High Schooler

1. Há coisas que são preciosas por não durarem

"Há coisas que são preciosas por não durarem."
O Retrato de Dorian Gray

CHLOE MILLS

  Era Dia de Ação de Graças e o estádio municipal de Morgan Hill estava lotado. As arquibancadas coloridas de azul marinho, vermelho e branco evidenciavam que a Live Oak High School era maioria na torcida. Havia estudantes de todas as escolas locais, então a mistura de cores era perceptível a medida em que eu me afastava da aglomeração de alunos da grandiosa Live Oak, que por coincidência ou não, era a escola em que eu estudava.

  O jogo de Ação de Graças é o mais importante, porque é nessa data que ocorre o encerramento da temporada da NCAA (ou Liga Universitária de Futebol Americano) que teve início em setembro no Dia do Trabalho. E apesar de alunos de várias escolas locais estarem presentes, são os universitários que tomam conta do gramado.

  Os times das universidades de San Jose (Spartans) e San Francisco (Dons) já estavam no gramado e a torcida estava muito agitada. As animadoras de torcida vibravam a cada conquista e encorajavam os jogadores em cada deslize. O time de San Jose foi o vencedor e comemoramos jogando nossas pipocas para o alto. Meu pai me repreendeu ao ver a bagunça que fiz no chão, mas quando ele olhou para o lado e viu que todo mundo estava fazendo a mesma coisa, logo pegou um punhado de pipoca em meu balde e jogou para o alto comemorando também. Estávamos mesmo torcendo para os Spartans!

  No caminho para casa, minha irmã comentava sobre o jogo, criticando as jogadas e o empenho dos jogadores. Essa é Sally Mills, a pessoa mais irritante da minha família e que reclama de toda e qualquer coisa.

   — Não acho que o jogo foi ruim, Sally. Os caras jogaram super bem! Principalmente o Finnegan Newill. Sabia que ele é irmão da Amber? — esperei pela resposta de minha irmã, que só revirou os olhos e continuou olhando para fora da janela do carro. Ela e papai iam na frente, enquanto eu estava atrás. — Claro que você o conhece. Amber é sua melhor amiga. Pergunta idiota a minha.

   — Ele estudava na Live Oak muito antes da gente, Chloe. Está se formando em medicina esse ano. Esse foi o último jogo dele pelos Spartans, já que agora ele trabalha no South Valley Institute e não tem tempo para coisas idiotas como esses jogos, por exemplo.

  — Ele trabalha no Centro de Neurologia? Não querendo subestimar a capacidade do cara, mas às vezes eu penso que nem cérebro ele tem. Machista babaca do caralho! Pelo menos ele é bom em campo... Mas peraí, como você sabe todas essas coisas sobre ele? Sei que Amber é sua amiga mas ela nunca fala sobre o Finnegan. — Minha irmã deu de ombros e continuou ouvindo músicas em seu celular.

  Minha mãe não foi ao jogo porque ficou preparando as comidas para o nosso jantar de Ação de Graças. Assim que chegamos em casa senti o cheiro da tradicional torta de maçã que era receita de vovó Anna.

   — Eu queria tanto poder comer essa torta agora... — Mamãe me olhou por cima dos ombros. O pano de prato recostado ali fez com que ela erguesse um pouco mais o pescoço para me ver.

   — Você não tem um pingo de vergonha na cara! Além de ter furado comigo como ajudante, ainda está querendo comer antes do jantar? Traidora. — Mamãe sorria enquanto enfeitava a torta com a massa amanteigada e colocava pedaços de maçã na superfície.

   — Me desculpe! Eu posso fazer a calda! — Mamãe bateu as mãos no pano de prato e o entregou a mim. Esse era um símbolo de que a cozinha estaria no meu comando a partir daquele momento.