I: Train

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Era novembro. E como sempre, todos os anos, na casa de Anne Styles era sempre a mesma coisa. O cheiro de biscoitos saindo do forno parava no ar.

Estava quente, claro. A temperatura ambiente surpreendentemente agradável na sala de visitas. Morno e suave. A sala de estar completamente envolvida na mistura entre as fragrâncias da colônia para casa que Anne tinha se disposto a comprar duas semanas atrás, em um típico supermercado de esquina da cidade e os famosos cookies de chocolate com pingos de caramelo. Isso contrastava com o tempo frio e úmido, típico do final de outono. Doncaster era a mesma todos os anos. Cheirava como lar.

O cheiro de comida quentinha era sinônimo de casa para os quatro moradores da casa.

Anne tinha se casado com um homem bom e carinhoso. Rob dividia seu tempo entre os dois filhos e um trabalho de meio turno que ele absolutamente amava.

Anne não poderia amar mais seus meninos; sua princesa de cabelos castanhos humorista e olhos verdes e a pequena bolinha de covinhas que era Harry com seus dois anos de idade.

A mulher de cabelos cumpridos não acreditava que seus bebês já tinham crescido. Gemma completava onze anos, enquanto Harry já tinha os dez anos necessários para andar de trem sozinho pela primeira vez. Ela não poderia estar mais orgulhosa de seus pequenos.

— Harry, vá buscar os biscoitos! Eles vão queimar, seu tonto! - a mãe diz rindo para o garoto de cachos embaralhados em um nó cego.

Anne tinha desistido de pentear os cachos rebeldes com o passar dos anos. Harry se recusava a parar o complicado desafio de esconder as bonecas de Gemma entre as almofadas do sofá, antes que a mesma soubesse da represália do irmãozinho.

Harry preferia que ela não soubesse dos planos dele de matar as bonecas asfixiadas, já que a irmã tinha destruído toda a sua coleção de pétalas de flores secas. Harry estava completando a vigésima página de seu álbum de colecionador quando Gemma teve a brilhante ideia de jogar as flores fora porque estavam secas e "não serviam mais". Harry ainda pensava sobre como mandar a irmã para o Japão sem que a mãe desconfiasse disso.

— Harry! - ralha a mulher de olhos tão verdes quanto os do filho, cruzando os braços em pé enquanto encara o garoto de dez anos com as mãos enfiadas entre as almofadas

— M-mas mãe.. Eu estou ocupado!- ele levanta os olhos verdes, pedinte, tentando retrucar e continuar seu plano elaborado.

— Sem "mas", Harry. Vai buscar os biscoitos, ou você pode esquecer de me ajudar a decorar os biscoitos - ela diz, posicionando ambas as mãos no quadril, mandona.

Ele revira os olhos claros, antes da mãe o repreender com um olhar duas vezes mais severo, que logo faz o castanho se levantar e caminhar contra vontade para a cozinha, sem encarar a mãe diretamente, que ainda ao encarava com os braços cruzados enquanto ele fazia o caminho até o cômodo.

Harry coça os cachos bagunçados, resmungando para ele mesmo enquanto os olhos sonolentos vagueiam pela cozinha branca é perfeitamente limpa de sua mãe até achar a luva pequena de forno.

— Harry, você vai perder o trem - repreende a voz da mãe ainda a alguns cômodos de distância.

Harry cata as luvas com rapidez, as vestindo e abrindo o forno, antes de abrir o forno e retirar a a bandeja cumprida, repleta com os biscoitos escuros com pintas de caramelo. Ele fecha os olhinhos verdes, respirando profundamente o cheiro forte de chocolate ao leite, que se espalhava na casa como um aromatizante natural.

— Parece perfeito, mãe - ele diz, mais baixo, sorrindo ao fazer força com as mãozinhas brancas, cobertas pelo pano grosso das luvas vermelhas, ao carregar a bandeja de ferro até a pia da cozinha para que pudesse retirar os biscoitos.

CIANO | L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora