mal e abre espaço para as boas energias. A fundanga encerra a parte da limpeza de corpo e ambiente. A pemba sela em nós a presença de nossos mentores espirituais (inquices/minkisi/akixe/mahamba). As jinsaba/tumba nos trazem a cura para a mente, corpo e espírito, nos liga às energias da natureza diretamente e nos sintoniza a espiritualidade (em cada nervura da folha há um segredo velado).
Estamos prontos para louvar nossos ancestrais divinizados. Podemos chamar nossos ancestrais de inquice (forma abrasileirada), nkisi (grafia do dialeto kikongo - plural: minkisi ou jinkisi), mukixe (grafia do kimbundu - plural: akixe) e hamba (também do dialeto kimbundu - plural: mahamba). Os povos bantu são compostos por mais de 450 dialetos diferentes, mas no candomblé Congo-Angola se usa basicamente apenas dois: kimbundu (mais falado em Angola) e kikongo (mais falado no Congo).
KATENDÊ
Depois da kufumala, da fundanga e da pemba, enquanto se passa as folhas no corpo e forra o chão com elas, entoamos cantigas e rezas para um ancestral encantado que tem a forma de um lagarto (salamandra) chamado Katendê. Esse nome tem dois significados: pode significar "pequeno lagarto" ou então ser uma derivação de "katendi" que é um título de nobreza. Ele é o senhor das plantas, desde a raiz até a semente. Sabe tudo para curar a mente, o corpo e a alma. Ele venceu uma disputa contra um camaleão e assim decidiu que o ser humano teria uma única vida, sem reencarnação, por isso se dedica em prolongar nossa vida na Terra com saúde e alegria.