Saudades

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Dizem que adolescentes são naturalmente entediados, e cheios de problemas existenciais, e eu sem duvida não era uma representante caricata da juventude, mas sem duvida tinha meus problemas, e vários momentos de tédio. Mas é preciso entender que existem mesmo dias, em que tudo que desejamos é um colo, um carinho, entretanto é muito difícil se conseguir um consolo sincero em momentos que nem mesmo você sabe o que procurar dentro de si, então normalmente nós preferimos simplesmente ficar sozinhos, e emergidos em nossos pensamentos. E isso é comum tanto aos adolescentes, quanto aos adultos, mas na adolescência tudo parece extremamente maximizado, e falando sério eu estava exatamente em um dia destes, e as coisas que povoavam minha mente pareciam a mim gigantescas, e muito pesadas, tanto que embora alguém pudesse considerar muito egoísmo de minha parte, a verdade é que eu não me importaria se naquele momento o mundo explodisse de uma só vez, e toda aquela afetação, e incompreensão das pessoas a minha volta acabasse definitivamente.

Era uma noite de chuvosa, típica do verão, e eu já me preparava para dormir o mais rápido possível, afinal talvez isso tivesse algum efeito bom, e quando eu acordasse tudo estivesse diferente, e com sorte a aflição no meu peito também não existisse mais. Nessa noite eu estava sozinha em casa, com meu irmão mais novo, que ainda era um bebê, e que estava dormindo em seu quarto, então tinha passado algum tempo diante do computador fazendo coisas aleatórias, e sem importância, mas já estava pronta para desligar a maquina quando uma janela de bate-papo começou a piscar insistentemente me chamando a atenção para o monitor. Eu não estava com nenhuma vontade de continuar na frente do computador, mas decidi ver quem estava chamando, e era o menino, que na noite anterior havia agradecido por ter sua solicitação aceita. Aquele não era o melhor momento para conversa, ainda mais que nem mesmo sabia quem era o garoto, e sua foto de perfil também não ajudava muito, era somente o brasão do time São Paulo Futebol Clube.

-Boa noite- dizia o texto. Rapidamente digitei uma breve mensagem em resposta, com as mesmas palavras.

-Tudo bem?- o cursor piscava a espera de uma resposta minha.

-Tudo sim, e contigo?- Menti, afinal era apenas um desconhecido e não precisava saber o que se passava comigo. Após uma pequena conversa virtual de aproximadamente trinta minutos, e a troca algumas informações, onde eu soube seu nome, idade, signo, hobbies, etc. Descobri que tínhamos algumas coisas em comum, embora fossem pouquíssimas e sem importância. O papo estava bom, fluía normalmente, confesso que me parecia ser diferente dos demais garotos que eu conhecia talvez aquele menino fosse um bom amigo futuramente, afinal, eu sempre preferi amizades masculinas. Apesar de conhecer muitas garotas legais, eu não tinha uma total confiança, meninas geralmente procuram ter uma rivalidade ou superioridade, claro que não são todos os casos, mas eu como garota sabia disso como ninguém.

Quando a conversa chegou no assunto sobre as cidades que morávamos, já que eu era do interior e ele da capital, foi quando eu fui surpreendida por uma mensagem.

-Olá, é a namorada do Pedro aqui. - naquele momento paralisei, há quanto tempo a tal namorada estava analisando a nossa conversa? Apesar de ser uma conversa normal isso era uma falta de respeito, afinal ele nem havia dito que tinha namorada. Simplesmente respondi.

-Boa noite, namorada do Pedro. - O menino prosseguiu o assunto, talvez não tivesse visto as mensagens, ou talvez tivesse fingido que não viu. Resolvi esquecer a mensagem da moça, e afinal eu estava apenas conversando com o menino, e era ele quem havia me chamado.

O relógio já marcava vinte e três horas, decidi ir dormir, meus olhos estavam cansados, afinal era sexta-feira, e a semana não havia sido tão fácil quanto eu esperava. Apenas desejei uma boa noite ao menino e desliguei meu computador, sem ao menos esperar uma mensagem dele em resposta.

Antes de ir me deitar, fui até a cozinha e preparei um copo com leite morno e um pouco de melado, era um costume que eu havia aprendido com meu pai, ele sempre preparava, quando eu tinha insônia ou pesadelos, em poucos instantes bebi a mistura, ali mesmo na cozinha, e fui ao meu quarto, terminar minha preparação para dormir, quando vestia meu pijama um choro baixo cortou o silêncio, rapidamente terminei de vestir o pijama e me dirigi ao quarto ao lado. O quarto tinha as paredes pintadas na cor azul bebê, e eu o tinha decorado com todo cuidado, naquela hora o lugar estava iluminado apenas por um pequeno abajur branco, e no berço, na parede oposta à porta estava o meu anjinho, deitado, com os pequenos e estreitos olhos castanhos abertos, esperando por mim.

-Tatá- Falou ele. Instintivamente retirei-o do berço e o tive em meus braços, eu simplesmente adorava tê-lo junto a mim, então o levei para dormir comigo. Apesar de meu irmãozinho ter apenas dois anos, já era uma das pessoas que me fazia sentir confortável em todo mundo. E como era noite de plantão de minha mãe, no trabalho, então seriamos apenas nós dois, protegendo um ao outro, e aquele garotinho era tudo que mais me importava no mundo, e junto a mim rapidamente ele adormeceu, e novamente o silêncio voltou a reinar ali, e apesar de eu estar muito cansada, e me esforçar muito, o sono insistia em não vir. E os pensamentos voavam minha mente, e eu fiquei tentando manter os melhores em destaque, e de repente comecei a sentir um aperto no peito, era a saudade me invadindo mais uma vez, por conta da enorme falta que sentia de meu pai. Ele que sempre foi o meu grande herói, e era difícil ver nossas fotos em porta retratos e saber que ele estava distante há dois dias, embora pudesse parecer pouco tempo às outras pessoas, para mim parecia uma eternidade, mas entendia que era preciso ele estar longe de mim.

Algumas lágrimas brotavam dos meus olhos esverdeados, e eu as deixei rolar sobre minha face, levemente meus olhos foram se fechando e adormeci.

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⏰ Última atualização: Feb 03, 2017 ⏰

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