Capítulo 2 - Dylan

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 A claridade do sol no meu rosto fez com que eu despertasse. O alarme não havia disparado mas eu tinha a sensação de que já havia dormido demais. Já estava na hora da escola ou eu estava atrasado — o que não seria nenhuma novidade.

Pulei da cama e me observei diante do espelho que ficava quase de frente para ela. Eu era definitivamente magro. Meu cabelo estava comprido e despenteado, o que de alguma forma deixava minha pele parecendo ter um tom mais claro do que o que normalmente já tinha.

Após tomar um banho rápido, vesti o uniforme da escola, um casaco preto por cima e a minha mochila, por fim. Não costumava fazer frio na minha cidade — não normalmente —, mas durante as manhãs o vento costumava ser gélido, ainda mais em contato agressivo com a minha pele dado à velocidade do skate.

Assim sendo, com a mão direita, peguei o meu skate e saí porta afora. Meu pai já tinha saído para o trabalho há algum tempo, e quanto à minha mãe, ela faleceu quando eu tinha quatro anos de idade de câncer de pulmão por causa de cigarros. Tudo bem. Isso aconteceu há quatorze anos atrás, e eu não lembrava muito dela. Entretanto, lembro que quando ela estava doente, a tinha feito a promessa de que nunca esqueceria de seu rosto e me dói saber que infelizmente não foi uma coisa que eu cumpri. Eu realmente sentia muito. Só queria fechar meus olhos e conseguir lembrar perfeitamente de seu sorriso — que apesar de eu não lembrar como era, sabia que era lindo. Não havia nenhum retrato dela. Eu me perguntava se ao menos o meu pai lembrava de como ela era, mas ele não falava sobre. Quase nunca mencionava ela desde que ela morrera. Na verdade, quase nunca nos falávamos sobre qualquer coisa.

Joguei o skate no chão e coloquei meus fones de ouvido. Hoje seria um grande dia. Iríamos — eu e alguns amigos — fazer uma... brincadeirinha na escola com o novo diretor. Nada demais.

Quando eu estava atravessando a rua, o laço vermelho no cabelo de uma menina fez com que minha atenção se voltasse para ela. E ela era muito bonita. Cabelos ruivos, lisos e soltos, as pontas do laço acompanhando o comprimento de seus fios.

Eu queria conseguir chamar sua atenção de alguma forma, mas a verdade era que eu era um grande merda que só sabia andar de skate. Tentei fazer uma manobra para, quem sabe, impressioná-la, mas uma pedra atrapalhou tudo e eu acabei caindo. Não caindo de dar uma leve tropeçada e correr para recuperar o equilíbrio, mas caindo de por pouco não ralar a cara no asfalto — caindo o suficiente para que meus amigos que estavam na frente da escola começassem a rir. A garota nem pareceu reparar e agradeci muito por isso.

— E aí, cara — falou Gregg, ainda rindo. — Tudo pronto pra hoje?

— Sim — eu disse, apontando para a mochila. — Você trouxe as cebolas?

— Tá com o Felipe — ele falou, apontando para trás de mim e eu me virei.

— Tá comigo — falou Felipe, dando risada. — Dylan trouxe as maçãs, né?

— Sim — respondi, simplesmente.

O plano do trote era o seguinte: o novo diretor odiava qualquer barulho — e qualquer pessoa, eu diria. Ele teria nos suspendido dois dias só porque estávamos conversando durante uma aula, mas então concordamos em ajudar numa festa que haveria na escola trazendo Maçãs do Amor. Então eu havia comprado as maçãs, mas faríamos uma surpresa para o diretor, com algumas Maçãs do Amor mais saborosas... Ele provavelmente ficaria louco. O cara era pirado. A verdade era que ninguém da escola estava de acordo com suas mudanças radicais, até mesmo os professores demonstraram uma certa resistência. Passamos a ter tantas regras que mais parecia se tornado um colégio militar ou algo do tipo. Difícil de dizer, já que nunca havia estado em um. O ponto é que estava bem ruim.

Incontrolável / Com Amor, MareOnde histórias criam vida. Descubra agora