9 - O Confronto final

45 10 0
                                    

Sim, penetrar no futuro era como executar uma coreografia, a batalha havia sido uma das mais longas e violentas. Milhares se chocaram até que Öfinnel e os Deuses pudessem chegar à borda da passagem que levava à dimensão dos abissais. Mas então, Öfinnel hesitou. Em sua visão, diante de si, era o momento em que deveria encontrar-se com Arcanael. Era a segunda surpresa daquele dia.

— Eliarta? — sua voz soou rouca e cansada.

— Largue a espada, Öfinnel. Largue e teremos uma chance juntos. — Ela ergueu uma anel e dele uma energia projetou-se na forma de uma bolha que isolou-os do restante da batalha. Podiam ver, como através de um vidro fosco, o que acontecia lá fora, mas nenhum vinha de lá. Ela tinha o olhar um pouco cansado, vestia alguns farrapos, mas continuava tão bela quanto antes.

— Que truque é esse? Eu a vi morrer. Não é possível!

— Sou eu, eu renasci. Meu espírito habita um novo corpo. — Ela correu para abraçá-lo.

— Não! Isto é um truque! — apontou a espada com convicção e ela parou a dois passos dele.

— Não é um engodo. — disse Arcanael.

Ele penetrou no círculo de proteção. Tinha a forma de um homem, musculoso, com um rosto belo e liso. Mas seus dentes caninos eram ligeiramente longos e afiados. Vestia uma blusa branca e folgada, calças escuras e pés descalços. Suas roupas não combinavam com o que se vestia num campo de batalha. Trazia na mão esquerda uma espada escura e pesada que gemia ao ser arrastada pelo chão.

— Afastem-se! Afastem-se os dois! — ele ameaçou com nervosismo. Novamente a previsão do futuro havia se quebrado.

— Eu só quero facilitar as coisas para você, rei dos hölmos.

— O metal estrelar será a única coisa que terá de mim. — Öfinnel pôs o pé à frente, ergueu a espada sobre a cabeça assumindo uma postura de ataque.

Arcanael sorriu — Muito bem, então vamos dançar.

Eliarta correu para se proteger atrás de Öfinnel, mas ele impediu seu avanço. Não confiava nela. Ele estava certo, pois, em seguida, ela saltou sobre ele como um gato. Sua face transfigurou-se e uma boca cheia de dentes finos como alfinetes ameaçou-o. A espada partiu-a em dois e sob a chuva de seu sangue escuro Öfinnel reergueu a espada para aparar o golpe de Arcanael.

No instante seguinte, o rei cravou a espada no peito do inimigo. Ela tremeu. Havia sido fácil demais. O sangue do corpo de Arcanael começou a ferver, mas ele agarrou Öfinnel pelos ombros e disse.

— Foi muito fácil, não? A guerra chegou ao seu fim. Mas eu consegui o que queria.

Ele tirou a espada de dentro de seu corpo. O metal estava trincado. Das rachaduras uma luz verde e forte começou a escorrer.

— Essa espada, poderia me destruir em meu lar. Mas aqui, apenas meu corpo físico será afetado. Então, na próxima vez, será diferente. Afinal, o que são uns poucos milênios para um ser imortal?

Öfinnel olhava-o sem saber o que dizer. Foi quando o braço e a mão esquerda de Arcanael de distorceram. Os dedos, agora alongados como dardos envolveram a cintura de Öfinnel. Seu corpo foi atirado para trás com força incrível. Ele girou várias vezes no ar até cair na fenda: o portal que levava ao abismo.

Arcanael envolveu a espada com as duas mãos, sorriu e uma grande explosão tomou todo campo de batalha. Um enorme cogumelo de luz e calor ceifou a vida daqueles que ainda lutavam na região.

Öfinnel girou enquanto caia e caia para dentro do abismo. Ele não estava só. Milhares de essências demoníacas desciam com ele. E no meio destas, alguns pontos luminosos. Os deuses desciam ao abismo determinados a cumprir seu propósito e deixavam para trás, a terra ferida pela longa guerra. As fendas abissais foram se fechando deixando quatro cicatrizes latejantes desenhadas no relevo daquele continente. 



Öfinnel. Rei. Vidente. Guerreiro. Lenda.Onde histórias criam vida. Descubra agora