CAPÍTULO 30

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Fiquei ali encarando tudo com um choro na garganta. Todos aquela altura já estavam dentro da casa, uns cuidando da comida e separação das roupas encontradas, outros sentados, conversando sobre o dia trabalhoso que tiveram para colocar as tábuas nas janelas.

Quando finalmente pararam de se beijar Beth virou, um sorriso largo na face. Mas logo fora desperdício ao me ver. Daryl a soltou. Ela veio até mim, ficou parada a minha frente. Não falei nada até a entrada dele na casa, o que não demorou muito.

_ Seja lá o que foi aquilo, _ respirei fundo _ ou o que tenha acontecido enquanto estiveram juntos na floresta, parece que ainda não acabou. Mas eu tenho certeza de uma coisa, eu e ele acabou. Eu e você, aquela amizade 'tão' importante na sua vida, já era.

_ Rose, eu sinto muito. Mas...

_ Cala a porra da boca, Beth.

_ Me deixa explicar.

_ Anda. Fala.

_ Aqui não. _ me puxa pelo braço _ vem comigo.

A neve ainda mais grossa e branca. Fomos até onde costumava ser a área onde os cavalos ficavam, estava vazio e frio.

_ Quer ser sincera, não é? Rose.

_ Sim, Beth. Quero.

Ela respirou fundo. Baixou a cabeça e disse algo inaudível. Pedi para repetir e não me arrependo.

_ Daryl e eu tivemos uma 'coisa'. Nada de beijos, ou, sexo. Somente uma coisa.

_ Que diabos quer dizer com isso?

_ Eu aprendi a ama-lo. Rose. E não espero que entenda porque você não teve essa honra. Garotas como você, são um tanto quanto egocêntrica. Seja neste mundo, ou no mundo de antes. Faz parte de quem você é. Não pode mudar isso. Nada.

Ela fez uma longa pausa. Não disse nada pois ainda estava a digerir aquelas palavras. Mas logo Beth voltou:

_ Mas o Daryl, no começo, aquele jeito rude e agressivo. Mudou. Sabe por quê?

_ Por que ele não era assim. Não, é?

_ Sim. Fui eu que o mostrei isso, Rose. Eu o fiz ver quem ele realmente é. O beijo que viu _ outra pausa _ eu pedi por ele. Agora, Daryl sente quem o ama. Também ganhando a certeza sobre seu verdadeiro sentimento de amor.

Novamente palavras são inúteis. Poderia manda-la para o inferno. Ia sair daquele haras, ir para casa chorar na cama, quem sabe Mich poderia estar lá para afagar meus cabelos. Mas me lembrei de quem sou, e do que tinha no meu coldre. Duas pistolas semi automaticas carregadas e silenciada. Beth com seus olhinhos verdes grandes e meigos. Eu, com meus olhos azuis de uma águia caçadora.

_ E mais uma vez a caipira sai por vítima enquanto a garota da cidade sai por má. Lindo isso. Sabe quem poderia amar esta estória? Talvez algum romancista morto-vivo habitando por aí.

Podia parar. Aceitar a verdade. Largar a mão do meu orgulho e vaidade, mas já estava com a pistola empunhada na mão. Lágrimas descendo. Tudo borrado. Como uma tintura a óleo.

_ Rose, abaixa isso. _ Os olhinhos dela logo se tornarão olhões.

_ Se gritar, será pior. Agora anda até a mata. Não! Façamos melhor, Beth.

Peguei uma corda a colocando em meu ombro esquerdo.

_ Anda. _ continuei.

E Beth também.

Tomei todo o cuidado exigido, olhei aos cantos, a casa, tudo. Nada para me impedir, infelizmente.

_ Para onde está me levando? _ Beth pergunta com voz de choro. Trêmula. Excitante para mim.

_ Mandei falar? _ a pergunta fora retórica _ bom, estive pensando; será que o errantes tem algum tipo de comunicação? Piscar não. Falar não. Grunhir, talvez.

_ Por que o interesse? Achei que não pensasse.

A ofensa quase lhe custou a vida. Mas me segurei.

_ Como? _ encosto o silenciador nas costas de Beth. _ até onde sei, se eu atirar bem aqui _ afundo mais ainda, encostando no oaso _ você não morre. Só ficará paralítica. O que seria uma pena, sabe, não sentir o pau grosso e vistoso do Daryl entrando em você. _ sussurro isso ao seu ouvido. Posso sentir seu medo.

_ Vai me matar? _ voz doce. Carregada de medo.

_ Andando.

Estamos em um local isolado. O sol já buscou por refúgio.

_ Pronto, amiguinha. Chegamos.

_ Rose. Não faz isso.

_ Fazer o quê? _ jogo a corda no chão.

_ Me machucar. Sabe que ninguém suportaria viver com você. Ninguém te perdoaria. Rose, você não é assim.

_ Beth, Beth, Beth... sabe muito bem, talvez melhor que ninguém que sou assim. E é por isso que vou matar você. Por ser uma puta egoísta, que não aceita perder. _ levanto a arma até a altura de meus olhos. _ Encosta aí, nesta árvore.

_ Pra quê?

_ Vou matar você. Mas será lentamente. Bom, não tão lento assim. Logo virão atrás de nós e será acabado. Por isso, viemos para a mata. Uma horda inteira está vindo em nossa direção. Seus gritos a trarão até aqui, até você.

_ Rose. Você não é assim.

_ AGORA EU NÃO SOU ASSIM? Ah, Beth, pro inferno.

Me abaixo para pegar a corda, ouço Beth correr, não me dou o trabalho de ir trás dela. Pego minha pistola, miro em sua perna e atiro. O tiro fora certeiro e eficaz. Ela grita, já está me ajudando. Chego sorrateiramente até ela.

_ Querida, não me dê trabalho. _ avalio a ferida, passou direto pelo joelho. Deixando um buraco tanto quanto grande. Aquilo devia doer a beça, mas Beth calou seus gritos. _ Por que não grita? Coloca para fora o que sente.

Não soltou um gemido.

_ Não? Tudo bem. _ o cano da pistola ainda está quente por conta do disparo, o introduzo dentro do buraco feito, um cheiro de carne queimada misturado com sangue sobe.

_ AAAAAAHHH, PARA! AAAAAH! ROSE, POR FAVOR!

_ Deixaremos algo bem claro; já ouviu o "se não for eu, não será mais ninguém" será assim hoje. _ tiro o cano. O limpando na jaqueta de inverno dela _ certamente por te matar, me mandaria ir embora, ou, me mataria. Bom, tanto faz. Não ligo. O perdi. Agora levanta e anda até a merda daquela árvore.

_ Não consigo. _ seu choro passa de excitante a irritante.

_ Não mandei sair correndo. Agora levanta.

Beth fez um esforço tremendo, mas nada. Me lembro de como fiquei furiosa com aquilo. Algo sem igual.

_ Inferno.

Agarrei suas duas pernas com força, ia começar a arrasta-la até a árvore. A noite estava escura, sem lua para iluminar, quando percebi a presença de um odor rancoroso de carne podre, cocô de ratos e lixo orgânico apodrecendo. Tapei imediatamente meu nariz, e para isso tive que largar as pernas de Beth... e de repente, caiu a ficha do que eu fiz. Queria chorar, implorar perdão. Estávamos muito distante de casa, não conseguia leva-la, parece que havia desmaiado por causa da dor. Ao sentir o odor ainda mais forte circulando pelo meu sistema respiratório, dava para se ter noção do tamanho da horda que nos rodeava.

Enquanto pensava em alguma solução, um grupo com mais ou menos uns 20 errantes apareceu atrás de mim, andei para trás movida pelo meu pavor, acabando tropeçando na Beth. Me levantei e sai correndo dali, não olhei para trás. Mas aquela pequena horda resolveu o meu problema, ninguém saberia que a matei.

Beth estava desacordada, sem dor. E sem glória. Morrer não é lindo, ou muito menos um ato heróico, todos morrerm. O que há de tão glorioso? Nada. Por isso, não olhei para trás, coisas sem glória não me atraem. Eu venci.

The Walking Dead: Algo para temer [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora