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As brigas entre Raquel e Carlos infelizmente pioravam, as vezes eles começavam a discutir por coisas simples, Raquel tentava fingir que estava tudo bem quando eu estava perto, mas as explosões de Carlos eram tão violentas que a vizinhança toda notava. 

Mesmo conhecendo Raquel a pouco tempo eu a amava, a mulher cuidava de mim nos mínimos detalhes e dedicava ao meu bem estar e felicidade. A casa sempre estava arrumada e cheirosa, as refeições prontas na hora certa impecavelmente e tudo sempre estava em ordem. Mas ele sempre reclamava mesmo assim. 

-Você é uma inútil!

Carlos gritou cedo, da mesa de café da manhã.

-O que não está bom para vossa Majestade?

Raquel ironizou.

-Você não serve pra nada! Não trabalha, não ajuda em nada e agora não sabe mais fazer um café que preste?

Eu estava sentada ao lado dele, Raquel soltou algumas lágrimas, triste. Fiquei irritada. 

-Pra mim o café está maravilhoso!

Falei tentando soar doce.

-Cale a boca pexte! Você é outra desgraça na minha vida, que só me traz mais despesa.

-Não ouse fazer isso! - Eu nunca tinha visto Raquel falar daquela maneira. Carlos ficou um tanto assustado. – Quero que você arrume suas coisas e saia da minha casa!

Ele gargalhou.

-E vai se manter como?

-Essa casa e tudo que tem dentro dela foram seus pais que me deram, tudo é meu! Vá embora!

Ele levantou irritado.

-Em menos de um mês você vai vir atrás de mim!

Ele não foi embora, nunca ia embora, por mais que Raquel o mandasse sair, ele sempre voltava. Trazia algumas flores, chocolates e se desculpava. Mas no outro dia os abusos verbais voltavam, as humilhações, os deboches e depois os insultos. 

-Você está velha, feia e insuportável!

Ele gritava enquanto Raquel apenas o ignorava. Eu achava um absurdo, aquela mulher era linda, apenas estava ficando triste e cansada, Carlos parecia querer enlouquece-la, tirar as forças dela, a vida. 

Ele não me permitia ir à escola, falava que não gastaria mais nenhum centavo comigo. Pesava o quanto de comida eu podia comer para não desperdiçar o dinheiro dele, contava os minutos que eu passava tomando banho e sempre tinha uma atividade domestica em que eu deveria auxiliar Raquel, de acordo com ele eu devia ter alguma serventia. 

O estranho foi quando o silencio se instaurou, Raquel ignorava, trancava a porta do quarto na hora de dormir e ele passou a dormi r fora de casa. Foi o momento em que eu mais me orgulhei de Raquel, quando ela arrumou um emprego, decidida a nos sustentar.  

-Vamos sair disso, eu te prometo.

-Não queria destruir o seu casamento, nem te deixar triste.

-Você só trouxe felicidade à minha vida, antes ele gritava comigo desse mesmo jeito, mas falava que eu não era capaz nem de dar um filho a ele, ou que eu não cuidava bem da casa, ele sempre tem algo à reclamar. Você só é mais um motivo.

-Não consigo entender.

Ela ficou séria.

-Acho que ele não está mais feliz ao meu lado faz bastante tempo, talvez só não tenha coragem de me deixar.

-Sinto que ele está assim por eu estar aqui com vocês!

-Minha história com Carlos é complicada, sempre foi complicado! Nos conhecemos quando eu pedi emprego ao pai dele, eles tinham um mercadinho, eu morava perto, no orfanato. – Ela sorriu e me puxou para sentarmos no sofá. – Minha sogra se encantou por mim na primeira vez que me viu, eu trabalhei naquele mercadinho desde meus dezesseis anos e me apaixonei por Carlos desde o começo. Eu os via, uma família perfeita, amorosa, sonhava com tudo aquilo pra mim. 

-Vocês se conhecem a muito tempo então!

-Sim, quando eu sai do orfanato, aos dezoito anos e com apenas uma mochila nas costas, ele estava lá me esperando e nós nos casamos. Não foi nada romântico, mas nos demos bem, ele sempre cuidou de mim.

-Isso é bom!

-Não quando se sente que tem obrigação. 

-Você o ama?

Ela suspirou. 

-Eu sempre o amei, até demais para a minha sanidade. 

-E ele a ama? 

-Ele acha que me deve algo. 

Amaldiçoados .EM REVISÃO.Onde histórias criam vida. Descubra agora