A Besta, único.

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''Não tema o escuro da noite, Hoseok; não tema os monstros debaixo da sua cama.''

Suor.

O suor preenchia minha cama e, mais uma vez eu havia acordado completamente encharcado - e aterrorizado. O motivo? O mesmo de sempre. O mesmo pesadelo, o mesmo monstro que vem perturbando meu sono desde que eu era pequeno; buracos negros, voz apavorante. Era sempre a mesma coisa, mas, depois de tantos anos, eu já havia superado boa parte do meu terror, que tornou-se mais um trauma, conforme o pesadelo ia se estendendo. Aquela mesma entidade que me apavorou aos seis anos de idade, me apavora até hoje, não importa quanto tempo se passe, ele estaria ali; ao pé da minha cama, dentro do meu armário, no espelho do banheiro; sussurrando palavras horrorosas ao meu ouvido, enquanto me encara. O olhar pesado, como se carregasse o maior fardo do mundo. A voz mais tenebrosa que eu ouvi em todos os meus dezesseis anos de vida, a que me fez chorar durante anos e tremer todos os ossos do meu corpo por noites longas. Passei noites em claro, ouvindo cada sussurro que ele me dirigia, sentindo suas mãos gélidas tocarem meu corpo; da ponta dos pés até o último fio de cabelo, atrás de minha nuca.

Eu nunca conseguia voltar a dormir quando ele aparecia; garantindo-me sempre, em sua última frase, um pouco antes de desaparecer em algum canto do meu quarto, rindo para mim, de mim; não esquecera sequer uma vez, deixando bem claro sua verdadeira intenção; ''Vou atormentar cada minuto do seu dia, tornando-os os piores que viverá; vou roubar cada segundo dos seus sonhos, tornando-os os mais escuros, e continuarei, cada vez pior. Até que seja meu.'' e, claro, eu caia no choro, acordando toda minha família, que acabavam encontrando-me na cama, sentando, chorando e congelando em puro medo. Não tinha coragem de fechar os olhos para voltar a dormir, mesmo que Mamãe afagasse meus cabelos. Eu tinha muito medo de cair naquele pesadelo novamente, sempre sendo perseguido pelo meu maior medo; ele, que enfiava-se em cada cantinho dos lugares onde eu habitava, ele que sempre me encontrava, fosse na escola, em casa, na rua. Deixei de executar minhas atividades cotidianas, dando lugar aos surtos histéricos que ocorriam quando ele sorria; o que me rendeu quatro anos de terapia intensiva e muitas visitas aos psicólogos daquela cidade, que tentavam a todo custo entender o que acontecia comigo. Uma pena que eu não podia lhes contar absolutamente nada, porque ele me seguia até mesmo nas consultas semanais.

No entanto, de um ano para cá, algumas coisas mudaram, as visitas, antes diárias, tornaram-se menos constantes; uma vez ao mês, duas no máximo. E eu, agradeci, lógico, por não ter mais que lidar com aquele tipo de coisa tão frequentemente; mas claro, isso não significava que eu vivia sem medo, pelo contrário, eu vivia constantemente em alerta. Qualquer barulho me despertava do mais profundo sono, tirando-me horas de descanso e fazendo prosperar meu terror, obrigando-me a arregalar os olhos mediante qualquer brisa que insistisse em balançar minhas cortinas. Embora eu tentasse, era impossível selar meus olhos, sabendo que ele poderia aparecer a qualquer momento. Fora exatamente o que aconteceu naquela madrugada, em que minha mente estava tranquila e pronta para ser reservada por algumas horas de sono, se claro, ele não tivesse aparecido para atrapalhar meu sono.

O suor me percorria o corpo inteiro, as mãos tremiam e um arrepio correu mina espinha, enquanto eu podia sentir claramente os dedos úmidos tocando meu corpo; a voz apavorante dizendo em meu ouvido que, sim, eu deveria teme-lo mais do que em meus pesadelos. Meu corpo inteiro congelara, a pele molhada grudara na colcha fina de minha cama e o grito continuou ali, preso na garganta, arranhando minhas cordas vocais. Espasmos corriam pelas minhas pernas e o medo se apossava de quaisquer sentidos que procurassem me invadir. Com receio e totalmente corroído pelo medo, ousei olhar para o lado direito da cama, onde ele me encarava com a mesma expressão aterrorizante de sempre; a pele extremamente pálida e os buracos negros que eram seus olhos, que eu tinha certeza, enxergavam o fundo de minha alma. A maldade que exalava daquele sorriso maníaco que devo dizer, não combinava nem um pouco com os lábios finos e pequenos, quanto que seus fios coloridos caíam sobre as imensidões negras. Aquela imagem um tanto infantilizada me assustava, o riso histérico balançava o espectro magro, que me encarava sem pudor.

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⏰ Última atualização: Jul 29, 2016 ⏰

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