25% AZUL

22 4 3
                                    


  Então tudo foi acontecendo.

  Quando ele tentava dormir, não conseguia.

  Logo acordava, queimando.

  Febre.

  Quando estava acordado, implorava para que você não deixasse Eles o pegar.

  Delírios.

  À beira do abismo da loucura.

  Inconsciente mentiroso.

  Chegava a calmaria.

  Junto vinham as explicações:

  "A mochila" - ele disse.

  Voz calma

  Arrastada.

  Doente.

  Doendo.

  Você pegou a mochila.

  "Pegue. Dentro".

  Folhas.

  Um bloco com um monte delas. Limpinhas!

  Outra maior. Bem dobrada.

  Quando você a desdobrou, com cuidado, viu, dentro dela, figuras estranhas formadas por linhas. Muitas linhas.

  Uma das linhas, a maior de todas, feita bem depois das outras, era azul.

  Azul.

  "Um mapa" - ele disse. "Serve para levar à algum lugar. O ponto vermelho."

  Você procurou.

  O encontrou pingado em uma das extremidades da linha azul.

  "Esse ponto somos nós. É você. Estamos aí. Logo você irá partir dele. Vai seguir pela linha azul."

  E com os olhos, você seguiu a linha azul até o "X" onde ela acabava.

  "Na marcação no final da linha" - ele revelou, "é lá que vai acontecer. Lá é o único lugar onde ainda acontece."

  Então ele se entregou ao cansaço.

  Dormiu.

  Você desejou que aquele momento durasse o bastante.

  Caminhou até ele, colocando a mochila de volta no chão.

  As feridas pioravam a cada momento.

  Enxugou a secreção que escorria, com uma parte do lençol que ainda estava limpa.

  "Descansa".

  Voltou para a mochila.

  O último pedaço de papel era um recorte. Escuro.

  Uma notícia de muito tempo atrás.

  Você leu.

  Sentiu.

  Havia uma fotografia.

  Foi a primeira vez que você viu.

  A beleza era tão grande e simples que te fez chorar.

  Ele continuou dormindo.

  A respiração forçada.

  Algum tempo depois, acabou.

  O peito que subia e descia, suavemente, parou de mexer.

  Ele deixou de existir como Antes, e passou a existir como Agora.

  É tudo uma mutação. Uma adaptação para poder existir.

  E você sentiu medo do barulho do próprio choro.

  O momento durou.


CONTINUA...



Azul - A Cor do Último SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora