CAPÍTULO 28

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_ Meu amor, não me machuque.

Diz a si mesma. Parada ali, com a cabeça baixa, cabelos negros e sedosos sobre os ombros finos, se aproxima mexendo o corpo. De um lado para o outro.

_ O que quer? _ digo. Ainda assustada com o pulo de trás da árvore.

Não me responde.

_ O que... _ ela fica ainda mais perto.

Minha respiração pesa. A espinha enrijece, consigo sentir o gosto salgado do suor na boca.

Está perante a mim. Lentamente sua cabeça sobe, muito lentamente.

Posso ver seus lábios negros, posso sentir seu hálito podre.

Posso ver seu nariz deformado, posso... seu rosto... não há um rosto.

_ Você estar morta. _ me diz empurrando-me no chão gelado.

Grito por papai.

A queda fez-me ver um zumbi em cima de mim. Tentando morder meu pescoço e arrancar fora minha jugular.

Luto contra aquilo que um dia foi uma mulher de 30 e pouco anos, robusta e porca. Mas ela é maior do que eu. Pesada. Escuto o estalar dos dentes pretos muito próximo do meu ouvido. Era meu fim.

Uma flecha atravessa a têmpora da desgraçada. Seu corpo pesado e nojento cai ao lado. Posso ver seu rosto. Eu posso.

_ Você está bem? _ Daryl estende a mão oferecendo ajuda. A aceito.

_ Não, não estou.

_ Você foi mordida? _ vasculha meu corpo pelos olhos. Ia apalpa-lo mas bati em sua mão.

_ Não. Qual é o seu problema?

Me arrependo segundos depois ao ver a reação feita na sua face suja.
_ Qual é o meu problema? Quer saber a porra do meu problema?

_ Desabafa. Não aguento mais esta sua cara de idiota inconformado. Me DIZ que diabos você sente?

_ Não adianta, Rose. Você não dá a mínima. É só uma vadia mimada. Egoísta! Sua egoísta filha da puta! Você, vo-cê... não tinha direito... eu, nós poderíamos ter tido o bebê... nosso filho... você o matou. Sabe por quê? Hein, Rose Bluve Grimes?

_ Por que, Daryl? Me diga alto e claro.

_ Porque é uma covarde. Uma maldita vadia covarde.

A voz dele se afogou em lágrimas. Senti um vazio rondando meu peito. Um choro preso na garganta, fiquei ali apenas ouvindo a tudo sem recrutar os xingamentos, eles não me incomodam, o que realmente incomoda é a tristeza que proporciono aquele homem. Daryl não mereciam ter eu ao seu lado.

_ Daryl, agora escute: sim, sou egoísta. Eu sou uma puta egoísta. É, eu matei o parasita dentro de mim, e eu tenho pleno direito sobre isso. Meu corpo. E sim, sou uma covarde. Não posso fingir sentir muito pois não sinto. Eu não posso lhe pedir desculpas, eu fiz, merda. Ou você vive com isso e aceita, ou me deixa e vive um romance digno de filme com outra.

_ É o que tem para me dizer? _ seca as lágrimas.

_ Sim.

Respondo sem um pingo de compaixão.

_ Acabou, Rose. A partir de agora só fale comigo se for necessário. Ah, avise ao seu pai que a horda já passou. Estou no carro esperando.

Acabou, Rose. Rose está acabado. Morto. Enterrado.

Comecei a chorar, soluçando.

Nem precisei ir até os outros. Ouvi a voz de Glenn atrás de mim.

_ O que houve, Rose? Ouvimos gritos seus.

_ Nada, Glenn. Me assustei com este daí. _ aponto para a zumbi morta. _ O Daryl disse que a horda já se foi. Podemos voltar.

Me levanto limpando a neve da calça, minhas lágrimas congelou sobre meu rosto.

_ Glenn vai na frente. Nós vamos logo. _ entrelaçado comigo, papai diz a Glenn.

Ele não faz perguntas, apenas acena com a cabeça.

Papai dar um tempo a Glenn sair antes de começar a falar.

_ Me diz, querida.

Começo novamente a chorar. Não consigo dizer ou controlar aquela situação era como se tudo fosse algo natural, como se a tristeza já fizesse parte de mim.

Papai entende pelas minhas lágrimas. Apenas me abraça, forte.

_ Não queria que passasse por isso. Tentei te proteger disso. _ afagava meu cabelo. _ oh, meu amor, lamento muito.

O abraçava ainda mais forte.

Busco refúgio nos braços do único homem que me amou de verdade. Sempre irá me amar. Até o fim.

Se este já não é o fim.

The Walking Dead: Algo para temer [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora