Capítulo 1 - Mare

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  Estava sentada na minha cama enquanto minha mãe colocava algumas roupas dentro de uma mochila antiga da escola — de quando eu frequentava a escola.

— Está tudo bem, querida? — minha mãe perguntou com um olhar preocupado enquanto terminava de subir o zíper da bolsa grande.

Balancei a cabeça, afirmando. Mas, na verdade, não sabia se estava tudo bem. Acho que, àquela altura, eu já não me importava com a mesma intensidade.

Meus pais estavam me mandando para um hospício, digamos assim. Eu sabia que eles estavam tristes, mas não havia outra alternativa. Eu estava doente e precisava de tratamento, algo mais intenso. O tratamento em casa não parecia estar funcionando como antes funcionara. Então, havia chegado a hora e em pouco tempo eu estaria em um Depósito de Loucos — ou para pessoas que tinham alguns problemas, como minha mãe preferia chamar. Mas talvez fosse bom... Uma parte de mim queria ir, talvez fosse melhor do que ficar em casa com todos olhando para mim como se eu fosse louca — talvez eu fosse louca mesmo, mas tampouco me importava. Eu só queria me divertir um pouco, até que um dia o quarto escuro da morte me devorasse.

— Está tudo pronto — meu pai gritou de longe, e logo pudemos ouvir os passos apressados dele subindo as escadas.

Minha mãe sentou ao meu lado, colocando minha mochila perto de mim e passou sua mão direita pelo meu ombro esquerdo, fazendo com que eu olhasse para ela, me sentindo um pouco desconfortável com a proximidade.

— Você vai ficar bem. Você sabe, não sabe? — ela falou, com a voz rouca.

Eu sabia que estava doendo mais nela do que em mim. Queria poder confortá-la, mas não conseguia pensar em nada útil, então apenas balancei a cabeça num ritmo que nem eu entendi.

— Mare, Mare... — ela pausou. — Vamos visitar você sempre, viu?

Por mais que eu não conseguisse me concentrar completamente em suas palavras, sabia que ela estava prestes a chorar então deitei minha cabeça em seu ombro.

Antes que eu ou minha mãe pudéssemos falar qualquer coisa, papai colocou-se diante da porta.

— O táxi está nos esperando.

Minha mãe não era de chorar muito e meu pai menos ainda. A única vez que o vi chorar foi quando estava internada num hospital chamado Harvey — eu acho — porque estava com hemorragia interna.

Eu não queria me mexer; não queria ter que sair do meu quarto para o qual eu nem sabia se voltaria. Um medo estranho e súbito me dominou. Ainda assim, apenas levantei, tentando focar meu olhar em algo e tentando também evitar o olhar de pena de meus pais.

Assim que descemos as escadas pude avistar o táxi na porta de casa. Haviam mais três malas minhas já dentro do carro.

— Eu vou voltar logo, não é? — perguntei, sentindo-me ansiosa ao ver aquela quantidade de coisas minhas empacotadas como se eu fosse me mudar para sempre. Olhei para o meu pai que apenas forçou um sorriso e passou a mão pelos meus cabelos, antes de se aconchegar no banco de carona.

O motorista do táxi me olhou com curiosidade quando mamãe o entregou um papel com o endereço do Depósito de Malucos. Assim como as outras pessoas costumavam fazer. Elas deviam ficar se perguntando o que eu tinha e, para ser honesta, nem eu sei ao certo. Esquizofrenia, é o que dizem. Meus pais já me falaram sobre isso mas eu nunca consigo prestar completa atenção às suas palavras. Tudo que eu consigo me lembrar perfeitamente é das vezes que eles dizem que me amavam e que nunca iriam me deixar, independentemente de qualquer coisa.

Incontrolável / Com Amor, MareOnde histórias criam vida. Descubra agora