CAPÍTULO XVII CHANTAGEM

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Três dias levou para que se sentisse totalmente curado.

Naquele dia tinha a intenção de ir à Riachão novamente retomar o projeto da venda do anel. Mas como acordou tarde deixou para o dia seguinte. Era uma quinta-feira ainda mais quente que os outros dias. Raimundo continuava a importuná-lo com a ideia de ir a São Paulo. Além disso, a presença assídua dos policiais fazendo ronda no centro da cidade agitava-lhe o espírito.

Raimundo, que agora passava os dias enfiado à casa do pai, em busca de algum emprego ocasional que pudesse surgir à Rua, pouco lhe dava espaço para sequer admirar a jóia em seus últimos dias, como presumia.

Depois do almoço Seu Mario queria testar como estava o intestino e levou Maria para um passeio. Não queria ir a lugar algum, era só uma espécie de ensaio para a viagem do dia seguinte. Depois de cavalgar uns dez minutos deu-se por satisfeito. Apesar de ter dado voltas à quadra principal da cidade deu-se por acaso à rua de Gideão sem que percebesse, pois vinha de cabeça baixa e perdido nos pensamentos.

Dona Chica estava à porta da casa, como se espreitasse a rua a passagem do velho. Não esperou sequer que ele chegasse à porta. Correu-lhe ao encontro e tomou a mão ao pescoço de Maria. Era aliás, a primeira vez que mulher e burra tinham contato. De cara Maria não lhe afeiçoou, achou nela o ar de bruxa que tanto Seu Mario dizia. E buscava soltar-se de suas mãos.

_ Preciso falar contigo, benzinho! Disse ela toda maliciosa.

_ Tenho nada pra falar contigo, traste.

_ Ah acho que você não entendeu ainda, não é, Mario? Agora, tu ta nas minhas mãos. Vais comer aqui, ó. Vai ser o meu amor, na marra.

Faltou pouco para que ele caísse de cima de Maria.

Acometido de uma vertigem, Seu Mario, desceu da burrinha e nem sabia o que fazer ou falar. Ficou ali, como uma presa de serpente que apenas espera o seu fim.

_ Olhe, não vamos nos falar aqui na rua não, mais tarde vou em tua casa.

A vontade de xingar era enorme. Tinha até vontade de espancá-la, mas sabia que estava nas cordas com ela. Era evidente que ao menor deslize de sua parte ela o entregaria à polícia. Tinha medo e por isso ficou calado. A mulher virou as costas e Maria mostrou-lhe a língua.

Quase a diarréia voltou. Chegou a casa totalmente desnorteado. O filho se arrumava para ir embora. Ficou em silêncio até que ele se fosse, e depois começou a praguejar.

_ Aquela miserável, filha de um cabrunco, deveria ter agarrado ela pelo pescoço.

Passou o restante da tarde pensando um meio de escapar àquela cilada. Não havia outro meio a não ser a venda do anel.

Seu Mario estava cansado. Não apenas por aquele dia, mas pela luta que travava dia após dia desde que tomou o anel do chão.

Sentado à costumeira banqueta ficou olhando para o nada quando sentiu um perfume fortíssimo extremamente cítrico e doce, um misto de laranja e algodão-doce que quase o embrulhou o estômago. Era Dona Chica que acabava de chegar. Além do vestido estampado com flores amarelas gigantescas, o batom vermelho escarlate e o excesso de maquiagem intensificavam horror a figura apavorante que se apresentava. Estava vestida para uma festa. Seu Mario, entretanto, a achava mais parecida a uma puta para o bordel.

A porta como sempre aberta não ofereceu resistência à entrada da mulher.

Caminhou em direção a Seu Mario que estava congelado, passou a mão em seu rosto e começou a falar em voz baixa e sensual.

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