Quando saiu do edifício, o ar frio de Portugal abate-me e rapidamente fecho o casaco. Está frio!
Coloco os phones e meto-me a caminho de casa. Londres, meu Deus! O nosso próximo espetáculo é em Londres mas é muito caro, fica fora das possibilidades financeiras dos meus pais e, por isso, tenho que me mentalizar que é um plano furado... E sinto-me realmente triste por isso mas tenho que o aceitar, eu compreendo que eles não me podem pagar, andar nestas aulas já é complicado quanto mais pagar-me uma viagem quase de 500€, fora o resto. Suspiro e observo o vapor que se faz com o contraste do frio da rua com o quente da minha respiração.
Estou cansada, com fome e frio. Do piorio este inicio de Dezembro. Ah e o espetáculo era no dia 25. Natal e Londres é uma junção que me faz borboletas na barriga mas mato-as logo a seguir. Eu não vou. Mentaliza.A música é interrompida por uma mensagem e tiro o telemóvel do bolso. Do Rafael. E quando o dia não pode ficar pior...
"Onde estás?"
Sinto o seu instinto controlador e o veneno presente nas duas palavras e isso faz-me voltas ao estômago.
"A ir para casa, acabei agora a aula de ballet"
"Ah pronto, hoje vamos sair"
Isto era uma pergunta? Não, não era e eu não quero ir.
"Estou cansada Rafael..."
"E? Às 21 passo em tua casa"
Não respondo. Ponho a música a dar novamente e meto o telemóvel ao bolso e subo a rua onde moro.
- Mãe! - Chamo e pouso as chaves na mesa da entrada - Cheguei.
Sigo para o meu quarto para pousar a tralha toda, a seguir vou para a cozinha.
Dou-lhe um beijo e encosto-me à bancada.
- Então, como correu o teu dia? - A mesma conversa de circunstância de sempre.
Esta pergunta é sempre feita quando ela está entretida a cozinhar e pergunto-me se ela realmente está interessada.
Dou de ombros.
- Sim - Digo com a incerteza clara na minha voz. Não era suposto.
- Tens a certeza? - Ela finalmente para o que está a fazer e olha para mim. Olho-a com medo. Não com medo dela, mas foi inesperada esta sua preocupação.
O porta da entrada abre.
- Chegou - Ela esquece a nossa conversa e segue para o hall de entrada.
O que era suposto lhe responder? Deus.
- Woah! O que se passa aqui? - A minha mãe exclama e olho para trás e o meu pai entra na cozinha com uma carrada de sacas de compras com ele. Tantas.
- Onde é que arranjaste dinheiro para isso tudo? - A minha mãe olha-o desconfiada.
- O patrão pagou-me o mês passado - O meu pai dá um sorriso torto mas não nos encara enquanto se explica.
- Wow, caiu um anjo à terra - A minha mãe leva as mãos ao ar e encaminha-se para as sacas.
- Bem, vou tomar banho - Retiro-me esquivando-me de ajudar a arrumar as compras.
É muito esquisito o patrão ter pago ao meu pai, mas ainda bem, fico feliz que amanhã tenho pequeno-almoço. Isto é muito mau, mas é verdade.
Pego no meu robe e numa toalha para o cabelo, roupa interior e os chinelos e vou para a casa-de-banho. Ponho música no telemóvel em aleatório e ponho a água a aquecer enquanto me dispo. O contacto da água quente na minha pele demasiado fria é relaxante e encosto-me à parede.
Tenho que ir sair com o Rafael ainda. O meu corpo treme com a ideia e a sensação de relaxamento desaparece com o vapor que se forma à minha volta. Estou farta deste ciclo vicioso. Estou farta do Rafael. Como e porquê que ainda estou com ele? As lágrimas queimam-me a pele. Talvez porque és uma idiota.- Mãe, eu vou sair com o Rafael, ok?
Ele suspira. Ela não gosta dele. Nem eu, mãe, nem eu.
- Pronto...
Gostava tanto de lhe contar a merda que ele é e na merda que a minha vida está à conta dele, para lhe pedir ajuda mas eu não posso. Suspiro e levanto-me. Dou um pequeno sorriso aos meus pais.
- Eu não volto tarde e quando voltar lavo a louça, sim?
A minha mãe sorri e saio da cozinha e vou até ao meu quarto. Calço umas sapatilhas quaisquer e pego num casaco quente. São 20:53. Suspiro e pego no telemóvel e nesse momento Rafael está a ligar-me.
Atendo.
"- Estou cá em baixo" - Fala duro e sei que ele está mal disposto lançando-me lágrimas aos olhos. Porra.
- Estou a ir - Falo com um entusiasmo na voz que não existe, de todo.
Desligo a chamada e guardo o telemóvel no bolso.
Desligo a luz e vou para a porta de entrada. Aviso que vou sair, pego nas chaves e saiu.
Está ali o carro de Rafael e ando até ao mesmo.
Abro a porta do pendura e sento-me fechando a porta atrás de mim.
- Olá - Murmuro.
Ele volta-se para mim e beija-me. Correspondo timidamente.
- Então? Beija-me - Ele ordena e rapidamente o faço.
O nojo corre todas as minhas veias e controlo-me para não lhe vomitar na boca.
- Como correu o teu dia? - Ele diz com pouco interesse e solto um suspiro baixinho.
- Bem.. - Dou de ombros.
Ele conduz e olho para a janela tentando conter as lágrimas. Estou tão cansada. Gostava que Rafael fosse diferente, neste momento iríamos para um campo qualquer ver as estrelas e eu até chorava no seu ombro, sob uma verdadeira preocupação. Com um Rafael que me ame. Não este. Ele não me ama. Eu nem entendo porque ele continua comigo. Não percebo.
O carro para no parque de estacionamento em frente ao café onde ele e o seu grupo param.
Suspiro e saímos do carro.Desligo o despertador assim que ele começa a tocar e deixo-me cair novamente na almofada. Estou cheia de sono. Deitei-me era 1:40 à conta do Rafael. Estou tão farta. Agarro-me à almofada e deixo sair algumas lágrimas. Quero ficar aqui e não sair mais. E quero adormecer e nunca mais acordar. Não por serem estes meus pensamentos um 'efeito secundário' da depressão em que me encontro mas por covardia. Não quero ter que ver mais o Rafael. Quero acabar com ele e não tenho coragem. Quero contar tudo à minha mãe mas não tenho coragem. Covardia talvez. Mas eu não tenho outra opção senão manter-me em silêncio.
- Clara, acorda, vais chegar atrasada - A minha mãe entra no quarto e abre as janelas. Enterro a minha cabeça na almofada.
- Já vou - Resmungo.
- Anda lá então - Ela sai e volto a erguer a cabeça. Dói-me a cabeça de ter chorado esta noite. Levanto-me lentamente e vou para a casa-de-banho, lavo a cara e os dentes e volto para o meu quarto. Pego nos jeans de ganga azul que usei ontem. Uma camisola básica branca, uma gola preta e as botas pretas. Pego no casaco de cabedal preto. Na mochila, telemóvel e vou para a cozinha. A minha tigela de cereais já está no meu lugar e sento-me para comer.
- Dormiste bem? - A minha mãe fala.
Assinto e suspiro enquanto como.
- Essas olheiras dizem o contrário - Comenta e eu decido não comentar de volta. Assim que acabo de comer pouso a malga na banca e vou à casa-de-banho. Olho-me ao espelho e vejo as olheiras que tenho debaixo dos meus olhos. Pareço um sapo. Ainda penso em por base mas o cansaço consome-me e acabo por pôr perfume e abandono a casa-de-banho. Volto à cozinha. Pego na minha bolsa.
- Vou para as aulas - Murmuro.
- Até logo - A minha mãe atira e o meu pai dá-me um pequeno sorriso e eu saiu de casa. Aperto o meu casaco no peito e ando até à paragem. Murmuro um bom dia aos idosos que estão na paragem mas para não variar sou ignorada e decido por os phones. Que porra de vida._____
Well done!
Este capítulo foi um pouco deprimente, I Know mas eu quero uma história o mais aproximado da realidade possível e, a meu ver, o sentimento que nos marca mais é a tristeza. E a história dela é um pouco triste e dramática por isso...
Bom eu espero que gostem da história, estou a gostar dela. Se alguma vez não gostarem de algo, da maneira que escrevo ou da forma que a história se está a desenrolar, por favor, digam sem medo. Posso estar a ser demasiado dramática e isso pode tornar a fic muito aborrecida. Pode até estar a desenrolar-se muito depressa ou até muito devagar e pode não ser bom. E MAIS IMPORTANTE!! AVISEM SE OS CAPÍTULOS FOREM DEMASIADO PEQUENOS OU DEMASIADO GRANDES!!
Qualquer coisa mesmo, digam, sim? Obrigada desde já por me darem a oportunidade e lerem a minha fanfic. Já tinha prometido umas quantas vezes e não tinha cumprido. E lamento por isso. Por essa razão eu vou dar tudo o que posso para manter esta fic atualizada e a vosso gosto...
Já agora, faço uma pequena apresentação minha. Sou Ana, toda a gente me chama Nëbel, o meu sobrenome, é alemão só para o caso de surgir alguma curiosidade. Sou do Norte.
Obrigada lindas e lindos! Xx