"ELA NÃO VAI VENCER- PARTE 4"

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-Ao se levantar em prantos, Clarice, tenta, mesmo sabendo que seria inútil, enxugar as lágrimas. Quando o celular toca... toca... toca.. "Que hora mais horrível pra se receber uma ligação!" pega o celular violentamente, sem nem olhar no identificador de chamadas quem era, solta um mal educado

-Alô?!

-Clarice... sou eu, Leonard.

Ela travou, será que algo aconteceu a ele?

-O Que foi?!.. Algo errado?

-Preciso te ver! (Ele parecia desesperado)- Você está chorando?

-Sim..eu preciso te ver também... tem alguma coisa errada acontecendo comigo...

-Estou indo pra ai. Aguenta!
*******************

Um estava sentado de frente pro outro. Calados. Na cozinha de Clarice. Um copo de refrigerante de cada lado da mesa onde um dos dois se sentara. Cabisbaixa. Triste. Já Leonard, com olhos arregalados. Desesperado. Clarice disse com um tom melancólico.

-Deixa eu ver sua mão..

Ele, relutante, engolindo seco, desenfaixou a mão direita, a mesma da qual Clarice segurou com toda força ao tirá-lo do limbo. A cada camada da faixa branca desenrolada, ela respirava mais fundo, suspirava, o coração parecia saltar do peito... tenso... tenso.. mais faixas saíram.. a mão dele ficou totalmente nua, Clarice tampou a boca com desespero. Olhos pareciam querer fugir de seu rosto.

-Oh meu Deus! .....

A Mão de Leonard estava de uma cor meio verde, beirando o roxo. Ela já a sentia mais, nem conseguia movimentá-la. A pele envolta, repuxada, esticada, mostrando pequenos buracos, onde se olhar de perto, via-se um tom branco por debaixo daquela apodridão, esse branco, eram os ossos. Fedia... Como fedia... Uma unha, do dedo mindinho já não estava lá, deve ter caído sozinha quando a pele começou a repuxar, mas sabe-se lá onde ela foi parar, Na palma da mão, havia um pedaço de pele solta, da qual, se fosse puxada, poderia desmbrulhar a mão toda, assim como as faixas que ele estava tirando co mtanto cuidado. Era como a mão de um velho, em carne viva, mas esta carne, era seca, podre, e as veias, antes visíveis, agora eram como pequenos tubinhos secos, se intercalando como fios de cabelos, uma por cima da outra, uma visão horrível.

-Como isso aconteceu? -Perguntou Clarice, tampando o Nariz.

-Eu não sei. Acordei assim. Dormi sobre meu braço, acordei com ele adormecido. Isso é normal, acontece com todo mundo, mas quando olhei pra minha mão.. ela estava assim. Passei o dia tentando escondê-la dos meus pais, enfaixei e disse que havia cortado sem querer. Não deixei que eles vissem, é claro...

-Eu tenho que te contar... Recebi uma visita.. Era um tipo de Demônio... (Clarice se engasgava no choro, e Leonard só ouvia) -Ele me disse que eu teria que matar meus pais, em troca, deixaria você ficar.. aqui, comigo neste plano.. Ele disse que não aceita que..nenhuma..alma saia... do..do limbo.. e agora..ele..ele..vai levar você ao menos que eu faça o que ele mandou..

-Você acha que ele pode ter feito isso comigo?!!

-Não sei..acho que sim... Pra tentar me apressar... (Clarice, voltou a olhar para baixo, envergonhada, foi quando notou... ah.. como ela queria não ter visto isso) -Ai Meu Deus!!

-O quê??!! (Grita Leoanard)

Clarice aponta para sua cintura, do lado esquerdo, uma mancha vermelha na camiseta, recente, agora, pingos de sangue atingiam o chão. Ele, assutado, pôs a mão esquerda na camisa, levantou-a..e exibiu com lágrimas nos olhos.. a cintura.. o processo que havia acontecido com sua mão direita, agora passava a acontecer na cintura. Ele não sentia dor, mas era horrível de olhar, olhando aquilo acontecer, era como se tivessem jogado ácido nele, a pele se esburacava como um papel molhado, que rasga facilmente, então, o cheiro dos intestinos, que vem acompanhados do odor fecal, pairavam no ar, a podridão era pior ali.. Sangue escorria em abundância da abertura, Clarice corria para pegar lenços a fim de tapar aquela obcenidade. Era um vão oval, dava para ver o vermelho da carne nas bordas, um líquido viscozo meio verde, meio amarelo, não dava para ver direito o que era, provavelmente, a gordura corporal que fica logo abaixo da pele do abdômen, que possui essa cor amarelada. Os intestinos, se olhasse com cuidado veria uma parte deles, roxo, escuro, era como um túnel do inferno. O Corpo humano é uma escuridão total, quando exposto, não é uma visão agradável. Em momento algum, Leonard se sentia enojado, era como se ele estivesse anestesiado. Já Clarice, ao chegar perto com o lenço, vendo que o tamanho do lenço era ridiculamente pequeno para abertura que agora tinha o tamanho de um palmo se instalara, ela se vira para o lado rapidamente despejando um imenso jato de vômito, Leonard chorava calado.... Fitando o chão, inclinado de lado esperando Clarice tomar coragem e tapar o ferimento... De repente, o sangue para de escorrer... Tudo ficou seco, uma pequena fumaça é liberada em quantidades bem pequenas, pouco perceptível aos olhos, mas o cheiro..ah..o cheiro.. .devia ser o Ácido gastrico... talvez, por fora, o rompimento fosse menor do que por dentro, e mesmo assim, não havia como saber, quem ousaria colocar o rosto naquilo para verificar se o estômago estava aberto também? Vendo que Clarice estava a ponto de desmaiar, Leonard esticou a mão e tomou da mão dela o lenço, posicionando incrivelmente bem, tampando a abertura.

-Tudo bem...(Disse ele, em desesperança) -Pode me deixar partir amor...você já provou que me amava...(Esta tentativa de declaração profunda é interrompida pelo som de mais uma rajada de vômito de Clarice atingindo o piso gelado... Leonardo vira o rosto)

Clarice vai ate a pia, bem próxima, bota a boca embaixo da torneira e faz gargareijo, seus olhos lacrimejavam como se tivesse picado 100 cebolas. As vistas ardiam... de tanto horror. Ela soltou a frase secamente, tomando fôlego, balançando os ombros a cada respiração, meio que respondendo adeclaração de Leonard:

-Eu não fui te buscar pra nada... vou pegar um pano e um rodo e limpar essa porcaria.. não vou deixar ELA te levar de novo!- (Ela não deu nem dois passos em direção a porta da cozinha, pois o susto a impediu. A Criança sem olhos estava parada em pé diante dela. Leonard solta um grito de pavor, Clarice, pelo susto, é atirada para o chão, trêmula, também em um grito de pavor, o Demônio, a encara, com aqueles buracos ao invés de olhos e diz:

-Se quer uma solução, faça rápido. Minhas exigências não tem segundo termo. Seu namorado vai apodrecer de dentro pra fora até ficar do mesmo jeito que ele deveria ter ficado embaixo da terra. Você devia saber, Clarice, quando se tira alguém das garras da Morte, depois de o sujeito ter atravessado a membrana, que de um jeito ou de outro, ele volta lentamente para a Morte... e única razão de você, rapazinho, não estar sentindo dor.. É porque, você já está morto por dentro. No final, quem sofre a dor da Morte, são os vivos, deixados para trás, e não os mortos, que estão apodrecendo em seus caixões, esses, não sentem nada. Deixe que eu pegue o esfregão, Clarice, não queremos que seus pais fiquem encomodados com essa bagunça não é mesmo? Afinal, queremos eles bem calmos.. ingênuos..e crédulos, quando você estiver posicionada a cortá-los como gado em abatedouro... (Sorria exibindo seus dentes de formato caninos) -Não se preocupe, eu dou essa mãozinha para você, só não posso dizer o mesmo do nosso querido Leonard... CONTINUA

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