Capítulo 1

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Talvez, minha memória me traia um pouco, mas tratando-se de um evento que completou minha satisfação pessoal, ainda lembro de algumas coisas. Se minha mente guarda o modo como eram as mãos dele há mais de dez anos atrás, por que não os detalhes do dia em que o tipo de relação que tínhamos começou a mudar? Bendito reencontro!

Era só mais um dia comum. Eu acordei no meu apartamento que ainda precisaria dar muito duro para terminar de pagar, passei pelo meu ritual matinal até estar pronta e abandonei o edifício em meu carro sem nem se quer comer ou olhar para mar como pensei que faria sempre ao me mudar para cá. Na adolescência, eu diria que tudo aquilo era fútil e pensaria que de fato me manteria num micro apartamento até me casar e ir para uma casa de verdade com alguém. O que fiz nos anos anteriores ao que eu vivia não importa agora. Apenas quero mostrar o quão inusitado fora o evento.

É claro que sendo um dia como qualquer outro, eu encarava a merda do trânsito nesta cidade tão pequena. Falamos de duzentos mil habitantes, mas talvez uma população flutuante que supere isto. Confesso que eu estava um pouco mais atrasada que de costume, graças a um acidente de carro próximo a um condomínio de luxo que eu sempre contemplava. A desordem sempre reinou por aqui.

Imagine só: quase uma hora para chegar a um dos polos empresariais de uma cidade do interior. Isso porque eu nunca morei numa cidade vizinha, imagine se fosse o caso.

Obviamente eu estava bastante estressada. Nem se quer poderia sentar no refeitório da empresa para tomar meu café da manhã. Ao menos, era uma sexta, eu havia terminado o trabalho daquela semana, sentaria na minha mesa e trabalharia no meu doutorado.

Como de costume nos dias tumultuados, ao entrar na base perdi quase cinco minutos procurando uma bendita vaga no estacionamento. Me permiti simplesmente suspirar aliviada ao encontrar e finalmente estacionar o veículo. Eu ainda devia agradecer por não trabalhar numa dessas empresas em que eles questionam se você é da National, ou da Oilwell, tomando seu tempo no simples ato de estacionar numa vaga qualquer.

Coloquei meu crachá no pescoço, peguei meu capacete caso precisasse olhar algo e minha bolsa pesada, graças ao macacão de emergência estava no meu ombro. Sendo uma pessoa vaidosa, dei uma olhada no retrovisor, endireitando o cabelo e tirando a chave da ignição. Saí do carro e o tranquei, olhando ao meu redor para lembrar o carro estava, porque cresci, mas nunca deixei de ser atrapalhada e esquecida.

Me equilibrei em meus saltos, andando o mais rápido possível para alcançar o prédio. Ao entrar, bati ponto como sempre me exigiram e segui para meu setor, já rezando para não levar uma bronca. Falei com as pessoas que passaram por mim, sendo suficiente algumas vezes apenas um sorriso.

Ao alcançar minha mesa, vi meu chefe sentado em minha cadeira e meu coração disparou. Não era para menos! Estes gringos por aí podem ser muito legais, mas não pense em dar mole e prejudicar o setor, ou o nome deles.

— Senhor Rowell, bom dia!— lutei para não gaguejar, pondo meus pertences na mesa.

— Bom dia, Aurora!— até hoje acho o modo como ele pronuncia meu nome é cômico.

— Me desculpe pelo atraso, é que...

— Querida, se for para ter uma mulher linda como você todos os dias no setor, pode se atrasar!— me interrompeu com um dos comentários mais estranhos que já ouvi.

E naquele instante, ficou claro para mim que ele queria algo. Meu chefe não costumava fazer esse tipo de elogio. Tudo bem, eu sempre me achei o patinho feio e até era na adolescência, mas confesso que com o tempo melhorei. Quando você amadurece, as espinhas sumem, as sobrancelhas e o cabelo melhoram e o dinheiro ajuda. Eu não precisava mais depender do que meus pais estavam dispostos a pagar e me enfiar em jeans largos. Levava algumas cantadas por aí, até mesmo na empresa, mas um comentário desses vindo do meu chefe? Não seria por qualquer razão!

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⏰ Última atualização: Aug 05, 2016 ⏰

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