Bem, vocês já devem ter ouvido falar do infame jogo de digitação Mr. Mix, certo? Para refrescar-lhes a memória, era um antigo jogo para PC da década de 1990 que ensinava as crianças a datilografar, mas passava longe de ser um jogo educativo e inocente. O jogo continha sons perturbadores, uma dificuldade extrema e o desenho do protagonista, o chef de cozinha Mr. Mix, era macabro e apavorante, sendo capaz de traumatizar mesmo a pessoa mais valente. O jogo tinha níveis de dificuldade do 1 ao 6, e o último, poderia arrancar completamente a sanidade da mente de uma pessoa.
O que até agora ninguém sabe é a história por trás do jogo, que só eu, infelizmente, vim a saber, por meio da loja em que adquiri o jogo, há uns tempos atrás. Como professora de uma classe pré-escolar, sempre procurei dar-lhes a graça do aprendizado com alegria e diversão através de jogos educativos que lhes proporcionassem isso. Minha classe adorava os jogos que eu trazia para complementar minhas aulas. Até jogarem Mr. Mix.
Um dia, caminhando pelo centro da cidade de São Paulo, encontrei uma loja que vendia todos os tipos de softwares antigos, daqueles que já saíram de linha faz muito tempo e que você não acha mais em lugar nenhum. Decidi entrar para ver se encontrava algum jogo educativo a um preço acessível, já que a grana estava curta. Entre CD-ROM's de instalação de versões antigas do Windows e outras parafernálias, finalmente achei um jogo infantil naquela loja. Era um jogo de datilografia. Se chamava Mr. Mix.
Decidi perguntar à vendedora quanto custava aquele CD. A pobre mulher, uma senhora de traços orientais, instantaneamente fez uma cara de espanto e começou a gaguejar, perguntando se eu queria mesmo comprar o jogo. Respondi que sim. Ela, temerosa por uma causa desconhecida para mim ,me pergunta mais uma vez, se eu realmente queria fazer isso. Respondi que sim mais uma vez. A vendedora, assustada, chamou um outro senhor, que parecia ser o gerente da loja. Tinha um forte sotaque francês. Me disse: "bonjour madame", e eu repliquei, com um sorriso nervoso, sem saber o que estava acontecendo.
Ao saber da situação, o homem ordena a mulher para que busque uma caixa, no estoque da loja. Ela, apressada, talvez com medo de algo ou alguém, traz como num piscar de olhos, uma grande caixa de papelão, com algumas coisas dentro que naquele instante não foi possível identificar. Ela coloca o CD-ROM do jogo dentro da caixa e me diz:
-Pode levar, é de graça.
Me espantei com isso e até tentei oferecer algum dinheiro, em pagamento pelo jogo, mas a vendedora e o gerente não quiseram aceitar. Foi quando estava a um pé da porta da loja, que escutei uma fala do homem. Como num suspiro de medo e preocupação, ele disse: Au Revoir, Guillaume. Achei estranho, parecia que aquele senhor estava falando sozinho, pois eu era a única pessoa que estava na loja naquele momento. Mas ignorei a fala e me dirigi até meu carro que estava num estacionamento próximo à região.
Ao chegar em casa, nem dei atenção à caixa, que permanecia fechada, esquecida num canto do armário do meu quarto. Tinha muito trabalho a fazer, planejando a aula do dia seguinte para meus alunos. Mas ao me deitar pela noite, não sei porque, não conseguia dormir, pensando no que significavam aquelas palavras que aquele homem disse quando estava saindo da loja.
No dia seguinte, quando mostrei o jogo para meus alunos, todos eles ficaram eufóricos e queriam jogar. Levei-os ao laboratório de informática da escola e instalei o jogo em cada um dos computadores. Grande erro. Perguntei à diretora da escola se poderia me ausentar, pois tinha que fazer uma viagem para outro estado para visitar meu tio que estava doente. Ela concordou e eu saí de viagem. Iria ficar duas semanas na casa de meu tio. Quando cheguei lá, ele me perguntou como estava indo meu trabalho com as crianças. Eu disse que minha classe ia bem. Comentei com ele sobre o jogo. Meu tio, que nunca gostou de comprar coisas usadas em lojas estranhas, ficou desconfiado. Mas não dei importância, pois de qualquer forma ele já estava ficando gagá. Infelizmente, tive que passar muito menos tempo com meu amado tio do que estava programado. Não tinha se passado nem quatro dias e já tive que retornar a São Paulo. Em uma terça-feira de manhã, meu celular começou a tocar sem parar. Era a diretora da escola. Quando atendi ao chamado, ela parecia furiosa comigo. Disse que o tal jogo, que parecia ser educativo, provocou pânico nas crianças; que várias mães tinham ido reclamar na escola de que seus filhos não dormiam mais, que choravam de terror à noite e que tiveram que procurar assistência psicológica devido ao ocorrido. Eu não entendia aquilo. Como um jogo educativo pôde causar tanto pavor em meus alunos?
Foi aí que coloquei o nome do jogo no Google e me dei conta da merda que eu tinha feito ao aceitar aquela coisa maldita. Dali em diante minha vida e a de quem presenciou o acontecimento virou um verdadeiro inferno. Pais não confiavam mais naquela escola, por terem traumatizado seus filhos. Acabei perdendo meu emprego e minha reputação como professora foi por água abaixo. Algumas crianças que jogaram Mr. Mix tiveram que ser internadas em hospitais psiquiátricos devido ao extremo trauma e stress pós-traumático a que foram submetidas.
Eu estava, literalmente, no fundo do poço. Foi quando me lembrei da caixa de papelão. Revirei meu armário e a achei, intacta, desde aquele maldito dia em que comprei aquele maldito jogo que desgraçou minha vida pessoal, minha profissão que eu tanto amava, tudo se foi. Quando eu comecei a revirar aquela caixa, finalmente pude entender o que aquele velho homem queria dizer. Não entendo nada de francês, mais agora sei o que ele queria dizer.
Na caixa continha um grande e antigo álbum de fotografias. Fotografias de família em preto e branco. O que mais me chamou a atenção foi a fotografia de um senhor gordo, que parecia estar na casa dos 40 vestido de chef de cozinha em um restaurante, rodeado de crianças. Ele parecia estar muito contente. Atrás da foto, havia um nome escrito com caneta. Guillaume Chevalier.
Na hora não acreditei no que estava vendo.
-Então ele é o verdadeiro Mr. Mix. Pensei, assustada.
Não queria mais ficar com aquelas coisas. Me sentia sendo observada a noite, tive pesadelos a partir desse dia com aquele homem. Sentia que de alguma forma estava sendo castigada, mas POR QUÊ?!
Revirei a caixa novamente, procurando o endereço daquela estranha loja. Achei um cartão de visitas. Peguei o carro e fui até o estabelecimento, para tirar satisfações sobre aquela caixa que me fizeram levar para casa.
Quando cheguei lá, a senhora oriental que sempre ficava no balcão da loja não estava mas lá. Somente restava aquele senhor. Quando lhe mostrei a caixa, com uma expressão de medo e raiva em minha face, sem dizer nada, ele já sabia o que dizer:
-Foi Guillaume, não foi? Ele também acabou com a minha vida e de minha família- Disse o pobre homem, quase a ponto de desabar em lágrimas - Esse jogo, Mr. Mix, foi criado por ele mesmo. Infelizmente, o verdadeiro Mr. Mix era meu irmão. Quando minha família vivia na França, nós tínhamos um restaurante, da família mesmo. Ele arruinou tudo. Tudo ia bem, quando um dia ele inventou que queria ser o chef de cozinha de nosso restaurante.
-Nós, como a família unida que éramos, concordamos. Só que... só que ele começou a usar nosso estabelecimento para coisas horrendas... - Disse, já chorando.
-Senhor, me desculpe por deixar o senhor mal desse jeito, se não quiser, não precisa falar mais nada, eu acho que essa foto já explica tudo - Disse eu abrindo o álbum de família, bem na foto do chef com as crianças.
O senhor, já recuperado da crise de choro, continuou a falar:
-Guillaume era uma vergonha para toda a nossa família. Atraía as crianças com os doces que fazia. Era só fechar o restaurante que ele começava a chamar as pobres crianças para experimentarem seus "doces especiais". Só que o pagamento que ele exigia pelos doces era outra coisa bem diferente de dinheiro. Foi quando meu pai pegou ele no pulo do gato abusando de uma menininha de 8 anos. Meu pai tinha uma chave mestra do restaurante e quase teve um infarto ao descobrir que seu filho primogênito era um pedófilo.
Quando nossa família descobriu, foi um choque para todos nós. Guillaume foi deserdado, e, com o desespero de ter sido pego no flagra, se suicidou logo após. Mas sua alma ficou impregnada em cada uma das cópias do jogo Mr. Mix. Por isso as crianças entravam em pânico, acordavam gritando para que seus pais salvassem elas de alguma coisa. Você sabe, as crianças tem o dom de sentirem espíritos, e de alguma forma elas devem ter sentido a presença de meu irmão.
Fiquei perplexa com a tragédia familiar daquele vendedor que com certeza deve ter ficado terrivelmente traumatizado pelo resto da vida. Tragédia familiar que deu origem a um jogo macabro, feito para crianças, assim como Guillaume atraía as crianças para o sofrimento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Creepypastas,curiosidades,lendas...
RastgeleAqui tratarei de assuntos no geral,tanto de curiosidades misteriosas até creepypastas...