Irresistível

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Thábata, a mais bonita da sala, tinha tudo a seus pés: as melhores amigas, os melhores garotos, os melhores vestidos. Não precisava prestar atenção aos apontamentos porque seu charme por si só conseguia todas as respostas. Não, não era a mais inteligente, porém, a mais queridinha da família. Quem se importa com baboseiras saídas de uma boca tão bonita? E aqueles olhos tão lindos te seduzindo por mais uma casquinha de sorvete?

Aos doze já tinha um corpo de moça. A cidadezinha quase toda já sabia de cor quantos beijos em caras diferentes ela soubera dar tão bem. Em alguns anos a recuperação final era irrecusável, mas não tinha problema. Thabata sempre foi boa aluna e a família toda ignorava as reclamações da escola sobre conversas paralelas. "Para que preciso de um bom histórico escolar se eu posso simplesmente me formar e encontrar um marido rico?", foi que ela disse no fim da aula de história. Esse era seu maior objetivo na vida, luxo, alguém rico para te sustentar e mais luxo.

Tão linda, tão jovem e tão manipuladora. Ninguém se importava realmente se algumas de suas primas menos abençoadas fossem tratadas com desprezo. A mais velha sempre merece mais, não é? Entre as primas não poderia haver um vestido mais bonito, e, se alguma ousasse ser presenteada por algo mais belo, lá estava ela, pedindo emprestado com toda delicadeza para nunca mais devolver. E qual adulto iria se importar? Aquela menininha que todos viram crescer, cruel? Não seja tão invejosa, querida!

Ocasionalmente até poderia parecer simpática e amável com os que a odiavam com todas as forças. Presas as suas garras malignas, acabaram se decepcionando depois. Em tudo não havia o menor interesse altruísta e era uma miséria se decepcionar mais uma vez. Como alguém tão inofensiva pode fazer tanto estrago? A dor de descobrir ter sido manipulado nunca será a mais leve, porque ninguém acreditaria que ela pode ser tão mortal quanto uma cobra.

Aos vinte se casa pela primeira vez, porque se diz inteligente demais para deixar um homem bonito e rico solto por aí. O primeiro filho vem trazendo mais enxurradas de mimos que as outras primas sequer um dia receberão. Segundo, terceiro, quarto marido e ela vê sua juventude indo aos poucos, junto a homens que finalmente perceberam e não aguentaram seu veneno fatal. Seus filhos se tornam tão egoísta quanto ela. Os parentes? Ah, os parentes em sua maioria se cansaram dos seus jogos. O grande amor de sua vida, que muitas vezes foi trocado por outros endinheirados, se cansou de ser rejeitado.

Um dia ela acorda, toma banho e se olha no espelho. Não há filhos em casa, não há amor em sua vida e não há vestígios de beleza. Assim como uma bela rosa um dia murcha no fim de sua vida, ela já não pode contar com o que a tornava mais notável. Ela está sozinha e não há um que a possa ajudar, os que um dia a defenderam foram vencidos pelo tempo, mortos a sete palmos do chão.

Thábata está acabada e sozinha, e não vai ser uma simples piscadela sensual que irá trazer tudo de volta a seus pés.


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