Prólogo

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Nasci numa quarta-feira ensolarada, às dez horas da manhã, no dia quinze de fevereiro de mil novecentos e noventa.  Exatamente vinte e três anos depois, numa chuvosa terça-feira, as vinte e duas horas do dia quinze de fevereiro de dois mil e treze, acredito que irei morrer. 

Sempre soube que morreria cedo, mas achava que ao menos chegaria aos vinte e cinco. Um presente de aniversário verdadeiramente inusitado, pelo menos ninguém tinha me dado isso antes. Também não era assim que pensava que iria, afinal, esse é o tipo de coisa que só passa naqueles jornais sensacionalistas, não?

Não sinto dor, quer dizer, por fora, nesse exato momento, estou gritando em agonia, mas, por outro lado, é como se nada sentisse, como se minha mente e corpo fossem duas coisas inteiramente distintas. No fundo, estou rindo da ironia. Como uma pequena escolha, um flerte despretensioso que uma garota de dezesseis anos burra joga no ar, pode terminar assim? Destruir uma vida com tanta facilidade.

Ao menos agora tenho um motivo para justificar todo o ódio que sinto pelo meu aniversário. Nunca vi sentido em tal comemoração, ganhar presentes e comer bolo por estar um ano mais perto da morte, que coisa ridícula. Era impossível adivinhar que estava tão perto assim.

Meus olhos continuam abertos e tudo parece se passar em câmera lenta, tento mexer minha boca só que não emito som algum, minha visão está embaçada e tem tantas pessoas a minha volta. Médicos, socorristas, pessoas curiosas? Não tenho certeza. Minha cabeça roda me deixando incerta de onde estou. Pelo menos ainda estou consciente, provavelmente por pouco tempo.

Gradualmente as coisas começam a desaparecer, vou perdendo a noção do mundo exterior e tudo se transforma num profundo breu. Por toda minha existência, considerei uma total estupidez aquele negocio que dizer que quando se está a beira da morte, você vê toda sua vida passar diante de seus olhos.

Eu estava errada.

OliviaOnde histórias criam vida. Descubra agora