Tudo começou na terceira vez em que ela me chamou pra conversar em sua casa. Ao chegar lá, ela estava sentada em sua cama folheando uma revista qualquer. Sabia que ela não conseguia prestar atenção em nada que estava ali. Dava pra ver minha imagem flutuando em sua cabeça. Ela abaixou a revista e me olhou com uma expressão muito séria.
- Estou perdendo minha juventude ao seu lado. – ela falou sem ao menos gaguejar.
Fiquei olhando paralisado para seu rosto delicado. Seus olhos apagados mostravam o quão longe ela estava naquele momento.
- Eu te amo, mas to cansada de namorar. Quero sair, me divertir. Conhecer pessoas novas...
Ela continuava falando, mas parei de prestar atenção depois do “Eu te amo”. Alias, nada daquilo tinha a ver com esse sentimento, ela nem ao menos sabia o que isso representa. Fiquei parado e calado enquanto ela dizia mais palavras sem sentido algum.
- E eu não confio em você. – ela falou e eu ri da sua ingenuidade. – Todo tempo que você está aqui, suas intenções nunca são claras. E eu fico esperando uma ligação sua durante o dia todo, mesmo sabendo que não vai acontecer.
Aproximei-me dela e passei uma das minhas mãos em seu rosto. Buscava alguma verdade em seus olhos, já que era a única coisa que eu podia acreditar naquele momento. Seus olhos azuis ficaram escuros. Parecia realmente outra pessoa ali na minha frente. Parecia que haviam lhe roubado a alma. Olá, tem alguém ai dentro?
- Não irá dizer nada, Bernardo?
- Eu costumava pensar que você era única pra mim, mas apenas cansei de pensar.
- O que isso quer dizer?
- Quer dizer que você tem todo direito de fazer o que quiser.
Júlia deu um sorriso e a percebi mais relaxada. Comecei a achar que tudo não passava de uma ilusão.
- Porque você não vai embora? – Ela falou quando resolvi tirar os sapatos e sentar na sua cama.
Foi quando aquela visão ficou clara para mim. Ela sabe que quer que eu fique, mas tá me forçando a ir embora. Escuto-a chorar. Se ela tivesse tanta certeza que era isso que ela queria, porque chora ao me mandar embora? Lembro-me de todas as promessas e juras de amor que já havia lhe dado, mas naquele momento eu percebi que ela nunca ouviu nenhuma daquelas palavras.
Levantei da cama e fui na sua direção.
- Isso mata? Queima? É doloroso pra você? É excitante? O que você sente ao dizer adeus? É prazeroso estar no controle?
Ela permaneceu calada. Aproximei-me mais.
- Você lembra o quanto era apaixonada por mim? – falei me aproximando mais. – Você se lembra o que sentia quando eu te tocava? – passei a mão pela sua nuca puxando seus cabelos para trás. Ela fecha os olhos e eu beijo seu pescoço, a sinto arrepiar. – Porque eu me lembro muito bem. – Começo a sussurrar em seu ouvido. – Quando eu for embora, e você resolver deixar alguém entrar, te dará tudo o que eu dei pra você. Mas quando deitar na sua cama a noite, você desejará que eu esteja lá, pelo menos uns dois minutinhos, não é?
- Por favor, vá embora. – ela falou se soltando dos meus braços.
Dei um passo para trás e calcei meus sapatos de novo. Resmunguei palavras de como ela era louca e fui embora.
Sai de sua casa um pouco atordoado com a conversa. Ela nunca mais voltaria pra mim, isso eu tinha certeza. Nunca pensei que seria assim que as coisas aconteceriam, quando as coisas começarem a piorar para o lado dela, ela irá entender quando eu quis dizer quando eu disse para não desistirmos um do outro. Ela pegou minha mão apenas para devolver ao mundo, nenhuma outra pessoa apaixonada teria feito algo parecido. Tava difícil respirar.
- Peguei o telefone e disquei seu numero, ao cair na caixa postal, eu falei em quase um berro:
- Estou ligando pra você saber que eu estou cansado de você!
Naquele momento jurei para mim mesmo que nunca mais voltaria com ela.
Mas voltei... Todas às vezes eu voltei.