Capítulo 2

154 4 0
                                    

Acordo e vejo o relógio de parede marcando 22 horas , eu dormi tanto que me sinto disposta a andar me aventurando pelas terras do condomínio . Era moderno e tinha casas enormes, luxuosas e com donos ricos . Meu pai adquiriu essas terras quando viemos da Itália para o Brasil . Ele começou alugando casas para pequenos empregados que trabalhavam nas redondezas e depois investiu em casas luxuosas que eram avaliadas em milhões de reais. Vou até o lago , ele tem por volta de 7 metros de diâmetro. Sento na grama e observo o quanto o céu brilha naquela noite. Eu me perco em pensamentos, sobre o hoje e o futuro . Até quando conseguirei ser apenas a melhor bailarina da Universidade? Qual será o momento que me tornarei uma CEO e serei apenas uma mulher de negócios ? Como vou fazer para ser eu mesma em um mundo onde o lucro é o que importa ?

Depois de ficar perdida em pensamentos , resolvo voltar ao meu lar aconchegante. Minha mãe mandou construir essa casa cercada de árvores para guardar coisas de jardinagem e equipamentos que os trabalhadores precisavam para cuidar do lago e dos jardins comuns do condomínio . Mas , na verdade, era o refúgio da minha mãe quando meu pai se drogava e agredia ela, fisicamente ou emocionalmente, às vezes...ambos . Sim, minha mãe era agredida pelo meu pai de todas as formas, ele é um rolo compressor que não se importa em ter que esmagar a única mulher que o amou até banhada de sangue. Em todas as vezes, Eva chorava e eu tentava acalentar ela , me incapacitando de impedir as inúmeras agressões . Foram anos assim , meu pai se drogava, minha mãe era agredida e se refugiava em uma casa com cheiro de ferrugem de equipamentos . Eu e Eva ficávamos com a babá, mas por ser mais velha, eu sabia que nada estava bem, nunca esteve .

Ao entrar na minha pequena casa, lembro do dia que vi minha mãe ensanguentada, com hematomas e arranhões. Ela dizia que tinha caído no salão após rodopiar várias vezes, mas eu sabia que nada disso era real. O ferimento de sua testa era aparente e seus hematomas nos membros inferiores eram enormes ao ponto de deixar toda a sua perna com um tom roxo . Essa semana minha mãe se isolou na casinha de equipamentos, onde hoje eu me abrigo. Ela usava calças e camisas de manga comprida , além do chapéu que escondia o machucado na testa do lado direito da sua face angelical .

Balanço minha cabeça , afastando as lembranças dolorosas que aquele lugar me trazia . Ao olhar os cantos dos cômodos vejo que tudo é bem diferente do lugar cheio de equipamentos de alguns anos atrás. O espaço está preenchido por móveis simples e rústicos, mas ao mesmo tempo aconchegantes. Viver uma vida presa aos luxos , nos faz achar o simples muito mais bonito . Minha barriga avisa em um som assustador que eu devo comer . Começo a preparar uma macarronada com os poucos ingredientes que disponho na minha geladeira .

Nota mental: preciso ir ao supermercado .

Depois de cozinhar , comer e limpar tudo , me aconchego na minha cama de casal coberta por um edredom, extremamente branco e macio . Viro para o lado esquerdo da cama , depois o direito , continuo mudando de posição, fecho os olhos, abro os olhos . Mas meu pensamento só consegue imaginar em uma cadeira de couro e uma tonelada de papéis. Nunca quis fazer parte de uma empresa multinacional , muito menos da que destruiu a vida das pessoas que eu mais amava . Me nego a continuar pensando . Levanto em um segundo e decidi fazer o que mais amo: dançar. Visto minha legging e um casaco cropped, a noite parecia fria lá fora. Fecho a porta , passo pelas árvores e chego no salão. Depois de ligar todos os equipamentos e o ar condicionado, ligo o som . O toque envolvente de beautiful -Michael Morrone ecoa pelo salão espelhado . Não quero pensar em passos , apenas começo a flutuar , a deixar-me levar pela música e pela sapatilha que envolve meu pé . Até que nunca imaginei ver o que estou vendo .Quando olho na direção da porta , eu me surpreendo com um carro fumaçando muito. Me assusto e saio em direção ao veículo. Vejo de longe que o homem que está nele sangra e não está consciente.

O que fazer ? Chamo ajuda ? Mas não tem ninguém por aqui , nem trouxe meu celular. Maldita hora de sair de casa,Luna!

Sapatilhas da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora