A chuva

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Os olhos cor de perola abriram lentamente tentando se acostumar com a claridade vinda da janela, Tara se mexeu com alguma dificuldade sobre a poltrona percebendo que cada músculo do seu corpo estava dolorido, mas naquele momento a moça não estava prestando muita atenção aquele incomodo, estava tentando se lembrar do sonho que havia tido na noite anterior. Havia sonhado com seu pai, com o feudo na época em que era ainda apenas uma garotinha e seu pai era gentil e amoroso.

A moça suspirou placidamente e se espreguiçou, às vezes sonhos podiam ser tão deprimentes, ela devia estar sentindo-se feliz aquela manhã. Finalmente estaria voltando para casa.

A porta do banheiro se abriu e Akira saiu de lá de dentro vestido impecavelmente com seu quimono azul marinho, a barba havia sido feita, as olheiras embaixo dos olhos cor de ônix eram quase invisíveis, ele parecia estar muito bem ele notou Tara. Como se nada na noite anterior lhe tivesse acontecido.

- Eu já pedi o café - informou o moreno casualmente - logo às criadas viram lhe ajudar a se vestir, eu preciso resolver alguns assunto antes de partirmos.

Tara concordou com um meneio de cabeça sorrindo, estava feliz por estar voltando para o feudo, não via a hora de rever sua sensei, sua irmã caçula, e o lugar que mais amava em todo mundo.

Akira saiu do quarto rapidamente, e logo em seguida duas mulheres de meia idade apareceram e silenciosamente começaram a ajudar Tara nos preparativos para a viagem. Enquanto a primeira preparava a bagagem a segunda lhe ajudava com o banho, a moça de orbes prateados reparou que sua mala estava repleta de quimonos lindíssimos, casacos e outras peças de roupas finas, coisas que ela não havia trazido, consigo do feudo, já que todas suas roupas haviam sido confiscadas pelos mercenários da M.A.P na invasão. Sentiu suas faces ficarem vermelhas lembrando-se que Akira havia comprado todas aquelas roupas para ela... Roupas que em nada pareciam pertencer a uma simples serva.

As mãos ágeis da criada terminaram o serviço de banho e logo a mulher já estava ajudando-a se vestir, o quimono escolhido era de um verde-escuro, como uma folha banhada pela luz do sol, o cabelo da moça de orbes prateados foi trançado para trás com fitas também verdes que lhe ornavam perfeitamente com a roupa.

O delicioso café da manhã foi servido na mesa que ficava em frente à lareira, mas Tara o recusou, estava tão ansiosa que sabia que não conseguiria engolir nada. Dispensou as criadas que deixaram o quarto arrumado e logo depois saíram em silencio. Pela janela Tara admirou pela ultima vez a Hamura, de alguma forma iria sentir saudade daquela paisagem sempre coberta pelo branco, da quietude onipresente do inverno, e do ameno e raro sol que deixava o lugar banhado por uma luz ofuscante e bela.

A porta do quarto abriu-se e, Akira entrou carregando junto consigo alguns flocos de neve que haviam ficado presos em seus cabelos negros e rebeldes.

- Você está pronta? - perguntou.

- Sim, já está tudo pronto. - respondeu a moça.

Os olhos cor de ônix percorreram o comodo como se especulasse se nada havia sido esquecido.

- Então vamos, pedirei os empregados que tragam nossa bagagem.

Tara acompanhou Akira, caminhando pela ultima vez pelo corredor de mármore daquela casa, que era um dos esconderijos da M.A.P. Nenhum empregado veio se despedir deles, apenas dois homens os seguiram carregando suas poucas bagagens.

Lá fora o dia estava especialmente frio, a neve caia de forma preguiçosa e durante alguns segundos a moça ficou encantada olhando o bailar dos flocos no céu branco.

- Tara venha - chamou a voz do mercenário tirando a moça de seu devaneio.

Porem os olhos cor de perola se arregalaram quando viram qual seria a sua condução para fora da vila. Akira estava parado em frente a um trenó feito de madeira, parecia ser grande e robusto, era puxado por quatro cachorros que mais pareciam lobos, seus pelos eram espessos e variavam do negro, passando pelo castanho, até chegar ao bege claro.

Desejo cruelOnde histórias criam vida. Descubra agora