Prólogo

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ANDREW ASHWORTH

Fazia alguns minutos desde que o jogo havia começado e o treinador Sebastian Woods estava mais exigente que nunca. Havíamos perdido dois jogos seguidos e se continuássemos nesse ritmo, não terminaríamos a temporada em uma posição de excelência para nos classificarmos para o Campeonato Regional de Lacrosse.

Mas depois do que eu havia presenciado ontem, minha mente vagava e minha concentração no jogo de hoje não estava colaborando para o meu desempenho. E para piorar minha situação, a causa de toda essa raiva que habitava dentro de mim, estava a minha frente nesse exato momento pronunciando a seguinte frase: "Enquanto você tava compondo suas músicas inúteis dentro do seu quarto, eu tava fodendo a sua namorada no meu". Eu só consegui ficar calmo depois de desfigurar o rosto do imbecil à minha frente e ser expulso do campo a pontapés pelo treinador Woods. Fui mandado para a enfermaria imediatamente, visto que meu rosto estava coberto de sangue, apesar de eu não sentir dor alguma nessa região. Os nós dos meus dedos estavam completamente machucados e depois que a raiva foi passando e meu sangue esfriando, a dor em minhas mãos começou a ficar insuportável.

Os olhares de todos na enfermaria eram direcionados a mim, incluindo meus amigos, que me lançavam olhares de julgamento. Ao passar por Jared e vê-lo inconsciente deitado em uma das macas, rodeado por nossos amigos, foi quando eu percebi a merda que havia feito. Entrei no último box vago da enfermaria, fechei a cortina e me deitei na maca. Quando fechei meus olhos tentando me distrair da dor, alguém abriu a cortina e se sentou perto dos meus pés. Era Amber.

- Eu posso saber que merda foi essa, Drew? - ela me olhava de maneira furiosa, ajeitando a sua saia de animadora de torcida.

- Eu não te devo explicações desde o momento que você decidiu que eu não era mais conveniente pra você. Cai fora, na moral. - ela continuou ali, com os braços cruzados e fazendo aquela cara de brava que me deixava doido.

- Eu sou sua namorada! Você me deve explicações, sim! Jared ainda está desacordado! Você tem noção da encrenca em que se meteu? Estão querendo expulsar você do time! - continuei olhando para um ponto fixo à minha frente evitando qualquer contato visual com ela.

- Não é possível que você ainda não entendeu, caralho! Você não é mais minha namorada! E você pode, por favor, parar de fingir que se importa comigo? - nesse momento ela se levantou e parou ao meu lado.

- Eu não vou desistir fácil de você, Ashworth. E o pior é que você sabe disso. - dizendo isso ela deu meia volta e eu fiquei ali até ser atendido por uma das enfermeiras.

A ideia de sair do time me assustava, então assim que fui liberado da enfermaria com um curativo nas mãos e no supercílio, fui direto conversar com o treinador e negociar uma possível volta. Ele estava sentado em sua mesa e quando notou minha aproximação, cruzou os braços e me olhou com seriedade.

- Você acabou de sair da enfermaria, então se faça o favor de ir embora. Agora! - ele ordenou, mas não o obedeci.

- Ouvi boatos de que eu seria expulso do time, isso não é verdade, é? - ele continuava com uma expressão impassível, contraindo uma grande quantidade de músculos faciais.

- Andrew, depois do que você fez é quase óbvio que será expulso dos Blackets! E não tente uma negociação, o que você fez foi imperdoável! Passe amanhã aqui para assinar os papéis. - ele disse em um tom acusatório. Por impulso dei um soco na mesa, sentindo meus dedos formigarem dentro do curativo. Nesse momento, o treinador me lançou um olhar furioso.

- Mas treinador, eu...

- Você não tem o mínimo de controle emocional! Sabe que o Jared gosta de te provocar, não estou defendo ele, mas você precisava ter arrebentado a cara do garoto?

- Eu peguei ele transando com a minha namorada! E ele ainda colocou a culpa em mim, falando que fico mais tempo compondo do que dando atenção à Amber. Eu arrebentaria a cara dele de novo, se necessário!

- Ex namorada... E talvez ele esteja certo. Talvez a música seja uma forma de você aprender a se controlar melhor.

No dia seguinte, eu estava na porta da sala do treinador, com os olhos cheios de lágrimas e chorando igual a uma criança. Eu estava no time desde o meu primeiro ano, então com certeza sentiria falta de entrar em campo.

O treinador já me esperava em sua sala com o mesmo semblante sério do dia anterior. Quando fiz menção de pegar a caneta que estava pousada sobre os papéis a minha frente, ele começou a dizer:

- Talvez eu consiga te dar uma segunda chance... - meus olhos brilharam por um momento, mas deixei com que ele concluísse o seu raciocínio. - Se você me prometer se controlar e tentar conviver harmoniosamente com seus amigos.

E foi nesse momento que eu senti uma chavinha virando dentro da minha mente, que fez com que eu percebesse o quão tóxico era o ambiente em que eu vivia. Meus "amigos" eram pessoas de péssima índole, sempre me influenciavam a fazer coisas das quais me arrependo todos os dias da minha vida. Sempre colocando a popularidade em primeiro plano e a humanidade em último. Por isso, decidi fazer algo que eu jamais imaginei: eu iria abandonar o lacrosse por escolha própria.

O treinador Woods ficou completamente atônito, pois não esperava perder um de seus melhores jogadores faltando apenas duas semanas para o próximo amistoso.

Assim que terminei de assinar os papéis, fui até a secretaria onde fiz minha inscrição na equipe que mudaria completamente o rumo da minha vida: o Clube de Música.

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