Prólogo

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Velho. Velho burguês.

- Mato-me. Mato-me todos os dias...

Cansado.

- Mato-me. Mato-me com sal...

Cansado de si mesmo.

- Mas de que vale o sal perante o ouro!

Cansado de si mesmo e da ambição.

- Mato-me. Mato-me a todo momento...

Mas não de uma ambição qualquer.

- E, sim, mato-me. Mato-me com ouro!

Mudaria de ambição.

Pois existem outras. Outras menos desagradáveis.



Era velho. Mas nem tão velho assim. Ainda tinha forças (que pouco usava). Mas era velho, velho da vida.

Era mercante, uma posição almejada em tempos de Monarquia. Dedicou sua vida ao ofício, ao comércio, ao enriquecimento. Mas tudo isso já bastara. Porém disso não via saída.

Aparentava ter uns trinta anos o mercador. Usava vestes finas de bons tecidos, mas não se adornava como era do costume de gente da nobreza. Seus cabelos eram curtos e castanhos, seu rosto, imberbe. Tinha um olhar gentil, mas era um olhar de quem tinha vivido muito mais do que vivera.

- Bom dia meu senhor. Deseja algo?

Um homem saia da sombra projetada pela tenda, revelando sua enrugada face anciã, cujos volumes eram enaltecidos pela luz da alvorada.

- Ah! Bom dia Osef!

Osef era o mercador.

- Oba! É você Augusto! Quais são as boas?

- Boas? Haha! Só preciso de uma capa meu jovem.

Osef, o mercador, vendia vestes e tecidos.

- Vai viajar?

- Quem me dera! Quem me dera! A capa é para um sobrinho meu.

Augusto sim era velho, viajar em sua idade era, claro, fora de cogitação.

- Esses moleques não tem nada a perder não é mesmo?! 

- Pode-se fazer tudo sem cansaço e preocupações haha.

- Mas não tenho capas, meu senhor. É raro alguém comprá-las por aqui.

- Huuum... Nenhumazinha?

Agora a luz da manhã já pousava sobre as roupas da venda de Osef, mostrando, assim, um multicolorido admirável.

- Nenhuma mesmo. Mas o feitio de capas é tão simples que eu mesmo posso fazer uma para o senhor.

- Que bom! Que bom! E quanto custará?

- Vinte peças de prata para o senhor. Farei uma boa capa, venha buscá-la amanhã.

- Ótimo! Muito obrigado! Fique com os deuses!

"Deuses... O único que me favorece é o da fortuna" pensava o mercante. Mas ele já não achava isso tão bom quanto nos velhos tempos.

Então o velho Augusto partia. Realmente partia.


Já era noite. E depois de um longo dia de trabalho recolhia toda sua mercadoria para dentro de casa. A casa era bonita e farta, digna de um comerciante, mas era quieta, quieta demais. Pois Osef não tinha filhos. E sua esposa? Ah... Sua esposa... A coitada morrera cedo, morrera pelas mãos da peste. Agora Osef só tinha duas coisas na vida: a fortuna e a certeza de que o ouro não era lá aquelas coisas.

Depois de jantar, pôs-se a dormir. Mas isso não conseguiu fazer plenamente. Há tempos que tinha seu sono perturbado por pensamentos inquietantes, questionava-se incessantemente enquanto quieto, por isso precisava se ocupar. Levantara-se e lembrara-se da capa que o velho Augusto pedira. Iria confeccioná-la e capricharia o máximo possível para que seu feitio demorasse, fazendo com que seu corpo caísse no sono sem a tortura de um mar de pensamentos.

Já acabara a capa, uma capa vermelha com capuz. Ainda não havia caído no sono, mas seus olhos estavam cansados e logo dormiria. Mas nessas horas ele era provavelmente o único homem desperto de todo o continente. Mas seria mesmo o único?

A porta de madeira se abriu vagarosamente sem fazer ruídos. Osef ficou assustado. Lembrava-se de ter trancado com cadeado a sua porta. Como poderiam abrí-la sem nem fazer barulho? O mercador então se escondeu embaixo de uma mesa na qual estavam muitos tecidos e vestes, muitos até pendiam, e com a pouca iluminação, apenas algumas velas, era o esconderijo perfeito.

"Ladrões?!". Por entre os panos viu um homem adentrar a sua casa cautelosamente. Não dava para ver direito sua feição e nem a cor da sua roupa naquela intensa penumbra. Mas não parecia ser um simples ladrão, pois parecia estar vestido como um viajante, um aventureiro.

Era incrível. Os passos dele não faziam som algum. E assim, em silêncio, se aproximou da mesa com roupas, provavelmente interessado em algum artigo. Ele esticou a mão direita e pegou uma das peças. Mas neste momento ele teve uma surpresa. Um braço saiu por debaixo da mesa e segurou firmemente sua mão que pegara a veste. O ladrão, assustado, ligeiramente desembainhou seu punhal com a mão esquerda.

- Fique quieto e me solte de-va-ga-ri-nho... - disse o ladino sussurrando com uma voz serena e ritmada.

- Se se comportar eu garanto que eu apenas te roubo. - disse ajeitando a lâmina pouco a cima do braço de Osef.

Osef agora podia ver o rosto do ladrão que se agachara para intimidá-lo. Parecia ter uns vinte e poucos anos, mas talvez até menos. Seus cabelos caiam à face, eram lisos e negros como a própria morte, seu rosto era fino e exibia um sorriso sarcástico, profundas olheiras adornavam seus olhos, e seu olhar... um tanto macabro.

O ladino fez um gesto de ameaça com seu punhal, mas ao invés de sentir seu braço ser largado imediatamente como se esperava, sentiu-o ser apertado ainda mais forte. Porém quando foi reagir a tal ato, foi interrompido instantaneamente por palavras súbitas:

- Mas eu não quero que você apenas me roube!!! - gritou Osef com todo o sofrimento do seu ser.

Uma alma atormentada finalmente explode os seus tormentos.


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E aí galera? Acharam esse prólogo interessante? Tomara que não tenham dormido haha. Comentem aí o que acharam, me xinguem, me critiquem, mas comentem alguma coisa aí vai XD. Ainda não teve monstros, magia, referências e essas coisas... Mas juro que no primeiro capítulo depois do prólogo a parada vai ficar mais maneira o/. 

Se gostarem me deem um voto, please! E obrigado por lerem jovens aventureiros!









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⏰ Última atualização: Sep 09, 2016 ⏰

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