"Vai, Alice. Clica!"
Era esse o pensamento que Alice, enquanto observava o perfil de Lennon Gallagher, filho de Liam Gallagher, no Instagram, estava tendo naquele exato instante. Por que ela não queria seguir ele? Bem, querer, ela queria.
Só não conseguia. Era só clicar, deixar o botão verde e pronto. Estaria automaticamente seguindo e acompanhando o dia a dia dele. Mas para ela, não era tão simples assim. Seria uma decisão rápida se ele não fosse o filho do seu ídolo, este, mais conhecido como o melhor frontman da melhor banda do mundo. Bem, pelo menos, era o que ela pensava. Ela e alguns milhões de pessoas.
Fã de Oasis há um bom tempo, a menina de catorze anos estava muito nervosa sobre seguir Lennon, garoto de dezesseis anos cujo nome foi inspirado pelo ídolo do pai. Não por seguir, mas por ele provavelmente clicar no perfil dela quando ela passasse a seguí-lo. Seu Instagram não é divulgado. É óbvio que se ela o seguisse, ele a notaria, e provavelmente iria checar seu perfil, somente por curiosidade.
Porém, é neste ponto em que ocorre o bloqueio mental em sua cabeça: e se ele rir do perfil dela? E se achar ela ridícula? E se ele printar o perfil dela, mandar pros amigos e escrever "olhem só a trouxa que acabou de me seguir no Instagram, hahaha"?
"Ai, que se danem as consequências!"
Esse foi o último pensamento de Alice ao clicar no botão "seguir". Estava um pouco nervosa, é claro. Mas agora já foi. Agora teria que dar o próximo passo: causar uma boa impressão. Logo em seguida, ela já desprivou sua conta. Do que adianta o menino clicar em seu perfil e não poder ver as fotos? Deixava sua conta privada por segurança, pois morria de medo de um estuprador pedófilo rastrear seu endereço e aparecer no portão da sua casa. Mas estamos falando de Lennon Gallagher, certo? Quem se importaria em encontrar Lennon Gallagher no portão da sua casa, aguardando ansiosamente a sua chegada?
Alice também não apagou suas fotos e substituiu por outras, porque seria uma coisa muito idiota a se fazer. Pra que esconder sua vida, e sua própria personalidade? Tinha algumas fotos de coisas da Oasis em sua galeria: discos, blusas, pôsteres, e claro, a maioria das legendas de suas fotos eram trechos de músicas do Oasis. Era uma fã incorrigível, fazer o quê?
Após a sua decisão, voltou a observar a conta de Lennon. Então, em uma das fotos, viu um comentário de uma certa conta, mais conhecida como genegrant. Gelou. Gene era o nome do outro filho de Liam, que, nas suas palavras, poderia ser descrito como "maravilhosamente maravilhoso". Ela clicou no nome mais rápido que um trovão, rolou a sua galeria e clicou no botão "seguir" sem nem pensar. Afinal, seu foco era Lennon, certo? Certo. Não teria problema algum em seguir seu irmão mais novo, que por coincidência, tinha a mesma idade que ela.
A menina voltou ao perfil de Lennon, e continuou a vegetar sobre suas fotos, e criar histórias onde Lennon e Alice viviam felizes juntos numa casa de campo no interior de Manchester, com dois filhos, recebendo visitas de toda a família Gallagher. Alguns podem dizer que isto chega a ser obsessão, mas é só amor.
Por fim, bloqueou seu celular, e olhou para os pôsteres de sua parede, os encarando. Os admirando. Fitou o rosto dos irmãos Gallagher, sorrindo um com o outro. Sofria muito com eles. Sofria muito com a banda. Sofria ainda mais com o fato de estarem separados. Desde 2009, o fatídico ano do fim da banda, estavam praticamente se falando apenas por educação. Sofria duplamente com o fato de a banda da sua vida ter acabado de uma maneira tão estúpida. Sofria triplamente com o fato de Noel falar mais de um zibilhão de vezes que não voltaria com a Oasis por nada. Apenas por uma pechincha de meio milhão de dólares.
Alice já até tinha pensado em uma solução para este pequeno capricho dele: poderia fazer uma vaquinha com todos os fãs de Oasis do planeta. Se cada um desse cinquenta reais, quem sabe, conseguiriam a quantia necessária para seu querido Noel aquietar?
Mas o que mais a intrigava era o fato de Noel não afirmar em hipótese alguma que sente falta do Liam. Que sente falta das conversas, brigas, risadas, piadas, e tudo que envolvia seu irmão. Alice sabia que Noel sente saudades de tudo isso. Sempre conseguia achar alguma brecha nas entrevistas que ele dava, quando fala sobre o Oasis, e de como ele se apaixona pela banda cada vez mais.
Sem dúvidas, ela sabia de tudo, tudo, tudo. E sabia que Noel é orgulhoso o suficiente para não admitir isso em rede pública. Sabia que se ele fizesse as pazes com o irmão, as coisas voltarem a ser como antes. Será que ele não consegue ver a quantidade de fãs que pagariam o preço que fosse para ver a Oasis mais uma vez? Será que não consegue ver que eles seriam muito mais felizes juntos? Bem, certas coisas são um mistério absoluto, e sempre serão.
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Três dias se passaram. Nenhum sinal de vida de Lennon, ou Gene. Alice estava indo para seu quarto, mexer um pouco no celular, e além de tudo, relaxar, pois às vezes, sua escola conseguia estressá-la de um modo bastante peculiar.
Sentou-se em sua cama, pegou o celular e começou a rolar o feed do seu Facebook. Enjoou. Entrou no Instagram. Nada demais. Entrou no perfil de Lennon de novo, e passou a observar as fotos novamente, e também reler os comentários que já tinha decorado. Estes últimos poderiam ser recitados por ela de trás para frente.
Ficou um pouco frustrada. Precisava ouvir música. Era sua terapia. Na verdade, não era música qualquer: era Oasis. Deixou seu celular na cama, com o Instagram aberto, foi até a sala e voltou com os seus bens mais preciosos na mão: os fones de ouvido.
Ao voltar, viu que havia algo estranho. Estava recebendo muitas notificações de curtidas, e os números da janelinha laranja não paravam de aumentar. Quando clicou, ela petrificou. O que estava acontecendo tinha nome, sobrenome e endereço: Lennon Gallagher. Ele simplesmente estava curtindo as suas fotos.
Não estava acreditando nisso. Só pensava nas seguintes perguntas: Como? Onde? Por quê?
Após ter ficado praticamente sem ar, as curtidas deram descanso. Mas o menino deu o baque final, pois não sentiu o mesmo sentimento que Alice sentiu ao seguí-lo: a seguiu sem pestanejar.
Após ter tido o que descreveria com toda a certeza do mundo como um ataque epilético, Alice recuperou suas forças. Porém elas foram derrubadas por outra pessoa, que por um acaso, compartilhava 25% de seu DNA com Lennon. Sim, estamos falando de genética aqui. Ou como alguns chamariam, GENEtica: seu celular acabava de lhe dar a seguinte notícia: "genegrant começou a seguir-te."
Se alguém, alguma vez, já tinha desejado para Alice uma morte lenta e dolorosa, esse pedido estava sendo atendido com muito êxito. Ficou sem entender: será que os dois estavam juntos naquela hora, e Lennon mostrou seu perfil pra ele? Será que Gene apenas viu no feed de notícias que Lennon a tinha seguido, e decidiu a seguir também? Alice logo imaginou que nunca saberia, mas não queria saber. A sensação era ótima, e era isso que importava.
Alice já estava com seu coração saindo pela boca, era muita informação de uma só vez. Percebeu que se não fosse tomar uma água, morreria ali mesmo, e tudo que a polícia encontraria seria seu corpo morto sobre a cama e seu celular caído no chão.
Foi até a cozinha de um modo certamente lento, pegou um copo d'água e bebeu todo o conteúdo em um só gole. Abriu novamente a garrafa, a inclinou para baixo, e repetiu a dose. Conseguiu se acalmar, e já não sentia mais seu coração na sua garganta. Voltou para o quarto.
Contudo, quando pensou que já tinha se recuperado, e tudo já havia acabado, tomou a atitude de reabrir seu Instagram, e instantaneamente sentiu sua pressão cair: havia um direct. Alguém tinha mandado um direct para ela. Clicou, e viu o user de Lennon. Sua visão ficou turva. Era uma imagem de Lennon e Gene fazendo pose, tirada naquele mesmo minuto, e na legenda, um pequeno "hi!". E agora?
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Gene And Tonic
FanfictionAlguns dizem que se algo é incerto ou aparentemente impossível, o melhor a se fazer é simplesmente pegar outro caminho. Outros, nasceram inclinados ao lado oposto, o lado que oferece dúvidas como nenhum outro. Alice Parreira é uma adolescente como q...