24 HORAS ANTES
EM ALGUM LUGAR QUALQUER DO MUNDO
- VAMOS EMILY! NÃO TEM NADA AÍ.
Eu olhei em volta e suspirei. Não acreditava que mais uma vez não havia nada e nem ninguém. Eu queria gritar de frustação ou chutar algo por raiva, para me livrar daquela sensação ruim, mas respirei fundo e respondi tentando ser o mais educada possível.
- Podem ir subindo. Eu estou logo atrás de vocês.
Liam deu de ombros, ele era realmente uma ótima pessoa, mas não compreendia que eu não precisa de babá. Respirei fundo novamente, pegando a mochila e a minha arma que eu havia colocado no chão.
Comecei a andar de volta, na direção do bimotor a passos lentos, pois não queria sair daquele lugar e voltar para casa, sendo a porta-voz de más notícias
A Colônia não precisava de mais problemas. Aquela doença maldita era a causadora de tudo isso, de tanto sofrimento e dor e de ter transformado pessoas em...
- Devoradores! Corre Emily!
Exitei por um momento, achando que ele apenas tinha completado meu pensamento. Mas não, um grupo de devoradores corria em minha direção, prontos para acabar com as pessoas que ainda restavam. Eles não costumavam atacar durante o dia, pois o sol era como ácido para eles, ou seja, queimava muito suas peles e isso estava realmente acontecendo, porém eles não se importavam.
- Droga! - gritei mirando a arma na cabeça deles e disparando.
- São muitos, anda logo. - Halsey gritou em resposta, indo até mim para me ajudar. - Vai, entra.
Me joguei no chão gelado, do pequeno bimotor, com Liam batendo a porta com violência, enquanto Youki dava partida.
Os devoradores se jogaram contra o avião, mas logo se afastaram percebendo que aquilo não iria funcionar. Eles deveriam estar desesperados por alimento, para se expor ao sol dessa maneira.
- Essa foi por pouco. - Comentou Halsey, enquanto ela me ajudava a levantar. - O Sol não está impedindo que eles ataquem.
- Não mesmo. Parecem tão famintos que nem ligam para a dor.
Enquanto eu me joguei no banco como um velho de oitenta anos, ela sentou-se graciosamente cruzando as pernas, predendo o cabelo castanho e sedoso em um coque. Dava até raiva por ela ser tão linda, mas ao mesmo eu a amava por ser tão legal comigo.
Tirei a poeira da roupa e soltei o ar antes preso nos meus pulmões. Olhei para Liam que dava orientação para Sebastian, o novo soldado que nos ajudaria em nossas futuras buscas.
- Ele é gatinho. Você não acha? - Halsey disse apontando o queixo na direção de Sebastian.
- Não estamos aqui para admirar a beleza dos garotos. Estamos aqui a trabalho. - respondi ríspida.
- Nossa calma, eu só queria aliviar a tensão.
Ela ergueu os braços e eu sorri. Olhando para os garotos.
- Desculpe. Eu sei que você não fez por mal. O problema sou eu, ando tão estressada, que cortar os pulsos não estão mais adiantando.
- Credo Emily, você é louca.
- É bricadeira - disse sorrindo e dei um empurrão nela que também sorriu.
Sebastian era realmente bem bonitinho, mas esse fato não merecia minha atenção. Não agora.
Eu quase sempre ficava enjoada por causa dos vôos no bimotor, mas aquele fato não me incomodava, pois sabia que o sacrifício sempre iria valer a pena. Enquanto, colocava os pensamentos em ordem apoiei minha cabeça na mochila, para dormir.
Eu imaginei minha cama esperando por mim na Colônia. Eu sorri com esse pensamento. Aquele lugar era meu porto seguro e o único que aparentemente ainda possuía vida, - apesar de saber que poderia existir outros - não era muito grande e não tinha uma das melhores estruturas, mas mesmo assim eu podia chama-lo de lar.
- Pensando na sua cama? - Liam sorriu para mim.
- Como consegue sempre ler meus pensamentos? - respondi também sorrindo.
- Você sabe, eu me esforço.
Tudo o que ele falava me trazia conforto eu o considerava como um irmão.
- Obrigada.
- Pelo que Ems?
- Por sempre ser assim. Por sempre estampar esse sorriso no rosto, me lembrando que nem tudo está perdido. Ou pelo menos quase tudo.
Ele sorriu e deu um tapinha na minha mão antes de voltar para o lado de Youki que pilotava o avião muito concentrado. O jovem coreano era inteligente e obviamente não precisava da ajuda de Liam, mas era muito educado para dizer isso. Diferente de você, meu subconsciente zomba.
Fecho os olhos, pensando em tudo; tudo mesmo.
Eu ja estava acostumada com essa situação, já estava acostumada com essa vida, sempre correndo perigo e sempre esperando que ninguém morrese, já que havia perdido pessoas demais.
As horas demoravam para passar, mas assim que estava pegando no sono Liam anunciou.
- Preparem-se para o pouso - Liam prendeu o sinto em volta da cintura e eu fiz o mesmo. - Enfim chegamos em casa.
Eu olhei pela janela e vi alguns rostos ansiosos, que logo iriam se decepcionar com as notícias. Senti um frio na barriga, não gostava de ser a porta voz de coisas ruins.
Ao descer eu notei uma certa comoção propagando-se pelo ar, mas evidentemente era de esperança, como sempre. Uma esperança de que pessoas novas viriam e as coisas melhorariam. Natalie responsável pela Colônia apareceu em meio aos outros. Ela estava inesperadamente radiante e quando percebi já estava correndo até nossa direção.
- Temos ótimas notícias! - Ela parecia realmente contente.
- Não podemos dizer o mesmo. - Halsey comentou.
Eu baixei a cabeça constrangida, mas ela fez um sinal como se aquilo não a abalasse.
Eu não estava entendendo.
- Quais notícias? - Halsey perguntou curiosa, tirando as palavras da minha boca.
- Recebemos mensagens por rádio de pessoas. Elas estão a espera de nossa ajuda, ou seja, querem vir para cá.
Por aquela eu realmente não esperava.
- O quê isso significa? - Perguntei atônita com a notícia.
- Significa que vocês partem amanhã em busca de sobreviventes.
Inesperadamente eu abri um sorriso e me senti um pouco mais leve.
O mundo pode ter perdido grande parte da população, quase a maioria. Mas a esperança não tinha sido perdida. Eu acreditava e eles também, então o que eu mais poderia querer?
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Sem Saída
Science-FictionEmily poderia até desistir, mas isso não estava em seus planos, pois para ela a única opção era sobreviver. Depois de várias tentativas frustradas para encontrar sobreviventes ao redor do mundo, após uma doença dizimar grande parte da população e tr...