1° C. Surpresa

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Saímos do consultório com aquela maldita notícia, e eu, uma menina bem sucedida com câncer de cólon. Já não sabia o que dizer pra aliviar a dor de minha mãe, mas algo deveria ser dito.

- Espera mãe, não é pra tanto. Irei me cuidar - Até parece que não é pra tanto, estou pra morrer. As paredes nesse hospital é tudo tão depressivo, porque não por cores vivas?
- Como não é pra tanto, Savannah? - Ela mal conseguia falar de tanto soluçar. Meus avós adotaram minha mãe como Medusa, ela sempre odiou esse nome, já eu, eu amo esse nome.
- O mundo não acabou mamãe, e você não ficará sozinha, tem minha irmã e o papai - Como vou fazer pra dar essa notícia pra minha irmã Ísis, e o papai? O Sr. Taylor vai enlouquecer - Vem, vamos.

Voltamos pra casa e eu fui me deitar, o tempo nunca esteve tão nublado. Naquele momento, eu estava sozinha, me sentia fria e sem fé. Era como se eu fosse uma ilha esquecida do mapa, porém alí, naquele momento eu me sentia totalmente esquecida por Deus. Aquele peso nas costas da dor que vou deixar no coração parecia que iria me matar cada vez mais rápido, e alí eu chorei, feito uma criança. Adormeci logo depois, acordei com o meu pai encostado na porta.

- Faz tempo que você está aí? -O olhar dele estava me dando agonia.
- Não sei, você parece com sua mãe dormindo - Pude ver um sorriso brotar em seu rosto mas logo foi embora.
- Então estou bem, mamãe é uma dama dormindo.
- As vezes - Ele riu e se sentou do meu lado me puxando pra um abraço de urso e ficamos alí, abraçados, até minha irmã aparecer chorando. Ísis sempre foi a mais sentimental da família, doce e querida.
- Fala que é mentira!! - Havia dor em seus olhos.
- Nem tudo é um mar de rosas Ísis, acidentes acontecem, faz parte da vida.
- Cala a boca. Você não pode morrer, não pode fazer isso com a gente, não é justo!! - Me levantei rapidamente e à abracei forte, como se fosse final de ano. Estava agradecendo em pensamento por ter aquele abraço. Depois de tantos choros, fui me deitar. Tentei apagar tudo aquilo dos meus
pensamentos e com muito custo peguei no sono.

Acordei e a famosa "bad" não parava de bater em minha porta. Precisando de algo pra esquecer os problemas eu saí pra correr e logo dou de cara com Théo. Lá estava ele, aquela camisa estava um pouco colada por causa de seu suor, dava pra ver perfeitamente aquele peitoral musculoso.

- Não se cansa de tentar emagrecer, Savannah? - Sorriu debochado. Tentar emagrecer? Eu estou parecida com um palito de dente de tão magra.
- Não me canso de ser linda, isso jamais - Falei começando a correr.
- Você mudou muito, lembro até hoje daquela dentuça me pedindo uns beijinhos - Disse se aproximando e correndo ao meu lado.
- Sou linda, não louca.
- Eu e a Sara terminamos, está sabendo? Bem que poderíamos sair qualquer dia desses.
- Não cansa de ser galinha?
- Não se der certo.
- Então por favor, para.
- Sai comigo, que eu paro.
- Isso não vai funcionar, tenho mais o que fazer, mesmo assim... Obrigado. - Sorri irônica. Naquele momento me senti uma dor forte na barriga e caí. Théo estava me examinando atentamente com aqueles olhos azuis intensos.
- Você não se alimentou quando antes de sair de casa? - Passou a mão sobre o meu rosto
- Não - Menti.
- Se sente melhor?
- Acho que sim - Eu estava assustada, não acredito que caí alí no meio da rua.
- Então já posso te beijar, você parece tão indefesa aqui no chão -
Percebi que ele estava aproximando aqueles lábios carnudos dos meus e sem pensar tomei a iniciativa de empurra sua cabeça e levantar.
- Não se pode abusar de meninas indefesas. Tenho mais o que fazer, de qualquer forma... Obrigado! - Saí dalí e ele continou sem dizer absolutamente nada. Cheguei em casa minha irmã estava fazendo comida, ou pelo menos tentando.
- Olha só quem está praticando - Sorri.
- Não posso ser péssima na cozinha pra sempre né - riu.
- Não, não pode. Oque temos pra hoje? - Levantei uma das tampas panelas.
- Surpresa. Saia daqui imediatamente! - Ri e saí de fininho de lá. Assisti um programa de fidelidade na TV e rapidamente peguei no sono.
- Acorda - Senti alguém me cutucar. Era uma voz feminina, porém eu estava cansada demais pra reconhecer a voz e abrir os olhos.
- Me deixa dormir - Resmunguei.
- Isso não é hora de puta dormir -- Abri meus olhos com muito custo e quando vi era Amora, a pessoa mais confiável e a maior companheira que já conheci em toda minha vida. Amora foi sempre muito meiga, era um pouco mais baixa que eu, isso fazia com que ela ficasse mais linda - Quando iria me avisar? - O seu tom de voz mudou na hora.
- Por favor, não chora.
- Não vou chorar, afinal, você ainda está aqui. Só não sei oque eu posso fazer... - Bem naquele momento ela quebrou sua palavra de quando disse que não ia chorar - não estou conseguindo me imaginar sem você - E finalmente ela caiu no choro.
- Você vai conseguir sim, assim como conseguiu esquecer aqueles babacas que te magoou.
-- Babacas não merecem uma lágrima minha, mas a minha amiga sim. - Nos abraçamos e acabou que também acabei caindo no choro com ela. Chegou a noite e a receita misteriosa da minha irmã estava pronta. Finalmente!!
- Vamos comer!!!! - Gritou Ísis.

Colocamos nossas comidas, estava com uma cara ótima, eu mal podia esperar pra experimentar. Meu pai e até a Amora não parava de elogiar minha irmã. Era um rocambole de carne, assim como todos na mesa dei a minha primeira garfada e comi. Ficamos todos em silêncio, eu podia ver perfeitamente meu pai fazendo uma cara negativa sobre o prato.

- Acho que exagerei no sal - Disse Ísis quebrando o silêncio
- Pizza portuguesa ou calabresa? - Disse Amora
- Dá pra comer gente - Minha mãe como sempre tentando agradar.
- Calabresa - Obrigado papai!!

Agradeci em pensamentos por minha irmã ter levado tudo na esportiva, sei que ela fez isso pra me agradar. Cozinha e Ísis nunca foram uma boa combinação, mas enfim... Nunca se é tarde para aprender. Depois de pedirmos a pizza, comemos e logo em seguida fui dormir.

Presa ao fimOnde histórias criam vida. Descubra agora