Notas de um amor.

REFLEXÕES.

...

Acordei bem cedo naquele domingo, nem meu pai nem minha mãe estavam em casa, então resolvi voltar para a cama e pensar um pouco no dia de ontem. Como eu não consegui perceber que o Renato tinha algum problema? Fisicamente ele parecia normal, mas depois que eu escutei da própria mãe dele sobre o autismo tudo ficou bem evidente, a falta de interação social, os gestos repetitivos de passar a mão no rosto quando está nervoso, a dificuldade em se comunicar, a dificuldade de se manter atento as coisas.Me senti mal por ter pensado que ele apenas estava fazendo alguma piada, acho que eu não sou a melhor pessoa do mundo para lhe dar com isso. Logo após meu turbilhão de pensamentos fui surpreendido com uma mensagem na minha rede social, de uma antiga colega que estudava comigo.

JessikM_@vId4Lok: Hey!!!!!! Vi vc no pré ontem estamos na mesma salaaaaaaa... Que sorte!!! Vc ta bem?

Kevin_@louco: olá Jessika, sinto muito nem te vi, cheguei atrasado sentei na primeira cadeira que vi sozinha. Estou bem sim e você?

JessikM_@vId4Lok: Estou bem... É verdade nem reparei que vc tinha chegado atrasado estava morrendo de rir e só te reconheci quando você levantou para ir ao banheiro

Kevin_@louco: Estavam rindo de que?

JessikM_@vId4Lok: Aquele menino que estava sentado do seu lado tinha chegando um pouco depois que o prof começou a aula e ficou parado no meio da sala ngm tava entendendo oq aquele esquisito queria kkkkkk o prof perguntou se ele estava perdido e ele começou a tremer, quando ele fez isso repreendi em nome de Jesus, vai que a pomba gira se manifestasse e por isso todo mundo começou a rir KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKJKKKKKJKKKKKKKKKKKKKKKKkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkK

Kevin_@louco: ~ indisponível ~

Logo após bloquear aquela sem noção me senti ainda pior pelo Renato, imaginei todas as vezes que ele deve ter sofrido com aquilo, acho que ele no fundo era bem mais forte do que todos imaginavam.

...

No dia seguinte me sentia mais disposto a enfrentar tudo aquilo, eu acho.

Tum...tum...tum (fazia meu celular alertando que era 6:00 da manhã).

Eu levantei, me arrumei, dei um bom dia para o meu pai que estava na sala mexendo em uma caixa cheias de papeis, por sorte quando entrei no elevador vi minha mãe e ela me deu carona até o pré e por essa razão acabei chegando cedo. Quando cheguei não tive coragem de ir para a sala então resolvi dar meia voltar e ir a um mercado ali perto que eu tinha visto quando minha mãe me trouxe. Acabei demorando mais do que eu imaginei, porém, ainda não estava atrasado, quando entrei na sala Jessika acenou para mim e eu fiquei me perguntando se ela era louca, mas ignorei e fui sentar no mesmo lugar que tinha sentado ontem. Não demorou um minuto quando vi Renato cruzar a porta, ele estava com um casaco azul, uma blusa preta, uma bermuda jeans azul escura e um all star branco. Como no dia anterior ele ficou parado no meio da sala, quando reparei que todos o olhavam, me levantei e fui até o seu lado,  sorri enquanto ele me encarava, passei minha mão ao redor de seu braço e fiz sinal para que ele me seguisse, e por um milagre divino ele fez isso sem se opor.

        - Bom dia— disse a ele quando ele se sentou.

Esperei por uma resposta, mas apenas consegui um olhar distante e cansado, reparei que ele me observava, tirei o caderno da mochila e comecei a rabiscar, ele olhava para o meu caderno sem o menor pudor e em meio aos meus rabiscos eu o olhava e sorria. Depois de algum tempo focado em terminar o desenho reparei que Renato estava passando a mão no rosto e tremendo, batendo o queixo e fazendo um barulho um pouco alto, garanto que se a turma não tivesse falando muito não duvido nada que naquele momento estariam todos olhando para a nossa cara.