Parte II

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Entrei no meu carro e comecei a descer sua rua. Eu sei que essa situação a deixa triste. E sei também que quando se sentir sozinha, irá me ligar. Sei que tá agora ao lado do telefone esperando uma ligação minha, mas minha querida dessa vez eu não irei voltar.

Ao chegar à minha rua, estacionei de qualquer jeito e permaneci dentro do carro, encostei minha cabeça no encosto e fechei meus olhos. Lembranças de nós dois apareceram em minha cabeça como uma perfeita simetria.

Não lembro exatamente quando nos conhecemos de verdade, e nem lembro quanto tempo eu demorei para chegar nela. Mas lembro que tínhamos quinze anos quando começamos a namorar. Ela tivera sido minha primeira namorada e eu o dela. Estudávamos juntos o que facilitava muito para a gente naquela época.

Varias vezes durante esses sete anos de namoro, eu tentei terminar com ela. Mas foram todas em vão. Existia um elo muito forte entre a gente. E ainda existia um pouco da sua falta de lucidez. O que me fez diversas vezes voltar por pena também. Não conseguia deixá-la sozinha. Tinha o dever de cuidar dela.

Acabei despertando quando escutei meu celular tocando. Vi seu nome piscando na tela, peguei o celular e olhando para aquela tela falei.

- Não Júlia, eu não irei voltar!

Uma chamada perdida, ela havia desistido.

Voltei a fechar meus olhos e deixei que as lembranças voltassem mais uma vez.

Durante essas nossas brigas intermináveis, acabei conhecendo Esther. Uma linda garota dos olhos verdes. Seu olhar me fazia estremecer dos pés à cabeça. Sabia que ela me apresentaria ao pecado se me aproximasse, mas fui hipnotizado por ela. A chamava de Sereia e ela sorria toda vez que eu lhe dizia isso. Perdi as contas de quantas vezes nós vimos o sol nascer juntos. E de quantas vezes ela me disse adeus por eu ainda persistir no “erro”. Era assim que ela dizia ser meu namoro, um erro. Existia uma culpa em meu peito, odiava fazer isso com as duas, mas eu me encontrava em uma bifurcação que não sabia o que fazer.

Depois que conheci a Esther, terminei com a Júlia diversas vezes para ficar com ela. Mas Júlia levava sério esse lance de não querer viver sem mim, com algumas pílulas de remédio misturado com vodka e alguns cortes nos pulsos, ela foi parar no hospital. Numa outra tentativa de terminar com ela, eu contei que havia conhecido outra pessoa, e na minha frente ela pegou uma faca de cozinha e passou pelos seus pulsos. Lembro de dos seus olhos pedindo para que eu a socorresse, não dos cortes, mas dela mesma. Eu sempre estive lá para ajudá-la, mas ela nunca pertenceu a mim, e sim a sua cabeça. Resolvi terminar com a Esther, achando que assim seria mais fácil para todos nós.

Mas aqueles olhos... Ah, aqueles olhos, me levavam a loucura. Esther acabou aceitando o fato de eu ter namorada, mas pediu para que eu decidisse o que realmente eu iria fazer. Pois manter os dois relacionamentos não iria ser saudável para nós três.

A vi parada na esquina de sua rua me esperando, aliás Júlia e Esther são vizinhas de porta. Parei na sua frente e com um sorriso no rosto ela entrou no carro dando-me um beijo rápido. Seu cheiro empesteou o carro, um cheiro totalmente diferente de Júlia. Nunca consegui saber qual das duas era a mais cheirosa.

Sai com o carro indo em direção a qualquer estrada. Tudo estava escuro, e pelo canto do olho, a vi um pouco nervosa. O carro estava rápido demais, e por um acaso achei que era esse o motivo dela estar daquele jeito. Mas eu não sabia ir devagar mais.

Sinto sua mão passar pela minha coxa, ao olhá-la novamente, vi que ela tinha em seu rosto um sorriso um pouco safado. Segurei sua mão e levei pra mais perto da minha virilha, pra minha surpresa ela permaneceu com a mão ali e começou a dar pequenos apertos me deixando excitado. Parei o carro no acostamento e comecei a beijá-la.

Ela pula para o meu lado e começa a rebolar no meu colo. Todo mundo tinha um segredo, será que ela conseguia manter aquele? Acho que não.

Eu sabia que não a conhecia tão bem, mas eu a queria tanto que ardia em meu corpo. Encarei aqueles olhos verdes e senti um arrepio na nuca. Nossos corpos estavam suados o bastante para embaçar aqueles vidros do meu carro. Passava minha mão pelo seu corpo todo enquanto ela dava pequenas mordidas em meu pescoço. Permanecia com os olhos fechados apenas desejando que aquele momento durasse pra sempre.

Com sua voz suave, ela falou em meu ouvido:

- Eu ainda não cheguei lá.

Depois de um tempo, acabei deixando-a no mesmo lugar onde busquei. Não existia assunto entre a gente, o oposto que rolava com a Júlia. Todas as vezes que a gente se via, um olhava para a cara do outro sem ao menos saber o que dizer, por muitas vezes eu jurei que aquilo era amor, mas depois de um tempo percebi que era realmente uma perfeita estranha pra mim. Tudo que poderíamos fazer aquela noite, já havia acontecido. Não existiam mais motivos para continuar com aquele encontro.

Enquanto voltava para casa, deixei os vidros do carro abertos para sair o cheiro dela, sentia falta da Júlia. Meus olhos encheram de água e jurava que era poeira que entrava pela janela. Parei no encostamento quando percebi que não conseguia mais enxergar. Eu que mal chorava, estava ali me derramando em lágrimas por algum motivo que nem eu mesmo entendia.

Sentia-me culpado, mais do que isso, me sentia um lixo.

Mas tudo isso aconteceu por eu estar cansado demais de suas loucuras. 

Entre o Amor e a Loucura.Onde histórias criam vida. Descubra agora