Quando se tem 17 anos, o primeiro amor parece ser a pior das dores. Você sente seu peito explodir e não percebe que ele sabe se reconstituir sozinho, só nota que estava tudo bem de novo quando se explode mais uma vez. Aprende a caminhar sobre as nuvens e na primeira queda não sabe mais como se reerguer, e vai caindo toda vez que tenta de novo. É nessa idade que aprende que para cada dose de amor, há uma enorme e triste ressaca de dor.
Jogado no sofá, observava a parede da minha sala de estar enquanto pensava com nostalgia sobre o passado. Depois, são meus tênis que tomam minha atenção. Minha calça jeans tinha uma marca de mostarda próxima ao joelho que devia estar ali há duas semanas. Próximo ao meu pulso, um pouco acima do relógio, no meio do emaranhado de pelos, havia uma anotação de um número de telefone que não tinha passado para o papel e muito menos para o celular. Talvez o cara do metrô já tivesse desistido do contato. Peguei-me questionando se o 21 no relógio digital significava que era ou não nove horas da noite e por que não havia voltado para o sistema de AM e PM que entendia melhor sem precisar pensar...
A campainha tocou.
Respirei fundo antes de me levantar. Respirei novamente antes de abrir a porta.
- Surpresa! - Eleonora gritou trazendo a voz dos demais atrás dela em um uníssono: - Feliz 33 anos, Gu! - O bolo tinha o desenho de um morcego deformado. - Era para ser o morcego do Batman, mas faltou chocolate.
Recebi um abraço forte e demorado, daqueles que dizem muito mais do que as palavras que todos atrás dela diriam. Léo estava ótima de cabelos pretos naturais e sem qualquer outra coloração. Ela havia engordado um pouco depois de sua segunda, e planejada, gravidez.
- É um prazer, cara! Parabéns! - Supus ser o marido de Léo e me perguntei, olhando para toda aquela magreza, onde é que Pedro estava e como é que minha amiga tinha se interessado por opostos tão gritantes assim. - Não imaginava você com essa barba toda quando ela me mostrava as fotos da escola...
Sorri de canto, e quanto tentei abrir a boca para explicar que o tempo havia passado, alguém pulou no meu pescoço. Era Henrique. Nelson Henrique. No ápice de seus quinze anos com um bigode relatando sua puberdade e um cabelo encaracolado enorme que não negava ser filho de Pedro. Ele parecia ter mais corpo do que eu e fiquei um pouco complexado com isso o resto da noite. Também estavam presentes Diego, e sua namorada Bianca, e meus três amigos de faculdade.
- Já aprendeu a beber? - Léo perguntou girando minha garrafa de vinho nas mãos - A última vez que bebemos... foi... quatro anos? Que você ficou dançando Vogue na frente do cinema? - Fechou a porta da minha geladeira com as costas. Ela ia dizer mais alguma coisa, mas ficou indecifrável por questão de suas gargalhadas absurdas.
- Eu perdi isso? Esse Gustavo nunca conheci. - A voz de Igor ecoou pelo pequeno corredor do apartamento antes dele próprio chegar até mim com um abraço, sussurrando parabéns no meu ouvido.
Ninguém comeu mais que um pedaço do bolo. Ficou claro que tinha faltado chocolate para a cobertura e eles resolveram colocar mais açúcar para compensar. Ninguém conseguiu comer sem bebida por perto. Infelizmente não consegui fingir que estava delicioso. Neguei o próximo pedaço: "isso está horrível, vocês me perdoem" e todos agradeceram por não terem que aceitar mais também.
- Ele é bem bonitinho, hein? - Léo e suas perguntas retóricas, em voz alta, me constrangiam. - Finalmente acertou.
- Eleonora, talvez você não saiba, mas Gustavo e Igor não estão namorando mais... - Agradeci mentalmente Aline por notificar isso para minha amiga desatualizada.
- Talvez você não saiba, mas eu detesto que me chamem pelo meu nome, queridinha. - Léo provocou, sem nenhum tom de brincadeira. - É Léo. Só Léo! E como assim, Gustavo?
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Todos os erros que eu cometi
RomanceGustavo nunca soube o que era amor, apesar de paixões serem bem frequentes em sua vida. Agora que está apaixonado por seu melhor amigo, tem medo de não conseguir sair desse sentimento novo e desconhecido. Como gosta de criar listas mentais sobre os...