E foi assim que começou.

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Um mundo feio.

Um mundo onde não se existe nada que possa me fazer querer ficar viva, ou pelo menos era isso o que eu achava até eles aparecerem na minha vida. Eles me deram uma razão para lutar, e eu pude enfim perceber o motivo de eu ter nascido.

Tudo começou com a chuva.

Era um dia de tempestade e eu estava olhando pela janela. Sempre gostei de ver a forma que as gotas caem do céu e lavam a alma. Tudo estava em paz até que Josh, meu pai, começou a discutir com Margareth, minha mãe. Essas brigas sempre me deixam tristes, então para evitar ouvir os xingamentos e coisas sendo arremessadas contra a parede, eu simplesmente peguei minha jaqueta e saí de casa.

Fiquei andando sem rumo pela cidade. Minhas roupas estavam ensopadas. Tinha água até dentro das minhas botas, mas apenas continuei seguindo em frente. E então eu avistei um lugar que eu nunca havia ido antes. Todas aquelas árvores me chamaram a atenção de uma forma que eu não sei explicar. E apesar de todas as circunstancias dizendo para não correr o risco, eu fui assim mesmo. Entrei na floresta até então desconhecida por mim, e apesar de não ter consciência deste fato, ali naquele momento eu selava o meu destino. Minha vida mudaria para sempre. Eu nunca mais sairia daquela floresta, pois a floresta estava dentro de mim.

Pisei nas folhas secas da solidão e alguns galhos estalaram, flores desabrocharam e a chuva parou. Senti uma coisa estranha subindo por minha garganta, e depois percebi que eu estava gritando.

Um vulto passou por entre as árvores e de alguma forma eu sabia que estava em perigo. Corri, e mesmo sem olhar para trás eu sabia que ele estava me seguindo.

Minhas pernas pareciam pesadas como se tivesse concreto nelas. Meu corpo inteiro doía e eu já não aguentava mais correr. A coisa estava se aproximando cada vez mais de mim. Meu coração estava tão acelerado que nem parecia estar batendo.

De repente minhas pernas já não me obedeciam, e eu caí ao chão. Tentei reunir forças, mas não consegui me levantar.

A coisa se aproximava, e quando olhei para meu perseguidor percebi que ele era peludo como um cachorro cinzento, grande como um cavalo, e rápido como nada que eu já tivesse visto antes. Ele estava vindo velozmente em minha direção com seus imensos dentes prontos para me dilacerar.

O imenso lobo pulou em cima das minhas pernas e eu pude ouvir meus ossos se quebrando. Gritos de dor saíam involuntariamente da minha boca. Eu olhei dentro dos olhos dele e vi um bilhão de pequenas cores que se fundiram entre si, reluziram, piscaram e embaralharam minha mente fraca, mas apesar disso eu não consegui desviar o olhar. Era como se ele estivesse me hipnotizando.

Tentei fechar minhas pálpebras para não ter que ver a fera tirando minha existência de órbita, mas não consegui. O predador então enfiou sua pata em meu peito e eu senti meu sangue se esvair. Esperei pela morte, mas ela nunca veio. Algo empurrou o lobo para longe de mim.

Vi um homem se chocando contra a fera no ar. Os dois corpos se bateram numa velocidade incalculável, e depois disso eu não ouvi mais nada. Alguém ligou o botão de mudo na minha cabeça.

***

Tudo o que eu sou era um completo vazio.

Abri os olhos e vi apenas escuridão. Era como se Deus tivesse posto uma cortina no sol.

Ouvi passos, alguém estava se aproximando.

- Acho que ela acordou. - disse uma voz desconhecida.

Logo em seguida a luz do cômodo foi acesa. Vi um homem pálido, cabelos negros e lábios bem vermelhos em contraste com a pele branca. Ele parecia a Branca de Neve versão masculina.

Eu Sou A ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora